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Jovem de 15 anos é primeiro haitiano da história do Grêmio e sonha em trazer mãe ao Brasil

— Ganael Gary


Criado nas ruas de Porto Príncipe, no Haiti, Ganael Gary, 15 anos, deu um passo para concretizar um dos seus maiores sonhos. Ancorou em outro Porto, o Alegre, e assinou contrato de formação com o Grêmio. Integrará as categorias de base do clube gaúcho como o primeiro haitiano da história a vestir a camisa tricolor.

O pai de Ganel, Jean Delince, deixou o Haiti há quatro anos com o objetivo de mudar de vida. Com dois empregos, juntou dinheiro para trazer a esposa, Rose Bherta, madrasta de Gana, o jovem e os dois irmãos, Gamael e Nielmaga. A mãe de Gana, Nelfils Regine, permaneceu em Porto Príncipe.

A realização do sonho do garoto de 15 anos não será só por ele, mas também para ter condições de melhorar a vida de Regine. Quer trazê-la para o Brasil, embora entenda e reconheça todas as dificuldades.

Estou com muita saudade dela (mãe), mas mesmo longe falamos todo dia. Ela diz que vai esperar para chegar. Será difícil, vai esperar um pouco.

No bairro de Carrefour, na capital do Haiti, Gana desfilava o que classificam como talento fora do comum com bolas de papelão pelas ruas, onde aprendeu a jogar. As condições de vida eram complicadas e a barriga por vezes reclamava de fome.

Mas o amor e a relação com o futebol sempre estiveram presentes. Agora, com a ajuda do empresário Pablo Bueno, canaliza toda a esperança para transformar em carreira.

Tanto que já fantasia os movimentos dos ídolos Cristiano Ronaldo, hoje na Juventus, e Mbappé, campeão do mundo com a França na Copa de 2018.

— Gosto do Cristiano, joga muito. Eu jogo como ele, o Mbappé também, porque joga pela ponta, como eu. Gosto muito quando ele joga, várias coisas que ele faz eu tento fazer e dá certo — sinaliza o garoto.

Ganael Gary e o pai, Jean — Foto: Arquivo pessoal

A trajetória em Porto Alegre

A primeira morada em Porto Alegre foi na Ilha do Pavão, em uma casa também com condições bem modestas apesar de todo esforço de Jean. O pai tratou de arrumar um teste para o filho por meio de conhecidos.

No Inter, foi aprovado e chegou até a tirar foto com D’Alessandro. Mas a pandemia interrompeu tudo. O chamado que ficou de acontecer não ocorreu.

Ao mesmo tempo, o empresário Pablo Bueno, de nomes como Tetê, do Shakhtar Donetsk, e Ferreira, do Grêmio, abraçou a família. Colocou o menino em jogos de várzea para observá-lo e gostou do que viu. Os representantes da base tricolor também. Viram uma pelada organizada por Bueno e o aprovaram.

Ganael com o pai e a madrasta — Foto: Arquivo pessoal

No Haiti, há várias pessoas com intenção de ser jogador, mas não têm oportunidade. Tem um clube que me chamou, mas eles viajavam e só eu não ia, porque não tinha dinheiro para fazer o passaporte.

— Ganael Gary

Rapidamente arrumou-se um contrato de formação para o atacante. Bueno também providenciou uma moradia na zona sul de Porto Alegre. Conforme relato de Gana, a primeira residência da sua vida sem goteiras.

O período será, claro, de avaliação para o jovem, mas também de lapidação, já que teve a maior parte da vida forjada em um dos países mais pobres do mundo. Com a ajuda para cumprir o sonho e brilhar nos gramados. (Globo Esporte)