Davi Novaes Stehl, 9 anos, morreu no último dia de 2020. Morador de Mirim Doce, no Alto Vale do Itajaí, ele não resistiu a complicações causadas pelo coronavírus. Seis meses antes, o menino descobriu que tinha leucemia.
A morte de Davi se soma às outras sete de crianças de até 9 anos vítimas da Covid-19 em Santa Catarina. Até esta quarta-feira (6), o Estado registrou 5.482 mortes e 506.897 casos de coronavírus.
Em Mirim Doce, além de Davi, a doença vitimou um homem de 42 anos em julho do ano passado. São 101 infectados entre os 2 mil habitantes.
A pequena cidade, que tem a agricultura como motor econômico, foi o lugar onde Davi explorou a independência. Sozinho, fazia tarefas de gente grande com maestria. Ia ao supermercado, cortava o cabelo no barbeiro local e enchia os pneus da bicicleta no posto de gasolina. O menino com sede de aventura era conhecido por toda a cidade.
— Não tinha como não se apaixonar — descreve a mãe dele, Edilaine Novaes.
O primogênito de Edilaine tinha também gosto por invenções. Além dos brinquedos convencionais, o menino de 9 anos era dono de um facão e um serrote. Com os itens, construía suas próprias ferramentas.
Tudo foi muito rápido após Davi adoecer. No fim de junho, lembra Edilaine, ele teve dor de cabeça e vômito, algo que num primeiro momento foi tratado com um problema estomacal. Sem que os sintomas passassem, foi feito um exame que descobriu o câncer no sangue.
O tratamento começou nos primeiros dias de julho em Blumenau. A mudança de endereço não teve grandes preparativos. Edilaine partiu para o município distante 148 quilômetro de casa apenas com uma muda de roupa. Aos poucos a família foi se adaptando a nova cidade.
A família não sabe como Davi contraiu o coronavírus. Além dele, apenas a avó materna e o avô paterno foram infectados pelo vírus. O menino teve uma bacteremia dias depois de uma sessão de quimioterapia. Já debilitado, ele apresentou pneumonia e foi diagnósticado com Covid-19.
Durante os meses de internações no hospital, Edilaine passou a compartilhar as atualizações sobre a saúde de Davi nas redes sociais. Uma corrente de solidariedade se formou e o menino recebia todos os dias mensagens de carinho e apoio.
Após a partida dele, as mensagens não cessaram. Uma enfermeira que acompanhou o menino durante a internação lembrou das brincadeiras com o menino: “Um dia vai me ganhar no jogo de varetas e me ensinar a fazer origâmis!”.
Outra postagem lembrava do menino ainda na primeira infância. No vídeo, Davi aparecia tocando notas improvisadas na gaita de brinquedo. A felicidade do menino nas imagens era o pedido de outra amiga ao menino. “Vá alegrar o céu, Davi!!”.
Fonte: Jornal Santa Catarina