‘A gente não sabia o que estava acontecendo’, diz Rafael Henzel jornalista sobrevivente do voo da Chape
Rafael Henzel só quer voltar para Chapecó, cidade onde trabalha, no Oeste catarinense. O jornalista é um dos seis sobreviventes do voo que levava a delegação da Chapecoense. Ele falou ao Fantástico deste domingo (11) sobre o acidente, o primeiro contato com a mulher depois da queda do avião e como está a saúde, após muitas fraturas.
O acidente
Naquele 28 de novembro, Rafael embarcava junto com outros colegas da imprensa e a delegação do time para a Colômbia, onde o clube catarinense disputaria o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana.
Ele sentou em uma poltrona na parte traseira do avião. “Eu estava à direita, no penúltimo banco, no banco do meio”. Ao lado dele, estavam Renan Agnolin, repórter na rádio onde Rafael trabalha, e o cinegrafista da RBS TV Djalma Araújo Neto. Ambos não sobreviveram ao acidente.
“A gente perguntava para os comissários: quanto faltava? Dez minutos. De repente, desligaram as luzes do avião. Desligaram os motores. E aí todo mundo voltou pro seu assento e… colocou o cinto. A hora em que isso aconteceu causou um certo temor. Mas ninguém, ninguém imaginaria que a gente bateria naquele morro”.
Nada foi avisado aos passageiros, segundo Rafael. “Nenhum segundo alguém da cabine ou comissário falou: ‘coloquem os cintos de segurança porque há risco disso ou daquilo'”. “Nós ficamos voando… sem saber absolutamente nada do que iria acontecer”, completou.
Ele reparou nos comissários de bordo. “Dois dos sobreviventes estavam trás de mim. Dois bolivianos. Eu reparei que houve uma aflição muito grande. Por parte da comissária que sobreviveu. Ela foi pro lugar dela, ela colocou o cinto de segurança. Eu vi ela muito aflita. E quando ela ficou muito aflita, a aflição tomou conta”.
Apesar disso, Rafael diz não recordar de ter havido pânico no avião. “Um silêncio assim, estarrecedor. A gente não sabia o que estava acontecendo. Até que veio o choque”.
Resgate
A poucos minutos do pouso, que seria no aeroporto de Medellín, o avião se chocou de barriga com uma montanha. A parte traseira ficou lá. O restante da aeronave foi destruindo tudo pelo caminho, até parar do outro lado do morro. “Eu não lembro da pancada. Foi de repente”, disse Rafael.
Ele só acordou cerca de sete horas depois. “Primeiro achei que era um filme. Achei que era um sonho. E que ia despertar logo desse sonho. Comecei a observar que vinha gente com algumas luzes, os socorristas. E aí eu comecei a gritar. Comecei a chamar por socorro, dizendo que eu estava ali”. Rafael não tinha como sair do lugar. “Eu estava preso em duas árvores. E aí com árvores em cima das minhas pernas”.
Os dois colegas da imprensa que estavam ao lado dele no avião continuavam perto dele, mas não respondiam aos chamados de Rafael. “Foi mais impactante ainda porque as duas pessoas que estavam do meu lado… estavam sem vida. 10 centímetros pra cá, 10 centímetros pra lá… o resultado poderia ser bem diferente”.
Com tristeza, ele tentou chamar pelos rapazes. “O momento mais triste pra mim foi ver os dois colegas meus do lado… chamei pelos dois. Lamentei muito. Mas tive que buscar forças, apesar de estar com sete costelas quebradas. Não foi fácil, nada fácil mesmo. Chovia, 12 graus de temperatura. Foi muito íngreme a subida. Não tinha trilha de onde a gente estava. Os socorristas foram fortes”.
Depois do acidente, Rafael chegou a ver fotos dos destroços do avião e não sabe como sobreviveu. “Eu imagino duas coisas. Primeiro, que houve um milagre. E, o segundo foi de eu ter despertado no segundo em que os socorristas estavam passando”. Ele foi o penúltimo sobrevivente a ser resgatado.
