Uma cachorra foi morta após ser picada por uma cobra Coral no quintal de uma casa no bairro Campeche, no Sul da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, nesta quinta-feira (7).
A dona do animal, Mariana Lafani, informou o caso em um post na sua página de rede social, e ressaltou a necessidade de cuidado dos moradores com o aparecimento dos répteis, que é mais comum em dias de chuva e calor.
De acordo com Mariana, o efeito da picada foi rápido, e a cachorra morreu cerca de 30 minutos depois, sem tempo de ser atendida pelo veterinário.
“Chegamos em casa por volta das 8h e vimos a nossa cachorrinha da raça West Terrier brigando com a cobra, imediatamente descemos do carro e afastamos ela. Porém não sabíamos se ela havia sido picada”, conta.
“Logo em seguida a cobra de mais ou menos 1,5m entrou em um buraco que havia na grama e ficou escondida. Então colocamos a Pati [cachorra] no bagageiro do carro e levamos ao veterinário, na metade do caminho ela desmaiou, e já chegou na clínica em parada cardíaca, tentaram reanimar porém não conseguiram”, continua.
Segundo o biólogo da UFSC, Tobias Kunz, que é especialista em Herpetologia, a cobra se trata de uma Coral do tipo Micrurus Corallinus.
Esta é uma das 11 espécies de cobras venenosas que podem ser encontradas em Santa Catarina.
Em Florianópolis especificamente, são encontrados três tipos de cobras peçonhetas: a Jararaca comum (Bothrops jararaca), a Jararacuçu (B. jararacussu), além da Microrus Corallinus, explica o profissional.
O biólogo ressalta que os dias de muito calor depois de chuvas são os mais propícios para os aparecimentos dos répteis. Sendo a Jararaca e a Jararacuçu mais ativas ao anoitecer.
Mariana conta que ligou para os bombeiros retirarem o animal de seu quintal. “Nós temos três filhos pequenos, graças a Deus não aconteceu nada com eles. Nossa cachorra foi valente, pois evitou que algo pior viesse a acontecer”, conclui.
A ação foi correta, conforme explica o especialista. “O ideal é manter distância e aguardar até que os Bombeiros ou a PM cheguem com material adequado pra recolher o animal”.
Kunz destaca que os moradores de áreas próximas a regiões de mata não têm como evitar o eventual aparecimento de serpentes. Portanto, o indicado é ter atenção aos sinais e se prevenir.
“Evitar entulhos próximos às residências, que além de fornecerem abrigo também atraem ratos, que são o principal alimento das jararacas (as corais se alimentam de outros répteis, incluindo outras serpentes e lagartos), pode ajudar bastante”, afirma.
Médico veterinário explica os cuidados com animais domésticos
O médico veterinário comportamentalista Ricardo Fontão de Pauli, da Comporvet, afirma que é muito difícil educar um animal doméstico a lidar com cobras.
“Existem alguns adestradores que prometem treinamentos efetivos para cães não pegarem cobras. Ao meu ver isso seria bom, mas se fosse efetivo. Os treinadores precisariam de vários tipos de cobras reais para que esses treinamentos fossem efetivos, e isso é impossível. Não adiantaria você treinar com uma jararaca e depois aparecer uma Coral, o comportamento é completamente diferente.”
Segundo ele, o indicado é apostar em prevenção e tomar muito cuidado. “O mais correto seria você evitar, no seu ambiente, situações que possam gerar esse tipo de ocorrências. Não devemos sair matando cobras, isso não vai resolver e ainda traz riscos à pessoa”, explica.
“Existem algumas lendas, por exemplo colocar alho em volta do terreno. Elas não funcionam. O ideal é controlar a quantidade de matéria orgânica no terreno, assim como ração de animais ou alimentos, para que não chame ratos, e os ratos por consequência chame cobras”.
Em locais com alta incidência de cobras, a dica é murar o terreno, sendo assim o réptil não tem acesso ao interior da casa.
Outro fator crucial para prevenir a aparição de serpentes é a presença de lagartos no local, visto que é o natural predador das cobras.
O que fazer depois que o animal for picado
Caso o animal seja picado, o recomendado é levar para um veterinário o mais rápido possível. Também é muito importante, se possível, identificar qual o tipo de cobra envolvido no acidente.
“Não adianta fazer torniquete, ficar lavando, não perca tempo. Leve o animal direto para uma clínica, e no caminho já ligue para o veterinário e passe as informações.”
Além disso, vale entrar em contato com o CIATox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina), do HU (Hospital Universitário), que é referência no Estado e pode ter o soro antiofídico específico.
Ricardo Fontão ressalta que o soro para cobra Coral é muito raro e caro em todo o Estado. Porém, é uma das mais comuns de ocorrências de acidentes ofídicos em Florianópolis.
“No caso da Coral, ela causa uma paralisia da musculatura e um dos primeiros sintomas é insuficiência respiratória, que pode causar sua morte. Por isso o tratamento é com ventilação mecânica, mantendo o animal entubado.”
É importante que, caso o animal doméstico seja visto próximo a uma cobra, ele seja levado à uma clínica veterinária antes mesmo de apresentar algum sintoma.
Além disso, se possível, e com toda a segurança, “pegue a cobra e leve até uma clínica veterinária junto ao animal para o profissional avaliar se houve algum sinal compatível com aquele acidente ofídico ou não”, recomenda o especialista. (ND+)