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Estoque de cloroquina encalhado em Blumenau é suficiente para 100 anos de demanda


O megaestoque de cloroquina encalhado nas farmácias da rede pública de Blumenau é suficiente para um século de demanda. As 36 mil doses enviadas pelo Ministério da Saúde a pedido da prefeitura, para serem prescritas a pacientes de Covid-19, vencem no dia 1º de maio de 2022. A procura tem sido muito pequena.

Entre 21 de agosto, quando os medicamentos chegaram ao município, até 23 de novembro, apenas 89 doses foram retiradas por blumenauenses com prescrição médica. São menos de 30 comprimidos entregues por mês. Neste ritmo, seriam necessários mais 100 anos para dar fim aos 35.911 restantes. Questionada pela coluna, a Secretaria Municipal de Saúde não informou o que pretende fazer com a cloroquina de sobra.

Antes da pandemia, a demanda em Blumenau sempre foi baixa. O remédio é comprovadamente eficaz para tratar malária, artrite reumatoide e lúpus. Porém, a substância entrou no vocabulário do brasileiro depois de transformada em bandeira política, pelo presidente Jair Bolsonaro, na pandemia de Covid-19.

Após meses de polêmica, estudos internacionais comprovaram que o medicamento não produz resultados contra o coronavírus. Cientistas observaram a evolução da doença em pacientes que usaram a cloroquina e compararam com pessoas que não receberam o remédio. Não houve diferença. Apesar das evidências em contrário e de uma saraivada de críticas, o Ministério da Saúde segue indicando o uso para tratamento. Com isso, blumenauenses inundados por mensagens distorcidas cobram de autoridades e profissionais de saúde o “tratamento precoce” com um remédio que não funciona.

Foi nesse contexto, de desinformação e pressão política, que a prefeitura de Blumenau encomendou os 36 mil comprimidos. Mas o município sempre enfatizou que a decisão sobre receitar ou não a cloroquina para pacientes de Covid-19 é do médico. E os médicos não estão receitando.

Somente têm direito a retirar os comprimidos nos ambulatórios gerais pacientes que têm prescrição médica — mesmo que de consultórios privados. Eles precisam assinar um termo de ciência sobre a falta de “estudos suficientes para garantir certeza de melhora clínica dos pacientes com Covid-19 quando tratados com cloroquina”.

Em geral, como não há tratamento comprovadamente eficaz contra o coronavírus, médicos têm indicado apenas drogas para aliviar os sintomas e reduzir o desconforto, como analgésicos e anti-inflamatórios.

A cloroquina nem isso faz.



Fonte: Jornal Santa Catarina