A indústria farmacêutica cresceu 12,13% em 2020 no Brasil, chegando ao faturamento de R$ 126 bilhões no ano, contra um aumento de 9,25% em 2019. Os dados foram divulgados pelo Sindicato dos Químicos de São Paulo, baseados em uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse).
O varejo farmacêutico também teve crescimento. Estatísticas demonstradas pela Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), com dados da empresa IQVIA Brasil, mostram um aumento no faturamento de 15,6% em 2020. No ano passado, segundo a pesquisa, as farmácias faturaram R$ 139,37 bilhões, contra R$ 120,54 bilhões em 2019.
Os números e outras análises do contexto geram debates sobre a indústria farmacêutica. O médico neurocirurgião Paulo Porto de Melo, especialista em Medicina de Urgência e em Clínica Médica, afirmou ao portal Brasil61.com que existem interesses financeiros e lobby no setor. A entrevista completa com Paulo Porto será publicada no Entrevistado da Semana, na próxima sexta-feira (9).
“O negócio farmacêutico no Brasil, por exemplo, é um negócio de bilhões de reais. Vai interessar para uma indústria que fabrica a vacina que se mostre que existe um tratamento eficaz preventivo e que talvez diminua a pressão pela necessidade de adquirir vacinas a alto preço a qualquer custo? Eu acho que não”, opina.
Paulo descreve a imunização contra a Covid-19 como “fundamental” neste momento, mas diz que “a vacinação é uma das estratégias de medicina preventiva”. “Por exemplo, meningites bacterianas. Quando existe a meningite bacteriana, existe obviamente vacina para meningite bacteriana. Mas se existe um surto, os contactantes devem tomar rifampicina, por exemplo.”
Os ensaios clínicos randomizados citados pela farmacêutica são necessários para provar a eficácia de medicamentos contra determinada doença, sendo o mais alto nível de evidência científica. Até o momento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), não há nenhum remédio comprovadamente eficaz contra a Covid-19 em pacientes desospitalizados, que tenha passado por esses testes.
Quebra de patente
Outra discussão recente sobre medicamentos na pandemia é a quebra de patente de remédios, ou seja, a disponibilização da fórmula em domínio público, para que qualquer laboratório possa produzir o insumo. Há dois projetos de lei em discussão no Senado Federal sobre o tema, os PLs 12/2021 e 1.171/2021.
O PL 12/2021, do senador Paulo Paim (PT-RS), busca a quebra das patentes de vacinas e medicamentos para o enfrentamento do novo coronavírus. O PL 1.171/2021, dos senadores Otto Alencar (PSD-BA), Esperidião Amin (PP-SC) e Kátia Abreu (PP-TO), prevê a licença compulsória do antiviral Remdesivir.
A farmacêutica Mariana Gonzaga lembra que o Brasil já realizou o direito de quebra de patente anteriormente na história, de forma adequada. “Mas, até o momento, não temos medicamentos que justifiquem esse movimento. O Remdesivir se encontra sob patente, mas é um medicamento que tem potencial de eficiência tão elevado, que justificaria a quebra. Não temos redução da mortalidade com o uso desse medicamento, apenas do tempo de internação”, avalia, lembrando que ainda não há estudos contundentes sobre a vantagem econômica caso houvesse a quebra da patente.
Dados da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias mostram que a procura por suplementos vitamínicos disparou em 2020, crescendo 47,9% em todo o mercado e 60,9% nas redes associadas à Febrafar. A Ivermectina chegou a apresentar um crescimento de 2.869,11%.