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"Meu irmão adotou meu rim", diz mulher após doar órgão em Florianópolis

Por lei, a preferência é para pessoas com ligação de parentesco, de outra forma, só com autorização da Justiça. 


Transplante intervivos de rim é o mais comum do gênero em SC(Foto: Guto Kuerten/Agência RBS )

Quando soube que precisaria de um transplante Ary Tadeu Tavares Silva, de 54 anos, sequer entrou na fila de espera por um rim. A família inteira se mobilizou para ajudá-lo.

- Minha irmã Aryene fez a doação em 16 de março de 2016 e me deu a vida novamente - contou o bancário. 

Desde 2014, ele fazia tratamento renal e, apesar de outra irmã também ter sido considerada compatível para o transplante, a gestora Aryene Catarina Tavares Silva, 51 anos, teve a intuição de que seria a doadora. 


- Minha irmã foi colocada como a primeira opção pelos médicos, por não ter filhos. Como sou mãe de dois, sou doadora potencial deles, caso seja necessário. Ainda assim, eu soube desde o início, no fundo do coração, que seria eu a fazer a doação - contou.

Adoção

Quando a irmã mais nova precisou priorizar um problema de saúde antes do procedimento, Aryene já estava preparada. 

- A nossa família tem uma ligação muito forte. "São todos os pintinhos embaixo da asa da mãe". Eu sabia desde o começo que essa ajuda não era só para o Ary Tadeu, mas também para minha mãe e para o meu pai. Eu nunca tive dúvidas de que queria doar. Eu costumo dizer que não fui eu que doei, foi o Ary Tadeu que adotou o meu rim - disse. 

Em Santa Catarina, o transplante intervivos mais realizado é o de rim. Na última década, esta tem sido uma segunda opção para as equipes médicas. 

- Porque nós temos uma grande disponibilidade de enxerto de doadores falecidos. Então, faz um primeiro enxerto com doador falecido e,se der problema, um segundo com um doador vivo - declarou o coordenador estadual da Central Estadual de Transplantes (SC Transplantes). 

Doações em vida


Até maio de 2019, dos  494 transplantes realizados em Santa Catarina, dois foram de rim com doador vivo, conforme a SC Transplantes. 

No país, no mesmo período, foram 4,9 doações por milhão de habitantes feitas por pacientes vivos, de acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). 

Além do rim, parte do fígado, parte do pulmão e a medula óssea estão na lista das possibilidades de um doador vivo, segundo o presidente da ABTO Paulo Pego. 

- Pâncreas e pele também podem ser doados em vida, mas é bem raro. Em relação aos pulmões, se doa um lobo, de um dos pulmões. Habitualmente, o receptor é criança ou adolescente e o pai doa uma parte e a mãe outra - explicou. 

Para evitar o risco de comercialização de órgãos, a preferência é sempre de familiares. Em casos Sem ligação parental, é exigida uma autorização da Justiça. 

- Então, você não é um doador inscrito. É preciso ter um grau próximo de parentesco. Se for  um pouco mais distante, um juiz tem que autorizar, assim como no caso de doação a alguém que não é da família. Isso justamente para que haja transparência no processo. Tudo precisa ser muito bem documentado - detalhou Pego. 

Antes da doação, são investigadas compatibilidades sanguínea e do órgão entre doador e receptor.  

- O doador precisa estar em bom estado de saúde para não fazer falta.  Por exemplo, quem doar um rim, fica com um só e esse tem que estar perfeito. Isso vale também para o fígado e para parte do pulmão - informou Pego. 

Medula


Para pacientes vivos ainda é possível a doação de medula e plaquetas. Apesar de ter  179 mil doadores de medula óssea cadastrado em 23 anos, a atualização do banco de dados é um desafio para o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc). 

- O cadastro do doador é válido até que ele complete 60 anos. Nossa dificuldade é localizá-lo, porque em muitos casos muda o endereço, o telefone e o Hemosc não é informado - disse Pricilla Vieira, funcionária da administração do Hemosc. 

Até maio de 2019, foram realizados em Santa Catarina 10 transplantes de medula, enquanto 56 pacientes estavam na lista de espera pelo procedimento, conforme a SC Transplantes. 

Exigências

- Procurar o Hemosc

- Ter entre 18 e 55 anos 

- Estar em bom estado de saúde

- Não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue (como infecção pelo HIV ou hepatite)

– Não apresentar história de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune (como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide).

Plaquetas

A doação de plaquetas também é uma demanda constante principalmente para o tratamento de câncer e em cirurgias cardíacas, conforme Pricilla Vieira. 

Em Florianópolis,  atualmente são oito doadores de plaquetas por dia, mas o ideal é que esse número seja superior, já que a doação tem validade de apenas cinco dias. 

Requisitos:

 - Pesar acima de 60 kg;

- Nunca ter engravidado (incluindo aborto);

- Ter bom acesso venoso em ambos os braços (veias aparentes)

- Evitar alimentos gordurosos nos três dias anteriores à doação;

- Não estar usando AAS ou anti-inflamatório nos últimos cinco dias;

- Não fazer uso contínuo de anti-hipertensivos da classe IECA (captopril, enalapril, lisinopril...)

- Fazer agendamento prévio.


Por Juliana Gomes

Fonte: Hemosc/ Inca/ NSC