Depois de dedicar 27 anos à magistratura, o juiz Alexandre Dittrich Buhr, da 1ª Vara Cível da comarca de Joaçaba, se despede do Judiciário catarinense para investir em algo valioso: a família. Cuidar dos pais idosos e acompanhar o crescimento dos netos o fez decidir-se pela aposentadoria, publicada na semana passada.
O juiz faixa-preta em judô e aiquidô, que ensinou muita gente em aulas gratuitas, também vai intensificar a dedicação às artes marciais. Continuará ministrando aulas no Aiki Bushido Dojo, em Joaçaba e Ouro, o qual é filiado ao Instituto Catarinense de Aikido, com sede em Florianópolis.
A escolha por morar num lugar tranquilo, no interior da cidade, também foi programada para quando a aposentadoria chegasse. E é nesse lugar que vai receber os pais, a sogra, os filhos e netos. "A magistratura me afastou um pouco da família porque a gente vive em muitos lugares diferentes. É meio nômade. Meus pais, que têm 86 e 85 anos, e meus três netos foram os grandes motivos do encerramento da minha carreira como juiz".
Com os pais, pretende aproveitar o tempo e ficar mais perto. "Meu projeto é conviver com eles o máximo possível. Quero coletar dados da nossa família, construir memórias e, quem sabe, escrever um livro", planeja. Também quer ser um avô presente, que marca a infância e deixa legado de sabedoria e boas experiências.
Nascido em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, o magistrado passou grande parte da vida na região do Meio Oeste, com atuação nas comarcas de Tangará, Capinzal e Joaçaba. "Por aqui fizemos boas e importantes amizades". Também foi juiz substituto em Araranguá, Sombrio, Turvo, Criciúma e depois na região de Rio do Sul - Ibirama, Taió, Trombudo Central e Rio do Sul.
Ainda sobre as relações pessoais, sempre buscou manter-se próximo da equipe com quem trabalhou. "A gente precisa conversar, perguntar se está tudo bem com as pessoas e suas famílias, ter preocupação de verdade. Acredito que é assim, com união, que se constrói um bom ambiente de trabalho".
Para ele, essa essência não pode se perder em meio às tecnologias. Com a pandemia, as inovações vieram rapidamente e o digital ganhou força. "Estou entre as duas gerações e fico no meio-termo. Acho que é preciso avançar e aproveitar a facilidade e rapidez desses meios, mas não podemos perder a sensibilidade que os atos presenciais nos proporcionam. Tem que haver um equilíbrio." O magistrado ainda reforça a importância de estar à frente: "Nosso Tribunal desponta no cenário nacional com ideias inovadoras, e isso nos enche de orgulho".
Escritor, Alexandre está na fase final da terceira obra. A primeira foi na área da conciliação e as duas últimas, do direito espacial, área em que é mestre e que possibilitou sua participação em um evento da Organização das Nações Unidades (ONU), compondo a delegação brasileira em 2017. Ele é membro da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial. O convite para o doutorado foi recusado temporariamente porque a prioridade agora é outra.
Ele acredita que as coisas acontecem sempre na hora certa, como foi seu ingresso na magistratura, em 1993. Depois de formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de atuar como advogado na capital, resolveu realizar o sonho de ser juiz. Sem frequentar cursos, estudou sozinho, foi apoiado por amigos e, com a experiência que tinha, em sete meses foi nomeado para assumir como juiz substituto no Judiciário catarinense. "Para passar num concurso como esse tem que estudar muito e ter o seu momento. Aquele era o meu. Assim como acredito que este é o de parar e focar em outras coisas tão importantes quanto a carreira profissional".
O magistrado aposentado ainda quer continuar atuante na Associação Rural que ajudou a fundar, com foco na sustentabilidade e na ecologia, aprender a domar cavalos de uma forma racional, fazer equitação clássica e estudar filosofia política. Tudo isso ao lado da esposa, sua apoiadora em tudo, dos dois filhos, pais, netos e sogra.
Fonte: TJSC