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Entre 2011 e 2015, o número de roubos, em que o autor age com ameaça e violência contra a vítima, saltou de 10.727 para 17.691 - um aumento de 64,92%. Normalmente o criminoso porta uma arma, como foi no caso de Fernanda. Ela e os pais estavam dentro de casa quando dois homens, de cara limpa, invadiram o local e fizeram com que os três deitassem de bruços no chão, mesmo com os apelos para que a mãe, que passara por uma cirurgia, fosse poupada. Um dos bandidos portava uma arma, o outro pegou uma faca na cozinha. Depois de muitas ameaças e terror psicológico, eles fugiram na Biz da estagiária.
- Foi a primeira vez que passamos por isso. Antes de saírem, um deles puxou meu cabelo, cortou um pedaço e disse que ia levar de lembrança. Foram 40 minutos que destruíram 40 anos que meu pai viveu aqui. Colocamos a casa à venda, porque mexeu muito com a gente, e até hoje vamos dormir com medo - conta.
Situação parecida viveu Pâmela Gonçalves de Oliveira, 21 anos, proprietária de um bar em Barreiros, em São José. O estabelecimento foi roubado poucos dias antes do Natal passado. Ela ficou cinco minutos com uma arma apontada para a cabeça. Dois assaltantes chegaram ao local a pé, por volta de 22h, hora do fechamento do bar. Havia um último cliente naquele horário - que foi imobilizado enquanto Pâmela era ameaçada e os bandidos recolhiam maços de cigarro e cerca de R$ 500 em dinheiro.
- O bar funciona há 15 anos com meu pai e foi a primeira vez que fomos assaltados. Aqui em Barreiros, há algum tempo era bem calmo, mas de uns três anos pra cá quase todos os comércios já foram roubados. Agora tenho medo de sair, de deixar o bar aberto até um pouco mais tarde - relata.
Roubos de veículos e latrocínios preocupam
Os dados da segurança pública também mostram que especificamente o roubo de veículos teve aumento ainda maior do que os roubos em geral. O crescimento foi de 74,15% de 2011 para cá (indo de 1.981 para 3.450 registros). Outro índice que está em elevação é o de latrocínio, o assalto em que a vítima é morta, que aumentou 14,54% nesse mesmo período (passando de 55 para 63).
Os episódios se alastram por todas as regiões, desde a Grande Florianópolis até a região de Chapecó, no Oeste, e nos litorais Norte e Sul. Em muitos casos, os criminosos agem se aproveitando de uma desatenção do motorista ao chegar no portão de casa, de ruas mal iluminadas ou de estabelecimentos comerciais abertos sem segurança particular. A falta de efetivo policial nas ruas, principal carência catarinense nos últimos anos, principalmente em rondas noturnas, também facilita a atuação criminosa e diminui a chance de prisão.
Em Florianópolis, policiais garantem que um fato positivo nos últimos anos foi a criação da delegacia especializada na repressão a roubos, em 2011. Na repartição, policiais se dedicam exclusivamente a investigar esse tipo de crime. Em 2015, foram 83 assaltantes presos, atuação em 70 operações e 134 inquéritos instaurados. Também há em SC 29 DICs (Divisão de Investigação Criminal), encarregadas de investigar crimes graves, entre ele, os roubos.
Os números foram solicitados pelo Diário Catarinense à assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP). A divulgação ocorreu após pesquisa da gerência de estatística e análise criminal junto ao sistema integrado de segurança pública (SISP).
Drogas são a causa central, dizem especialistas
Especialistas concordam que as drogas são a causa central da escalada de violência e dizem que, mesmo quando o trabalho de repressão é bem feito, o problema aumenta. À primeira vista contraditória, a relação entre a atuação policial contra os entorpecentes e o aumento de outras ocorrências é explicada por quem lida com a segurança pública.
- Quando se prende um traficante, se tira uma indústria que estava funcionando e ocorre migração para outros crimes mais simples, como furtos e roubos. Por isso que, quando se tira um traficante da rua, é preciso ocupar esse espaço. Senão, outro traficante ocupa, ou aquele jovem vai para outro crime em busca do dinheiro perdido - analisa o professor de criminologia e coordenador do curso de Direito da Univali, Alceu de Oliveira Pinto Júnior.
E ocupar o espaço, alertam, não se restringe ao policiamento ostensivo em áreas de risco. Passa por ações preventivas e socioeducativas, recuperação de infratores, políticas públicas, reforma geral na segurança pública e atuação integrada das forças policiais com órgãos públicos e iniciativa privada para atacar o problema como um todo.
- O Estado descuida das medidas socioeducativas e isso faz com que menores envolvidos com drogas não sejam recuperados. É simplesmente como se cumprissem pena, encarcerados, mas sem preocupação em treiná-los, prepará-los, modificá-los. O Estado precisa superar essa condição reativa de só empreender ações a partir de fatos. É preciso um plano de médio e longo prazo - avalia o delegado aposentado da Polícia Federal Ildo Rosa, com experiência de 40 anos na área.
Uma das principais medidas sugeridas é a retomada da chamada polícia de bairro, em que o trabalho é mais próximo da comunidade e não é acionado apenas quando algum crime já ocorreu.
- Segurança é muito associada a territorialidade. Nos últimos 10 anos houve um desmantelamento dos postos dos bairros - comenta Rosa.
A reportagem apurou também junto a policiais civis e militares que são grandes as queixas de presos envolvidos em assaltos que ganham liberdade rapidamente e voltam a cometer delitos.
O DC procurou o secretário de Segurança, César Grubba, que informou por meio de assessoria que falaria sobre os números apenas na segunda-feira. A PM afirmou que o comandante-geral estava em viagem na sexta-feira, que está analisando o relatório e só depois dará informações mais precisas. O delegado geral da Polícia Civil, Artur Nitz, também foi procurado, mas preferiu se manifestar apenas depois de analisar bem os dados.
Escolhido em votação pelos catarinenses, o tema segurança será prioritário em 2016. Durante todo o ano, acompanharemos indicadores criados junto com especialistas na campanha Segurança SC - Essa Causa é Nossa. Você também pode participar desse movimento! Clique na imagem abaixo, acesse o site da campanha e saiba como. Em redes sociais, utilize a hashtag #SegurancaSC e compartilhe sua história sobre o tema.
Fonte: Diário Catarinense