O bilionário fundador da Microsoft, Bill Gates, estaria financiando um estudo junto a alguns cientistas de Harvard para usar na atmosfera um aerossol que seria capaz de dissipar a quantidade de luz solar que incide sobre a superfície terrestre, informou a revista Forbes. A proposta é conter o aquecimento global.
O nome do projeto é um tanto indecifrável: Experimento de Perturbação Controlada Estratosférica (SCoPEx, na sigla em inglês). A iniciativa pretende borrifar poeira atóxica de carbonato de cálcio (CaCO3) na atmosfera para compensar os efeitos do aquecimento global e refletir parte da luz solar de volta ao espaço.
Um estudo realizado por cientistas de Harvard em 2017 e editado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia apontou que o aerossol de carbonato de cálcio pode ajudar a reduzir o aquecimento da terra, mantendo intactas as partículas essenciais que compõe a estratosfera. É um avanço em relação a outras iniciativas, como o aerossoal de sulfato, que combatia alguns riscos climáticos, mas que acabava por destruir as partículas de ozônio.
Segundo a Forbes, a questão mais delicada do ‘escurecimento do sol’ é que, não se sabe o quanto de aerossol seria suficiente para resfriar a atmosfera em um nível sustentável. Além disso, os cientistas envolvidos no projeto alegam que, a princípio, o aerossol poderia ser eficiente apenas para dispersar a luz solar e, com isso, resfriar a superfície terrestre, mas que, de imediato, não haveria nenhuma mudança química na estratosfera. A iniciativa, portanto, dissiparia o calor solar que atinge a terra, enquanto a atmosfera continuaria acumulando gases estufa.
A missão financiada por Gates vai dar seu primeiro passo em junho. Será liberado no céu da Suécia um balão para que sejam testados os sistemas operacionais e de comunicação que serão responsáveis pela emissão da poeira de CaCO3 na atmosfera, caso ela chegue às etapas mais avançadas. A Swedish Space Corporation, uma estatal suéca de tecnologia espacial, está envolvida nessa etapa do projeto.
Efeitos colaterais
Pesa contra a iniciativa financiada por Gates a possibilidade de ela causar exatamente o efeito que deseja combater. Cientistas avessos à ideia apontam que o aerossol que controla a entrada de luz solar pode causar mudanças extremas no clima. Uma solução como essa poderia arrefecer as iniciativas de combate à emissão de poluentes no mundo, com a manutenção dos níveis atuais de produção e consumo.
Ainda assim, os defensores da geoengenharia apontam que o aerossol de carbonato pode ser um importante paliativo para evitar o agravamento do aquecimento da superfície terrestre para as próximas décadas. Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática apontou que, com um investimento entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões ao ano, o SCoPEx poderia reduzir as temperaturas globais em 1,5 grau Celsius.
Na média global, uma redução dessas poderia aliviar as tensões climáticas. O problema é que o clima não funciona baseado em médias. Cientistas britânicos que se opõem a seus colegas levantam dúvidas sobre a eficiência do aerossol financiado por Gates e afirmam que, anteriormente, erupções vulcânicas no Alasca e no México, que reduziram a temperatura média global, podem ter sido a causa central de uma seca devastadora na região do Sahel, na África, e que algo parecido poderia acontecer com uma nova iniciativa de bloqueio da luz solar.
Fonte: Michel Teixeira