Notícias do Novo Tílias News

“A Epagri é a empresa referência em agropecuária para os estados”, afirma a presidente


O Selo Arte concedido para uma agroindústria produtora de queijo serrano, a Queijaria Tio Tácio, em São Joaquim, mês passado, abrindo espaço para ela atuar no mercado nacional, é um exemplo de excelência do trabalho da Epagri, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Presente nos 295 municípios do Estado com serviço de extensão rural, com 1.700 servidores, 13 centros de pesquisas, centro de acompanhamento de clima e de socioeconomia, a estatal do governo catarinense apresenta um currículo vasto de avanços ao setor. Entre os destaques, estão pesquisas científicas de novas cultivares de arroz difundidas no Brasil, e de maçãs, adotadas na Alemanha e França.

A presidente da empresa, Edilene Steinwandter, afirma que a razão principal desse sucesso é o trabalho realizado e a diversificação de atividades na agropecuária. É isso, junto com o perfil de pequenas propriedades, que atrai a atenção das empresas de pesquisa e extensão rural dos demais estados para a catarinense Epagri.

Engenheira agrônoma graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), servidora de carreira, casada e mãe de um menino, Edilene é a primeira mulher a presidir a Epagri. A empresa recebeu esse nome há 30 anos, mas surgiu como Acaresc em 1956 e, desde lá, nunca tinha sido liderada por uma mulher. Ela espera que outras mulheres e servidores ocupem essa posição de liderança. 

No ano passado, o valor da produção agropecuária catarinense alcançou R$ 40,9 bilhões, segundo relatório Epagri/Cepa. Resultados robustos assim são possíveis com um conjunto de serviços e cuidados para cada uma das culturas. Saiba mais sobre o que a empresa faz para isso na entrevista de Edilene Steinwandter, a seguir.

A Epagri é uma empresa com amplo impacto na agropecuária catarinense. Como ela trabalha?

Epagri é uma empresa pública, mas de direito privado. Nossa capilaridade é bastante grande. Estamos presentes em 292 dos 295 municípios catarinenses, mas os três que não contam com um escritório municipal da empresa porque não comportam uma equipe são atendidos da mesma forma. Atendemos a todos agricultores do estado através da extensão rural. Temos também 13 unidades de pesquisas espalhadas no Estado e mais 13 centros de treinamento, que também dão suporte à produção agropecuária. Temos 1.700 servidores, dos quais 549 são extensionistas, 138 pesquisadores e os demais são profissionais das áreas de apoio. Contamos com uma multidisciplinaridade grande no nosso quadro. Temos técnicos agrícolas, engenheiros agrônomos, médicos veterinários, assistentes sociais, nutricionistas, pedagogas e outros. Normalmente, as equipes nos municípios têm um técnico agrícola e um técnico da área social, esse último pode ser assistente social, nutricionista, enfermeira ou pedagoga.

Um dos destaques é a implantação de novas culturas no Estado. Foi assim com a produção de ostras e dos vinhos de altitude. O que a empresa prioriza nesse trabalho?

A Epagri tem como missão a busca e a geração de conhecimento nos potenciais agrícolas de Santa Catarina. Nós temos que buscar informações para as principais cadeias agrícolas do Estado e ter o olhar para o novo, novas alternativas de renda. Anos atrás, por exemplo, tínhamos suinocultura na maioria das propriedades. Esse setor foi se concentrando, se especializando e muitas famílias foram buscar na fruticultura, pecuária de corte e pecuária de leite novas fontes de renda. Nosso foco é ajudar as famílias do meio rural na geração de renda, melhoria da qualidade de vida, produção de acordo com as exigências dos consumidores e melhoria na questão ambiental.

Por que o impacto da atividade rural vai além do setor?
        
A gente busca ser eficientes na produção agrícola. E atrás da produção agrícola, trabalhamos com as famílias. E com elas temos que identificar aptidões específicas. O desenvolvimento rural vai além da produção agrícola. A gente trabalha a produção agrícola junto com o contexto das famílias e daquele território. Muitas vezes vai para o turismo rural. Há pessoas que produzem, há os que também podem receber e existem hotéis fazenda que, muitas vezes, não são de agricultores mas utilizam o espaço para intensificar a venda que é o turismo, aproveitando os produtos da agropecuária e a questão ambiental. Entendemos que o desenvolvimento rural não é apenas agrícola. Há também prestação de serviços e impactos em outros setores.

O que a Epagri vem fazendo para colaborar na obtenção de selos de origem e outros reconhecimentos?

Entendemos que apenas produzir é muito pouco. Precisamos agregar valor à produção e o saber fazer, o conhecimento local é uma forma de agregação de valor àquela produção. Então a gente busca trabalhar os selos distintivos que pode ser registro de marca, uma identificação geográfica (IG), uma denominação de origem. Então, há vários aspectos que podem dar segurança para aquele produto e ao mesmo tempo valorizar o conhecimento local, o saber fazer, a história que tem atrás daquela produção.

Quais são os maiores desafios da Epagri no trabalho de apoio aos produtores na questão ambiental?

