Desde 2014, quando veio ao Alto Vale para curtir momentos de descontração em um evento em Rio do Sul, mas acabou sendo arrastada por 800 metros em um acidente, Maristela Strighini, de 46 anos, vive um verdadeiro drama. Ela ainda luta para reconstruir o corpo e a vida, mas a demora para que o acusado de cometer o crime vá a júri popular impossibilita que a moradora de Lages possa tentar deixar de fato o passado para trás. Não bastasse a lentidão para o julgamento do caso, recentemente ela foi condenada na justiça a pagar a dívida quase milionária que tem com um médico do Alto Vale que trabalhou em seu tratamento e diz que não tem como quitar o valor.
A história dela comoveu pessoas de todo país. No dia 13 de abril de 2014 ela estava de carona em uma moto quando após uma colisão foi arrastada por 800 metros, e tinha apenas 1% de chance de sobreviver, mas resistiu a todos os ferimentos e até hoje busca a recuperação, mas revela que precisa conviver com a dor física e psicológica. Maristela conta que teve a face afetada, perdeu a mobilidade do braço e da mão e nem mesmo os remédios a livram da dor que sente diariamente. “Eu precisaria fazer mais cirurgias, mas hoje eu nem tenho mais condições. Tudo é gasto e sofrimento. Preciso aguardar o encerramento desse capítulo para que eu possa virar a página na minha vida”, ressalta.
Ela afirma que se sente revoltada por nunca ter recebido ajuda financeira do acusado para quitar o tratamento médico necessário para sua recuperação e para amenizar os danos estéticos já que teve toda a parte frontal do corpo arrancada. “No acidente ele assumiu que iria pagar tudo, mas como ele não pagou o médico teve que me executar judicialmente para tentar receber. Como não posso mais trabalhar, não tenho renda, o processo segue rolando na justiça. Na época a família dele disse que só pagaria as cirurgias se eu retirasse o processo, tanto é que o médico fez um boletim de ocorrência”, conta.
O julgamento do acusado, Júlio César Leandro, que será através de júri popular, aguarda uma data a ser designada pelo juiz. Com a pandemia o processo atrasou ainda mais, e a vítima espera um desfecho do caso com esperança de que o réu seja condenado. “Eu espero justiça por tudo que aconteceu comigo. Ou então todo mundo pode sair, fazer o que quiser, matar, roubar e não acontece nada? Eu preciso tocar a minha vida, mas enquanto essa fase não passar eu não consigo. Minha mãe morreu há seis meses aguardando esse julgamento, acreditando que estaria ao meu lado nesse júri. Isso me dá uma tristeza, uma sensação de impunidade ”, completa.
Além de todas as consequências físicas, ela relata que também permanece com marcas psicológicas e precisa lutar contra a síndrome do pânico e depressão, mas ressalta que a maior dificuldade é aceitar a demora para que a história tenha um ponto final. “Hoje eu vejo que para eles era muito mais fácil eu ter morrido, iam pagar uma indenização para minha filha e eu não ia estar aqui para provar o que aconteceu”.
Após o acidente, Maristela ingressou com dois processos contra o motorista que é acusado de ter causado o acidente: um cível e outro criminal, mas acredita que o réu hoje tem uma vida normal. “Ele terminou a faculdade, já viajou. Sabemos disso porque ele tem que pedir autorização para viagem. Mas eu vivo a base de remédios fortes, as vezes tenho que dormir até sentada pela dor ”, completa.
Os processos
Tanto no processo cível quanto o criminal, ainda não houve um desfecho e neste momento não há previsão para que isso aconteça. De acordo com o advogado de Maristela Strighini, Luiz Vicente de Medeiros, a última decisão no processo criminal foi que o Superior Tribunal de Justiça determinou o julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data não foi marcada, o que traz ainda mais sofrimento para a vítima. Ele argumenta ainda que a acusação vai manter a tese de tentativa de homicídio. “Ele tentou matar ela e as provas estão ali e não serão mudadas. Ele foi avisado que tinha uma pessoa debaixo do carro, ele fez ziguezague e ele não parou para socorrer, então ele queria matar”.
Já o advogado de Defesa de Júlio César Leandro no processo criminal, Paulo Voltolini, disse apenas que aguarda a data do júri, que acabou atrasando pela pandemia. “Com a pandemia não foi possível fazer, mas assim que passar por certo o juiz vai marcar. Mas sou advogado única e exclusivamente neste processo do acidente de trânsito e não envolve a parte cível, dos outros processos não tenho conhecimento, nem sei se existem ou como estão ou não estão”, afirmou. (Jornal Alto Vale)