Dois mil e vinte foi um bom ano para o mercado vitivinícola brasileiro. No País, onde não há grande tradição de seu consumo, o vinho foi alçado ao status de bebida da quarentena, e, durante o isolamento social, muitos passaram a ter mais contato com marcas nacionais do produto. Nas festividades deste fim de ano, a procura pelo vinho continua, mas em menor intensidade em comparação aos últimos meses e de forma distinta aos anos anteriores.
O consumo da bebida por pessoa maior de 18 anos no Brasil esteve oscilando em torno de dois litros por ano. Porém, em 2020, o consumo cresceu significativamente. Entre janeiro e setembro, foram consumidos, em média, 2,68 litros per capita, segundo dados da Ideal Consulting, empresa de inteligência especializada no segmento de bebidas e alimentos.
Membro da Pró-Vinho, instituição que promove a divulgação da cultura enófila, Solange Souza acredita que a maior inclusão da bebida nas mesas durante o isolamento se relaciona ao crescimento do interesse das pessoas pela gastronomia.
O presidente da associação Enófilos da Bahia (Enobahia), Waldemar Lott, percebe que, nesse contexto, o vinho foi a principal escolha para acompanhar as refeições porque, por ser uma bebida com grandes variações e culturalmente rica, vai além do consumo. “Poucas são as bebidas que se colocam no centro da mesa e se tornam um assunto como o vinho”, diz Waldemar.
O presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), André Gasperin, acredita que isso se relaciona também a uma mudança de mentalidade com relação ao consumo. Para ele, a ideia de que os vinhos deveriam ser restritos a comemorações ou momentos especiais tem sido superada e a bebida já é cada vez mais incorporada ao dia a dia durante o ano todo.
O boom das vendas está associado ao isolamento social, mas esse não é o único fator de explicação para o superaquecimento do mercado. A União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) assinala que a distribuição, a acessibilidade e o custo-benefício do vinho brasileiro, assim como a alta do dólar, também estão entre os motivos que incentivaram a maior busca, principalmente pelas marcas nacionais. Foi a junção desses aspectos que, de acordo com o presidente da Uvibra, Deunir Argenta, resultou num consumo “totalmente fora da linha”.
Alta demanda
Por conta da alta demanda ao longo da quarentena, a indústria reforçou a distribuição nos meses finais deste ano na expectativa de atender a uma grande busca durante as festividades. Mas o otimismo é acompanhado pela prudência.
O cenário agora é diferente do segundo trimestre do ano, momento em que o consumo de vinho atingiu seu pico. “Temos um vinho que saiu acima do normal das grandes vinícolas entre outubro e novembro. Precisamos agora esperar pelos meses de janeiro e fevereiro para ver como essa saída se comportou. Temos que ter um pouco de cautela para não nos empolgarmos demais”, afirma o presidente da Uvibra.
A compra de vinhos na Vinoteca aumentou em 40% na média entre os meses de abril e julho. O movimento de alta foi contínuo durante grande parte do ano e começou a estagnar em novembro. Na adega, o mercado de Natal e Ano Novo se mantém aquecido como nos anos anteriores, mas as preferências dos clientes mudaram. Ana Paula Galasso, proprietária da Vinoteca, observa que os consumidores estão optando pelas marcas mais baratas neste ano. “Nesta época, eu sempre vendia os vinhos mais caros, considerados os tops. Agora, estamos com pouquíssima procura por eles”, diz.
As proprietárias da Adega Terroir, Carol Souza e Juliana Sena, viram suas vendas dobrarem durante a pandemia. Porém para as festividades de fim de ano o cenário total não é o mesmo de alta demanda. Enquanto o mercado natalino se manteve aquecido para as empresárias, a busca pela bebida típica das comemorações de Réveillon, o espumante, está em queda. “A gente teve venda de vinho para o Natal tanto para presente como para a ceia, mas no caso do espumante a procura caiu em 70%”, afirma Carol Souza.