Os hábitos de consumo estão mudando, em especial pelo impacto da pandemia. O isolamento social trouxe novos costumes, sobretudo focados na saúde, bem-estar e no conforto. Em 2020, essa mudança de hábitos gerou aumentos de consumo em setores diversos, progressão que deve continuar para esse ano.
Um estudo realizado pela Mandalah, consultoria em inovação consciente, revelou que a pandemia acelerou tendências já existentes antes do vírus, como os conceitos de minimalismo, a sustentabilidade, o investimento em conforto e bem-estar, entre outros. A pesquisa sobre consumo consciente, nomeada CC+, trouxe dados importantes sobre o consumo dos brasileiros.
Os resultados também mostram que uma parcela das pessoas está mais criteriosa com o que consome, sobretudo no que diz à qualidade e quantidade. Outra parcela tem investido nas compras online durante a pandemia, de forma até mesmo compulsiva.
Entre os outros destaques, a pesquisa também ressalta que o consumo consciente é predominantemente feito por mulheres. Além disso, as periferias, que apresentaram um maior senso de comunidade e sustentabilidade. Para exemplificar os novos hábitos dos consumidores brasileiros, a pesquisa destacou 12 insights que direcionam o consumo do brasileiro atualmente. Confira:
1. Existo, logo me adapto
Um dos destaques do ser humano é a capacidade de adaptação. Não por acaso estamos no topo da cadeia alimentar e perpetuamos a nossa existência ao longo dos milhares de anos. A pandemia teve uma participação grande nessa capacidade de adaptação, visto que boa parte das ações foram adaptadas — ainda que a muito custo.
A pesquisa destaca que a meditação foi um dos recursos mais procurado pelas pessoas em 2020, tendo um aumento de 139% logo nos primeiros meses da pandemia, o que representa uma forma de consumo distinta.
2. Retorno à natureza
Outro destaque observado na pandemia foi a falta que a interação com a natureza causou às pessoas. Tendo em vista que o home-office foi difundido em larga escala, as pessoas se viram privadas de contato com a natureza. A partir disso, houve um aumento para o turismo ecológico, por exemplo, além do crescimento no número de pessoas que criaram plantas dentro de casa.
3. Mais conforto e bem-estar dentro de casa
Se teve algo crucial que a pandemia escancarou ao mundo todo foi o quanto o nosso lar pode ser desconfortável sem que nem percebamos isso. A necessidade de estar em isolamento social evidenciou espaços desconfortáveis dentro de casa e impulsionou a compra de móveis, eletrodomésticos e de pequenas reformas dentro da moradia. Além disso, em julho de 2020 subiram as buscas por produtos de skin care, tratamentos psicológicos e esportes, visto que a pauta do bem-estar ficou em alta.
4. Colocando a mão na massa
Uma outra mudança que a pandemia trouxe foi a adesão à cultura maker, do faça você mesmo. Muito ligadas à decoração e praticidade dentro de casa — fato que se conecta ao item anterior —, houve um aumento de 40% no volume de publicações Do It Yourself (DIY), que consiste em produtos que podem ser feitos por você mesmo. De acordo com a pesquisa da CC+, foram mais de 53 mil publicações durante a quarentena.
5. Senso de comunidade e pertencimento
Estar dentro de casa trouxe a muitas pessoas um maior senso de comunidade, sobretudo por dividir espaços com outras pessoas na maior parte do tempo. Essa sensação de pertencimento e colaboração comunitária também se fez bastante presente após a interação com os vizinhos e com o comércio local. O estudo destaca que houve mais de 739 mil menções sobre doações entre março e julho — um aumento de 139% quando comparado com o mesmo período, em 2019.
6. Menos industrial, mais artesanal
Com toda a pauta de bem-estar e saúde (física e mental), muitas pessoas passaram a se preocupar com o que comem. Isso trouxe um foco maior aos alimentos in natura, ao invés do consumo de produtos processados e ultra processados. Para além da alimentação, a cultura do artesanal também foi levada aos produtos de bens duráveis, visto que os consumidores passaram a desconfiar de grandes empresas e apostaram nos micro negócios. Dessa maneira, além do cliente ter maior garantia das ações ecológicas e sociais, há também a sensação de contribuir para o crescimento de um negócio menor, em oposição a aumentar ainda mais o faturamento de grandes empresas.
7. Potencialização do minimalismo
Entre as práticas do consumo consciente, muita gente percebeu que há produtos em excesso dentro de casa. De acordo com a pesquisa, os excessos da vida moderna têm deixado as pessoas sobrecarregadas e exaustas. Sendo assim, viver de forma mais leve e simples foi uma mudança considerável na vida de inúmeros brasileiros. A CC+ destaca que mais de 26 mil publicações sobre estilo de vida minimalista e essencialista foram publicadas nas redes sociais entre março e julho de 2020.
8. Necessidade de cozinhar em casa
Na pegada da alimentação saudável, a pandemia contribuiu (e muito!) para a produção de comida caseira. Além de garantir mais saúde e bem-estar, um outro motivo para o aumento da prática foi o peso no bolso: comer em casa é, afinal, mais barato. Esse hábito se tornou rotineiro para as pessoas e cada vez mais as pessoas preferem a comida feita em casa. O estudo da CC+ aponta que houve mais de 1,1 milhão de publicações nas redes sociais sobre receitas durante o isolamento social.
9. O boom das vendas online
Visto que a quarentena teve literalmente que fechar as lojas de rua, a adesão ao e-commerce foi recorde em 2020. O setor teve um crescimento de 75% durante a pandemia e até mesmo a criação de novas lojas circularam apenas de forma online. O levantamento da CC+ mostra que houve um aumento de 128% nas menções a “ter feito alguma compra online”.
10. Desejos e auto indulgência
Em contramão ao consumo consciente, a pandemia também teve impacto na saúde mental das pessoas. E uma das formas de compensação aos efeitos da quarentena foi aumentar o consumo, tanto pela facilidade quanto pelo conforto. A pesquisa mostra que a associação do termo “vinho” a “delivery”, por exemplo, foi 9x maior em 2020 do que no ano anterior, quando comparado o período entre março e julho.
11. Busca por saúde e bem-estar
Todas as buscas que estão relacionadas à saúde, até mesmo pela repercussão da pandemia, tiveram crescimento em 2020. Em especial as buscas por exercícios e atividades em casa, práticas saudáveis e focadas no autocuidado tiveram inúmeras menções nas redes sociais e foram difundidas até que se tornassem hábitos. Houve crescimento, por exemplo, na compra de cosméticos para a pele e no número de download de aplicativos relacionados à pauta do bem-estar.
12. Maior preocupação com a sustentabilidade
A pauta da sustentabilidade tem sido cada vez mais discutida nas redes sociais, sobretudo após o impacto da pandemia. Dessa forma, as ações de empresa e individuais ganharam força entre os consumidores e mudaram parte dos hábitos dentro e fora de casa. O levantamento da CC+ mostra que houve aumento na busca pelo termo “sustentabilidade” e produtos mais ecológicos ganharam destaque durante a quarentena, como coletores menstruais, shampoos em barra e canudos ecológicos.
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