Além dele e dos dois comissários bolivianos, os jogadores da Chapecoense Alan Ruschel, Jackson Follmann e Neto também sobreviveram. Os quatro brasileiros estão internados no Hospital San Vicente de Rionegro, na Colômbia.
O jornalista contou que no terceiro dia após ter sido resgatado se deu conta de que quase todos que estavam no avião tinham morrido. “Aí que eu fiquei sabendo mesmo e lamentando terrivelmente uma tragédia pra uma cidade de 220 mil habitantes”.
Ele diz esperar por justiça. Segundo as autoridades colombianas, o avião da LaMia caiu porque não voou com a quantidade necessária de combustível. “O que eu fico mais impressionado é que as pessoas morreram não por uma falha mecânica. As pessoas morreram por uma falta de… discernimento. De um sujeito que, de repente, por uma economia boba… Isso é revoltante”.
Emoção com a família
Chorando, ele conta como está emocionalmente. “Eu lembro uma passagem que a minha esposa informou. Que, no dia do acidente, apareceram na minha casa pra falar do acidente do avião. Duas pessoas com o nome Rafael estavam no avião. Só que a empresa não informou qual deles tinha falecido. E meu filho de 11 anos batia no peito e dizia que sentia a minha respiração. Isso foi muito forte pra mim”.
Rafael também se emociona ao lembrar do momento em que reencontrou a mulher, Jussara, no hospital. “Eu tenho a imagem gravada. Estava entubado, não podia falar. E aí o médico trouxe a minha esposa e disse: ‘olha, tua esposa tá aqui’. Ela pegou na minha mão. Ela falou, ‘eu estou aqui. Eu vim te buscar. Porque a gente vai voltar pro Brasil'”.
Ele também se emociona ao falar da vontade de retornar à cidade do Oeste catarinense. “Eu só espero pisar em Chapecó. Quero voltar a pisar. Quero voltar pra casa. Quero voltar a pisar no solo chapecoense”.
“Toda essa troca de carinho com o povo brasileiro que se irmanou com o povo colombiano. Tanto pra mim, pro Follman, Ruschel, Neto. Não podemos reclamar de nada. A gente não pode reclamar em nenhum momento do final do ano. Nós vamos estar juntos com as nossas famílias”.
Fonte: G1/SC
O acidente
Naquele 28 de novembro, Rafael embarcava junto com outros colegas da imprensa e a delegação do time para a Colômbia, onde o clube catarinense disputaria o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana.
Ele sentou em uma poltrona na parte traseira do avião. “Eu estava à direita, no penúltimo banco, no banco do meio”. Ao lado dele, estavam Renan Agnolin, repórter na rádio onde Rafael trabalha, e o cinegrafista da RBS TV Djalma Araújo Neto. Ambos não sobreviveram ao acidente.
“A gente perguntava para os comissários: quanto faltava? Dez minutos. De repente, desligaram as luzes do avião. Desligaram os motores. E aí todo mundo voltou pro seu assento e… colocou o cinto. A hora em que isso aconteceu causou um certo temor. Mas ninguém, ninguém imaginaria que a gente bateria naquele morro”.
Nada foi avisado aos passageiros, segundo Rafael. “Nenhum segundo alguém da cabine ou comissário falou: ‘coloquem os cintos de segurança porque há risco disso ou daquilo'”. “Nós ficamos voando… sem saber absolutamente nada do que iria acontecer”, completou.
Ele reparou nos comissários de bordo. “Dois dos sobreviventes estavam trás de mim. Dois bolivianos. Eu reparei que houve uma aflição muito grande. Por parte da comissária que sobreviveu. Ela foi pro lugar dela, ela colocou o cinto de segurança. Eu vi ela muito aflita. E quando ela ficou muito aflita, a aflição tomou conta”.
Apesar disso, Rafael diz não recordar de ter havido pânico no avião. “Um silêncio assim, estarrecedor. A gente não sabia o que estava acontecendo. Até que veio o choque”.
