A menina Fabíola, de 4 anos, não foi o único alvo do casal que raptou a criança da casa onde ela mora em Palhoça, na última sexta-feira (18). A dona de casa Vera*, de 30 anos, moradora de São José, entrou em contato com a reportagem do Grupo ND e relatou que este mesmo casal também teve contato com dois de seus três filhos ao longo do ano.
* Os nomes Amanda, Vera e Marcelo foram usados de maneira fictícia para preservar a identidade da família.
Segundo Vera*, o primeiro contato aconteceu no início do ano, por meio de redes sociais. “Eles ofereciam ajuda financeira, cesta básica, levavam ela pra passear e cuidados com as crianças”, relata a mãe.
O casal então foi até a casa de Vera*, ofereceu ajuda e a mãe acabou deixando a filha de 8 anos sair com o casal, que se mostrava bondoso e, inclusive, falava sobre essa ajuda às famílias com necessidades nas redes sociais.
“Pra mim eles não representavam mal. As pessoas falavam muito bem deles nas redes sociais. Eles tinham um site na internet sobre vida saudável. Eles costumavam dar presentes para as crianças, levavam na praia, no shopping. O que aceitei deles uma vez foi uma cesta básica”, relata a mãe.
A menina Amanda*, de 8 anos, filha de Vera*, saiu muitas vezes com o casal e chegou a dormir na casa deles na Cachoeira do Bom Jesus, no Norte da Ilha, duas vezes.
Segundo a mãe, a criança nunca declarou qualquer tipo de violência por parte do casal. O filho do meio de Vera*, de 6 anos, chegou a ir uma vez na casa dos suspeitos, mas disse não querer ir mais porque o trataram de maneira “rígida” e colocavam de castigo se não “seguisse as regras”.
“Eles tinham uma academia, e se a criança desobedecesse faziam ela fazer exercício pesado”, conta.
O filho mais novo de Vera*, um menino de 3 anos, não chegou a se aproximar do casal. “Ele é muito grudado com a família, não quis ir com eles”, relata Vera*.
Menina esteve com casal no dia do crime
Na sexta-feira em que sequestrou Fabíola, o casal deixou Amanda* em casa pela manhã e afirmou a Vera* que estava com pressa e precisava ir a Palhoça porque estavam em processo adiantado para adoção de uma menina.
“Eles deixaram ela [Amanda*] em casa, disseram que tinham que deixar ela ali, porque iam adotar uma menina e que ela estava esperando por eles. Essa menina era a Fabíola”, relata Vera*.
Desligada das redes sociais, Vera* ficou sabendo do crime através de parentes que contaram a ela o que havia acontecido com a menina Fabíola. “Quando me contaram que eram eles [casal], eu fiquei em choque. Eles sempre diziam que queriam adotar uma menina entre 2 a 4 anos, mas nunca imaginei que fossem fazer algo assim”, afirma Vera*.
Agora a mãe de Amanda* diz estar com medo, porque não sabe quanto tempo o casal ficará preso. Ainda na tarde desta segunda-feira (21), o objetivo de Vera* é ir a delegacia registrar um boletim de ocorrência.
Comportamento estranho
O último contato do casal antes da descoberta do sequestro de Fabíola foi com o pai de Amanda*, Marcelo*, de 29 anos. Ele relatou à reportagem do ND+, que ele e Vera* não deixaram a menina ir com eles, então o homem reagiu ameaçando o pai da criança. Marcelo* e Vera* são separados e a criança mora com a mãe.
O pai de Amanda* mostrou a conversa com o casal, no entanto, os áudios enviados foram apagados. Marcelo* tenta recuperá-los para que sirvam como provas contra os criminosos.
Ainda segundo Marcelo*, na última vez em que o casal levou a menina para a casa deles no Norte da Ilha, havia fotos da menina Fabíola em cima da cama do casal e eles teriam dito que iam adotá-la. “Eles sempre diziam que queriam adotar uma menina e por o nome de Fabíola”, relata o pai.
Criança relatou o que viveu na casa do casal
Marcelo* divide o apartamento com um casal de amigos. Este casal acaba ficando algumas vezes com Amanda* enquanto Marcelo* está no trabalho.
A criança contou à mulher que o casal colocou unhas postiças nela e que falavam para a criança sobre o que uma prostituta faz. “Disseram que iam botar unha postiça nela para ela ficar mais bonita”, relata.
A menina ainda contou que em uma ocasião o casal ficou nu na frente dela e teriam dito para ela “não contar nada para ninguém”. Marcelo* afirma que contou à filha que o casal havia sequestrado Fabíola e tudo o que tinham feito. “Ela não contava nada porque tinha medo que eles fizessem algo. Ela está muito assustada”, afirma.
Ainda segundo o relato, o casal obrigava a menina a comer frango e que se ela não comesse ficaria sem o celular e sem poder falar com a mãe. “Por mais que não maltratassem ela fisicamente, é um terror psicológico”, lamenta.
Na tarde desta segunda-feira, Marcelo* foi à DEIC (Diretoria Estadual de Investigação Criminal) para prestar depoimento sobre o caso. (ND Mais)