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A história inspiradora da afegã que se fingiu de homem para conseguir estudar

Quando o regime Talibã assumiu o controle no Afeganistão, Zahra Joy ainda era uma criança. Naquele período, num país onde até mesmo as mulheres que seguiam fielmente as leis, ser mulher era extremamente difícil. Não que não o seja hoje. Durante os primeiro anos do regime Talibã, as mulheres eram proibidas de frequentar a escola.

Zahra não queria deixar de estudar e sua vontade por aprender era muito mais forte. Foi quando seu tio deu a ideia. Ela podia se disfarçar de menino para poder ir para a escola. No início foi um pouco difícil, mas a menina conseguiu convencer sua família de que era uma boa ideia.

Numa entrevista à BBC, ela disse: “Mudei minhas roupas e tive de aprender a ser menino. Meu tio me ensinou a jogar futebol, a ir para as montanhas, a fazer coisas que os garotos faziam. E passei a me chamar Mohammed.” Foi então que ela cortou os cabelos, mudou as roupas e aprendeu a agir como um menino. A partir daí Zahra já não existia mais, agora ela era Mohammed.

No primeiro dia de aula, o diretor da escola obrigou todos os alunos que tinham cabelos longos a cortarem, naquela época eram pouquíssimos os meninos que os usavam assim. Para a sorte da menina, a escola ficava a 1h30 de sua casa, assim, ninguém a reconheceu. Um dos maiores medos, tanto dela quanto da família, era ser descoberta pelo Talibã e acabar tendo sua família ameaçada e/ou ser forçada a se casar.

Durante seis anos, apesar do medo e dos possíveis acontecimentos pelos quais poderia passar, Zahra (agora Mohammed) aprendeu a ler e escrever. Enfim, o regime Talibã caiu e a menina pode abandonar o “personagem”, voltando a estudar como menina.

Quando se revelou menina, Zahra sofreu bullying, mas não se importava. “Estava feliz porque podia ler, escrever, tive educação no tempo certo. Estava orgulhosa porque tinha voz”, ela conta.

Quando o regime Talibã caiu Zahra tinha 11 anos, e então ela pode voltar a estudar normalmente. Hoje, formada em direito, Mohammed Zahra (apelido que ficou) é quem sustenta a família, trabalhando como Jornalista e, inclusive, sustentando os estudos das irmãs mais novas.

Mesmo com tudo o que aconteceu, Zahra diz que o espírito de Mohammed ainda esta nela. E que a experiência dos anos que passou como menino foram muito importantes para sua vida. “Ao ser Mohammed, fiz meu futuro, aprendi a socializar com homens e com uma parte da sociedade com a qual eu não teria contato. Quando tinha uma reunião só para meninos, eu podia ir, falar com homens, apertar as mãos deles, o que não era comum no Afeganistão.”

Zahra ainda conta que sente falta de “ser menino”, porque “Como Zahra, não tinha as oportunidades que os meninos tinham, não tinha todos os direitos, não podia rir alto. Sinto saudade dos direitos que tinha como Mohammed.”





Fonte: Rádio Tropical FM