A gente trabalha a questão ambiental desde as crianças na escola com a educação ambiental porque entendemos que começa lá com o cuidado, a preservação, o respeito. Aí vamos evoluindo, trazendo além da educação ambiental aspectos como manejo e conservação do solo. Nossa maior riqueza é o solo porque ele é o maior reservatório de água que o Planeta possui. Em SC, vivemos constantes períodos de escassez de água, temos estiagens. Então trabalhamos muito a preservação das matas e dos solos. Mas também trabalhamos as energias renováveis, fotovoltaicas e biogás. Tudo isso passa por uma produção mais limpa de energia, pelo destino correto dos efluentes de animais. É um trabalho amplo, mas focado, basicamente nas tecnologias sustentáveis de baixo custo, tanto para água, quanto manejo do solo e energia limpa.

A pesquisa da Epagri é diversificada e reconhecida no Brasil e exterior. Como é desenvolvida?

Temos 138 pesquisadores na Epagri que atuam nos 13 centros de pesquisas que estão distribuídos no Estado de acordo com as características produtivas de cada região. Temos trabalhos em diversas atividades. Na fruticultura, fazemos pesquisas sobre banana. Pesquisamos maçã e temos parcerias com a França e Alemanha, que usam tecnologias de variedades desenvolvidas por nós. Também temos um trabalho forte no maracujá, produção orgânica, toda a parte de uvas, vinhos e sucos. Na área de grãos, pesquisamos arroz, feijão, milho. Na olericultura (hortaliças) temos trabalhos sobre cebola, moranguinho e tomate. Lançamos em 2019 um sistema de produção de tomate orgânico bastante interessante que também está sendo utilizado por outros estados. Também temos pesquisas na pecuária, melhoramento da bovinocultura de leite e de corte, ostras, melhoramento genético de tilápias e uso de algas. Nas principais cadeias produtivas de SC temos tecnologias já lançadas e trabalhamos constantemente para melhorar esses sistemas produtivos.

Além de colaborar na produção, vocês fazem o acompanhamento de dados e do  clima. Qual é a importância desse trabalho?

Através do Cepa, que é o centro especializado de socioeconomia e planejamento agrícola, fazemos todo o acompanhamento de preços de terras e insumos. Um dos materiais que divulgamos é a Síntese Anual da Produção Agrícola, com todos os indicadores do desempenho da agropecuária. Além disso, temos outro centro especializado que é o Ciram. São unidades que dão suporte tanto internamente, quanto externamente para quem necessita de informações meteorológicas para planejar e fazer o manejo das safras. Temos mais de 200 estações meteorológicas espalhadas pelo Estado que mandam informações. Se chove muito, por exemplo, sabemos que determinadas culturas terão mais doenças, que exigirão uso de mais defensivos. Com informações sobre clima, é possível reduzir custos e e impactos ambientais nas lavouras.

Um dos desafios frequentes é a falta de chuvas em Santa Catarina. Como é o trabalho da empresa no enfrentamento desse problema?

Uma grande preocupação nossa é a questão hídrica. Sabemos que a agropecuária depende muito das questões ambientais. Temos trabalhado práticas e manejos para poder produzir com uma menor quantidade de água, assim como desenvolvendo variedades adaptadas a uma exigência menor de água. Mas como a água é fundamental, trabalhamos a gestão, a captação de água através da proteção das fontes, instalação de cisternas, práticas que permitam captar água para os agricultores não terem um impacto tão grande no período de escassez de chuvas.

Como a Epagri é vista por seus pares, as empresas de pesquisa agropecuária do país?

A Epagri é a empresa referência em agropecuária para os demais estados. Eu participo das reuniões da Associação Brasileira das Entidades de Ater, que reúne as Emateres (todas as demais empresas estaduais são chamadas de Emater). Somos exemplos tanto em pesquisa quanto em extensão rural. A nossa capilaridade no Estado é muito grande e o atendimento às famílias é amplo. Temos 180 mil estabelecimentos ruais e em 2019 atendemos 143 mil. No ano passado, com a pandemia, atendemos 105 mil. Santa Catarina chama a atenção pela diversificação da produção. Isso garante renda melhor para as propriedades e para o Estado. Essa diversificação talvez seja uma das melhores riquezas do nosso estado porque traz segurança econômica. Raríssimas propriedades têm uma única atividade. Temos que continuar fomentando isso.

A senhora é a primeira mulher a presidir a Epagri. Como recebeu esse desafio? 

Quando fui convidada pelo governador Carlos Moisés para ser a primeira presidente da Epagri, foi uma surpresa muito grande para mim. Fiquei feliz por ele ter escolhido uma profissional com carreira na empresa e por ser mulher, o que abre portas para outras pessoas de carreira e outras mulheres também assumirem cargos de liderança. Sou natural de Treze Tílias e graduada em Agronomia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Lages. Quando eu era criança, em Treze Tílias, o escritório da Epagri (na época chamada Acaresc), era em frente da minha casa e eu dizia que trabalharia lá. Comecei na Epagri com 22 anos e ocupei várias funções. Antes da presidência, fui gerente estadual da extensão rural.



Fonte: NSC