Resgate
A poucos minutos do pouso, que seria no aeroporto de Medellín, o avião se chocou de barriga com uma montanha. A parte traseira ficou lá. O restante da aeronave foi destruindo tudo pelo caminho, até parar do outro lado do morro. “Eu não lembro da pancada. Foi de repente”, disse Rafael.
Ele só acordou cerca de sete horas depois. “Primeiro achei que era um filme. Achei que era um sonho. E que ia despertar logo desse sonho. Comecei a observar que vinha gente com algumas luzes, os socorristas. E aí eu comecei a gritar. Comecei a chamar por socorro, dizendo que eu estava ali”. Rafael não tinha como sair do lugar. “Eu estava preso em duas árvores. E aí com árvores em cima das minhas pernas”.
Os dois colegas da imprensa que estavam ao lado dele no avião continuavam perto dele, mas não respondiam aos chamados de Rafael. “Foi mais impactante ainda porque as duas pessoas que estavam do meu lado… estavam sem vida. 10 centímetros pra cá, 10 centímetros pra lá… o resultado poderia ser bem diferente”.
Com tristeza, ele tentou chamar pelos rapazes. “O momento mais triste pra mim foi ver os dois colegas meus do lado… chamei pelos dois. Lamentei muito. Mas tive que buscar forças, apesar de estar com sete costelas quebradas. Não foi fácil, nada fácil mesmo. Chovia, 12 graus de temperatura. Foi muito íngreme a subida. Não tinha trilha de onde a gente estava. Os socorristas foram fortes”.
Depois do acidente, Rafael chegou a ver fotos dos destroços do avião e não sabe como sobreviveu. “Eu imagino duas coisas. Primeiro, que houve um milagre. E, o segundo foi de eu ter despertado no segundo em que os socorristas estavam passando”. Ele foi o penúltimo sobrevivente a ser resgatado.
Além dele e dos dois comissários bolivianos, os jogadores da Chapecoense Alan Ruschel, Jackson Follmann e Neto também sobreviveram. Os quatro brasileiros estão internados no Hospital San Vicente de Rionegro, na Colômbia.
O jornalista contou que no terceiro dia após ter sido resgatado se deu conta de que quase todos que estavam no avião tinham morrido. “Aí que eu fiquei sabendo mesmo e lamentando terrivelmente uma tragédia pra uma cidade de 220 mil habitantes”.
Ele diz esperar por justiça. Segundo as autoridades colombianas, o avião da LaMia caiu porque não voou com a quantidade necessária de combustível. “O que eu fico mais impressionado é que as pessoas morreram não por uma falha mecânica. As pessoas morreram por uma falta de… discernimento. De um sujeito que, de repente, por uma economia boba… Isso é revoltante”.
Emoção com a família
Chorando, ele conta como está emocionalmente. “Eu lembro uma passagem que a minha esposa informou. Que, no dia do acidente, apareceram na minha casa pra falar do acidente do avião. Duas pessoas com o nome Rafael estavam no avião. Só que a empresa não informou qual deles tinha falecido. E meu filho de 11 anos batia no peito e dizia que sentia a minha respiração. Isso foi muito forte pra mim”.
Rafael também se emociona ao lembrar do momento em que reencontrou a mulher, Jussara, no hospital. “Eu tenho a imagem gravada. Estava entubado, não podia falar. E aí o médico trouxe a minha esposa e disse: ‘olha, tua esposa tá aqui’. Ela pegou na minha mão. Ela falou, ‘eu estou aqui. Eu vim te buscar. Porque a gente vai voltar pro Brasil'”.
Ele também se emociona ao falar da vontade de retornar à cidade do Oeste catarinense. “Eu só espero pisar em Chapecó. Quero voltar a pisar. Quero voltar pra casa. Quero voltar a pisar no solo chapecoense”.
“Toda essa troca de carinho com o povo brasileiro que se irmanou com o povo colombiano. Tanto pra mim, pro Follman, Ruschel, Neto. Não podemos reclamar de nada. A gente não pode reclamar em nenhum momento do final do ano. Nós vamos estar juntos com as nossas famílias”.
Fonte: G1/SC