O advogado e também Bombeiro Comunitário de Lebon Régis, Cristiano Frederico Corrêa de Souza, 33 anos, teve a vida salva por uma mochila e um notebook na noite de terça-feira (5). Ele foi alvo de dois disparos de arma de fogo, em frente a própria residência, no Centro de Lebon Régis, na rua XV de Novembro. As informações são do Jornal Extra.
Um dos disparos pegou em sua mochila e o projétil ficou alojado em seu Notebook que estava dentro da mochila. O outro projétil ficou alojado na porta da residência. Após o susto, Cristiano agradece a vida e reconhece que passou a resinificar o sentido da existência.
A equipe de Jornalismo do Extra SC entrou em contato com Cristiano para entender os detalhes do ocorrido e o que muda na vida de Cristiano após a Tentativa de Homicídio.
Cristiano é natural de Mafra, mas mora e atua em Lebon Régis. É advogado desde 2015, atuando nas áreas cíveis, previdenciárias, trabalhistas, administrativas, sindicais, criminais e tribunal do júri. Além disso, Cristiano também é Bombeiro Civil profissional desde 2014. No corpo de bombeiros, é especialista em Atendimento pré-hospitalar de combate, condução de veículos de emergência e sobrevivência internacional de selva.
Veja a entrevista completa:
Extra SC: O que aconteceu no dia dos fatos?
Advogado: Assumi o serviço na data dos fatos por volta das 20h, e fui escalado pelo Chefe de Socorro como condutor do segundo caminhão em caso de incêndios e resgatista em caso de acidentes de trânsito. Após conferencia de todos os materiais das viaturas, solicitei autorização para deslocar com o ABTR 165 para aquecimento. No percurso, parei em minha residência para pegar um notebook, o qual acondicionei em uma mochila. Ao sair, no momento em que fechava a porta, escutei um estampido semelhante a disparo de arma de fogo e senti uma batida na região das costas, me joguei no chão e ouvi outro disparo. Percebi que não havia sido atingido e não vi o rumo que o atirador tomou. De imediato comuniquei a Polícia de Curitibanos, que prontamente deslocou a viatura até o local. O policial Cabo Oliveira fez uma minuciosa busca no terreno, não encontrando o Autor. Ao verificar a mochila, percebeu que o projetil atravessou a mesma e ficou alojado no computador. Ainda, o policial notou que o outro disparo atingiu a porta da residência. Eu, vítima permaneci em minha residência, por ordem do comandante dos Bombeiros de Lebon Régis, visando proteger minha integridade contra novo ataque e a polícia militar seguiu nas buscas do agente, mas, não encontraram. Houve o apoio do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina no local e da empresa Águia Segurança.
Extra SC: Tem alguma ideia de quem tenha disparado contra você? Acha que foi apenas uma pessoa?
Advogado: Na carreira profissional de advogado, busco atuar respeitando as leis, ética, moral e razão, sempre dando o melhor para defender o meu cliente. Tenho em mente que a pacificação de conflitos é a melhor solução para as partes. Infelizmente, nem todas as vezes isso é possível, e, o litígio é necessário. Ocorre que, algumas partes não entendem o papel do advogado no processo e acabam criando uma indisposição com o causídico.
Como tenho uma vasta atuação, em diversas áreas e comarcas, muitas partes acabam criando uma aversão pelo meu profissionalismo, especialmente quando seu anseio processual é vencido. É comum observar olhares raivosos, palavras com tom de provocação, e, até algumas ameaças. Tanto é que há alguns meses foi deixada na janela do meu escritório uma carta feita com recortes de letras de revista me ameaçando de morte.
Entretanto, sigo um lema do saudoso Sobral Pinto, de que a advocacia não é profissão para covardes, por isso, desempenho meu papel com toda a galhardia possível. Sendo assim, entendo que quem cometeu o crime teve como motivação alguma questão processual. Sobre a quantidade de envolvidos, infelizmente pela condição de iluminação e camuflagem de quem efetuou os disparos, não posso afirmar o número de envolvidos.
Extra SC: O que você sentiu no momento?
Advogado: No momento do fato, escutei um forte estouro e uma batida na região das costas e logo em seguida outro estrondo, momento em que saltei para o interior da residência, fechei a porta e acionei a Policia Militar.
Extra SC: Após o ocorrido, qual foi sua sensação de ver que foi salvo por uma mochila?
Advogado: Quando da chegada do Policial, que averiguou todo o imóvel na busca do ofensor, é que fomos ver o local onde o disparo acertou. Mesmo fazendo uso de colete balístico, fiquei impressionado e feliz por ter sido salvo por uma mochila e um notebook. Objetos de valor, mas, inestimáveis em relação a minha vida e integridade física.
Extra SC: Sua percepção de “vida”, mudou após o ocorrido?
Advogado: Sim, no dia do ocorrido tive um dia normal, vários atendimentos no escritório, movimentações processuais, e demais atos cotidianos. ao término do expediente, me preparei para assumir minha oura profissão bombeiril. Até ai, nada de anormal, mas em questão de segundos, sem qualquer motivo aparente, fui alvejado por disparos de arma de fogo, de maneira que me impossibilitou a defesa, porque efetuados pelas costas, no escuro e com o autor escondido. Concluí, que nossa vida é tão importante, que somos capazes de tantas coisas, e em uma fração de segundo, os sonhos, as metas, os objetivos, a família, o emprego, enfim, tudo pode acabar.
Dessa forma concluo que devemos realmente viver intensamente cada momento, porque não sabemos quando a vida findará.
Extra SC: O que você gostaria de dizer para as pessoas que lerem a reportagem?
Advogado: Primeiro, valorizem suas vidas, prezem pela sua segurança e integridade e por fim, enquanto CISSERANO sobrevivente da selva, estejam preparados para enfrentarem as condições adversas.
Extra SC: Para finalizar, o que você tem a dizer para o autor do crime?
Advogado: Costumo falar nos processos do tribunal do júri que os crimes de homicídio tentado ou consumado podem ser cometidos por qualquer pessoa. Todos estão passíveis de terem que lançar mão do direito constitucional da preservação da vida sua ou de outrem, na forma de legitima defesa, sem a aplicação de pena, ou com atenuantes, quando ocorrem circunstancias que amenizam o crime. Segundo Nelson Hungria, não há crime sem motivo. Contudo, não possuo desafetos em uma proporção gigantesca que justifique um ato de tamanha brutalidade e covardia cometido pelas costas, mediante emboscada, sem possibilidade alguma de defesa. Assim, a hediondez do crime merece ser aplicada ao autor como forma de ressocialização, punição, justiça e para que quando ele estiver cumprindo sua pena, reflita seus atos e se torne uma pessoa melhor.
Extra SC: Você perdoa o autor do crime?
Advogado: Antes de adentrar na questão do perdão, precisaria saber a motivação do ato. Se era necessário e justificável. Porém, desconhecendo desafetos que justificassem a atitude, sempre zelando pela ética, moral e razão, não somente sendo bom, mas sendo justo, entendo que não cabe a mim perdoar ao autor, cabe a justiça aplicar-lhe a reprimenda cabível, se for o caso. Porque se a decisão coubesse a mim, ele não seria perdoado, seria punido por seus atos.