Nesse momento, o milho está escasso em Santa Catarina, no Brasil e no Mundo, atingindo o maior valor da história e colocou em alerta todo o setor.
A dimensão do problema pode ser avaliada pelo fato de SC, por exemplo, necessitar de cerca de 19.000 toneladas de milho por dia.
O presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) e diretor do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne), José Antônio Ribas Júnior, já concluiu que a indústria da carne não conseguirá repetir o excelente desempenho de 2020.
A situação deve se normalizar em 2022, mas 2021 será um ano difícil em razão do preço exorbitante dos insumos para a nutrição animal.
Os estoques da Conab estão baixos e o plantio da próxima safra está atrasado.
A previsão é de que na metade do ano haverá crise de desabastecimento.
AGRAVANTES
O milho está supervalorizado e não há indicação de que essas cotações possam recuar, o que representa uma situação de custos elevadíssimos.
Ele representa pelo menos 50% dos custos de produção de aves e suínos.
Com os atuais níveis de preço do milho, o custo final pode elevar-se em 25%.
Somam-se a isso os aumentos do farelo de soja, da energia elétrica, dos combustíveis e a situação fica muito difícil para todo o setor.
A saca (60 kg) de milho está cotada atualmente em cerca de R$ 100, ou seja, registra 72% de aumento em relação a fevereiro do ano passado.
Aumento maior ainda sofreu a tonelada de farelo de soja, comercializada hoje em R$ 2.750,00, ficando 113% mais cara que 12 meses atrás.
Outro item da planilha de custos que afeta as operações nas granjas e nas fábricas é a energia elétrica, que encareceu 70% nos últimos dez anos.
A média de alta prevista para 2021 é de 14,5%.
A indústria já apurou que, com esses aumentos, o custo do animal vivo aumenta no minímo 35%.
Esse encarecimento anula todos os ganhos dos suinocultores e avicultores ao mesmo tempo em que afeta ou até inviabiliza a produção industrial.
Porém, para o diretor da ACAV e Sindicarne, José Ribas, o desmedido aumento dos custos dos grãos tem efeito mais devastador porque atinge a base da cadeia produtiva.
Por isso, as indústrias de abate e processamento de aves e suínos estão preocupadas com as maciças exportações de milho e soja, matéria-prima que faltará para o abastecimento interno.
REAÇÃO
Para atravessar o ano de 2021 será necessário um grande incremento da produção dos cereais de inverno.
Outra medida é o destravamento das importações de milho.
O setor já opera em drawback, o que reduz encargos tributários, mas a situação requer o destravamento técnico das importações de milho.
- as oscilações cambiais que afetam os preços finais.
- a manutenção da demanda da China por carnes brasileiras que mantém aquecido o setor.
- as reformas estruturais necessárias para restituir a confiança no Brasil dos investidores internacionais.
- a retomada do crescimento econômico.
Outro fator é a queda de consumo no mercado doméstico em razão do alto desemprego.
Veja o que diz José Ribas, diretor da ACAV e Sindicarne:
“Não podemos ficar expostos a esta situação. As iniciativas de importação e aumento da produção de cereais de inverno, especialmente nos Estados do Sul, ajudarão, mas não serão suficientes sob a ótica de custos”.
“No longo prazo, precisaremos de ações estruturantes de logística de grãos para as regiões de produção de proteína e o setor operar de maneira efetiva no mercado futuro”.
“Não queremos ser alarmistas, mas é preciso ter consciência da situação. O setor é resiliente, é competente, mas tem suas limitações”.
“Uma crise semelhante vivida em 2016 provocou o fechamento de empresas, redução de alojamento e colocou em perigo os planteis à campo, com risco sanitário”.
“A partir do momento em que não vislumbrar o abastecimento necessário, seja em preço, seja em quantidade, o setor irá se adequar, reduzir alojamento e baixar a oferta de proteína animal no Brasil”.
“As médias e as pequenas empresas terão dificuldades de fluxo de caixa e capital de giro, enquanto as grandes empresas operarão em fluxos negativos”.
“Infelizmente teremos descontinuidade de empresas, atraso nos investimentos e desemprego”.
Fonte: Noticenter