A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 41,6 milhões em dezembro, segundo números divulgados nesta segunda-feira (4) pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. No mesmo mês de 2019, havia sido registrado um superávit de R$ 5,9 bilhões. Com o resultado de dezembro, a balança acumulou superávit de US$ 50,994 bilhões em 2020, aumento de 7% sobre 2019.
As exportações totalizaram US$ 18,365 bilhões no mês passado. Pela média diária, houve queda de 5,3% sobre o desempenho do mesmo mês de 2019. Já as importações alcançaram US$ 18,406 bilhões e tiveram aumento, também pela média diária, de 39,9% sobre dezembro do ano anterior.
No acumulado de 2020, as exportações somaram US$ 209,920 bilhões, queda de 6,1%, pela média diária, em relação a 2019. Já as importações ficaram em US$ 158,926 bilhões, recuo de 9,7% na mesma base de comparação.
Por setor
Em dezembro, as exportações do setor de agropecuária caíram 21,42%, pela média diária, em relação ao mesmo mês de 2019. No caso da indústria extrativa, houve queda de 8,78%. Na indústria de transformação, foi verificada alta de 0,93%.
Já pelo lado das importações, o recuo nas compras foi de 9,33% na agropecuária e de 52,82% na indústria extrativa. Na indústria de transformação, houve alta de 49,59%.
No acumulado de 2020, as exportações da agropecuária cresceram 6,01%, pela média diária, em relação a 2019. Na indústria extrativa, houve queda de 2,65% e na indústria de transformação, de 11,32%.
O recuo nas importações do setor de agropecuária foi de 3,88% no ano. Na indústria extrativa, houve queda de 41,19% e na indústria de transformação, de 7,68%.
China
No último mês de 2020, as exportações brasileiras para China, Hong Kong e Macau, principais destinos dos produtos brasileiros, caíram 22,5%, pela média diária, em relação ao mesmo mês do ano anterior. As vendas totais para a Ásia recuaram 8,7%.
Na mesma base de comparação, as vendas para a América do Norte caíram 3,4%, para a América do Sul, 4,2%, e para a Europa, 11,5%.
Já no acumulado de 2020, as vendas para a China avançaram 7,3% e, para toda a Ásia, 7,2%. Por outro lado, as exportações para a América do Norte recuaram 21,7%, para a América do Sul, 18,3%, e para a Europa, 9,7%.
Questionado sobre a queda nas exportações brasileiras para parceiros como Estados Unidos, Argentina e países europeus, o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, frisou que o padrão de comércio no ano se deu muito em função da dinâmica de recuperação desses países durante a pandemia de covid-19.
Ferraz destacou que como a região asiática, sobretudo a China, se recuperou mais cedo da pandemia é natural que tenha havido crescimento nas vendas para a região. Em 2020, a participação asiática nas exportações brasileiras atingiu 47,3%, contra 41,4% no ano anterior.
Outros parceiros, frisou, começaram a se recuperar mais recentemente e isso já se refletiu nas vendas realizadas no terceiro e no quarto trimestre.
A dinâmica observada em 2020 foi atípica, defendeu. “Com o passar da pandemia, é natural que o Brasil volte a recuperar mercado nesses países que são importantes destinos de manufaturados.”
Recuperação mais rápida
Ferraz destacou também que a forte resiliência das exportações brasileiras em 2020 foi muito influenciada pelo ritmo de recuperação da região asiática, sobretudo da China.
O perfil dos volumes importados sugere que a queda da atividade econômica ocorreu mais tardiamente no Brasil em relação ao resto do mundo. A velocidade de recuperação, acrescentou, é claramente mais rápida no país.
Ferraz frisou que 2020 foi caracterizado por um cenário mundial de incertezas a respeito do grau de profundidade e extensão da pandemia. “A crise mundial que vivemos e continuamos vivendo foi caracterizada por choques simultâneos de oferta e demanda”, afirmou.
A partir do terceiro trimestre de 2020 começaram a ser observados os sinais de recuperação, disse o secretário. De acordo com a Secex, 94 países implementaram medidas comerciais relacionadas ao combate à pandemia.
“Padrão de comércio mundial, sobretudo no caso brasileiro, foi em muito guiado pelo ritmo de recuperação das maiores economias do mundo”, disse a secretaria.
Já o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão, afirmou que o déficit comercial em dezembro foi influenciado por operações de nacionalização de plataformas de petróleo no mês.
Foram nacionalizadas cinco plataformas, no valor de US$ 4,7 bilhões, na esteira da extinção do antigo Repetro, em 31 de dezembro. De acordo com ele, desconsideradas essas operações, haveria crescimento de somente 4% nas importações. “Haveria um superávit comercial como é sazonalmente esperado.”
Projeções para 2021
Em 2021, a balança comercial brasileira deve registrar um superávit de US$ 53 bilhões, prevê a Secex. O saldo representaria alta de 3,9% sobre 2020.
As exportações devem somar US$ 221,1 bilhões, alta de 5,3% sobre 2020. Já as importações devem ficar em US$ 168,1 bilhões, aumento de 5,8%. A corrente de comércio deve somar US$ 389,2 bilhões, alta de 5,5% em relação a 2020.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia disse que, para 2021, é esperada uma recuperação da demanda interna com a perspectiva de crescimento da economia.
A economia mundial deverá crescer 4,2%, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas com nível de incerteza ainda elevado. É esperada uma recuperação do volume do comércio mundial, afirmou Ferraz.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia também ressaltou que a recuperação do comércio em 2021 deverá ser “relativamente uniforme” entre os setores. De acordo com ele, “certamente” haverá crescimento maior das exportações de bens manufaturados do que o observado em 2020. “E também teremos nível de importação maior”, acrescentou.
A sinalização de crescimento da corrente de comércio de bens manufaturados está ligada à dinâmica de recuperação de países parceiros, como União Europeia, Argentina e Estados Unidos, defendeu.
Ele acrescentou que o crescimento relativo da pauta agrícola em 2020 foi influenciado pela dinâmica da pandemia, com recuperação mais rápida da Ásia. Para 2021, com a recuperação que vem sendo sinalizada por outros parceiros, é esperado que “esse ganho relativo tenda a voltar para uma situação de equilíbrio, onde a participação dos demais setores seja aumentada”. (Valor Econômico)