O Ministério da Saúde lançará, até agosto de 2021, a 196, linha de atendimento com informações e socorro para pessoas com doenças mentais. Para isso, a pasta iniciará, no próximo janeiro, curso de treinamento para profissionais da área.
“A linha deve ser colocada à disposição da população até o meio do ano de 2021. E vai se chamar 196, porque todos esses números são usados como linhas de atendimento de urgência, por isso são usadas por Polícias, Bombeiros e SAMU, por exemplo. E servirá para dar informações e ajuda para pessoas com doenças mentais”, afirma ao R7 Planalto Mayra Pinheiro, coordenadora do grupo de trabalho para regulamentar a lei de prevenção ao suicídio e automutilação entre crianças, adolescentes e jovens no país.
O grupo foi criado a partir da Lei Federal nº 13.819/2020, que institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, a ser implementada pela União em cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, além da participação da sociedade civil e de instituições privadas.
Administrada pelo Ministério da Saúde, a equipe é interministerial – participam também funcionários das pastas de Educação, da Cidadania e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Os trabalhos, que já duram quase dois anos, terão ações práticas no primeiro mês de 2021.
“Vamos iniciar agora em janeiro, junto com a Associação Brasileira de Psiquiatria, treinamento nacional de todas as bases do SAMU para que esses profissionais saibam atender pessoas que têm doença mental”, diz Pinheiro. Entre as informações contidas no curso estão uso de medicamentos, encaminhamentos, prescrição de remédio e afins.
A coordenadora explica que o curso será por adesão de funcionários, custeado pelo governo federal, e replicado dos Estados por monitores. Pinheiro conta que a estimativa é, que nesse primeiro momento, 200 profissionais se inscrevam no treinamento.
“E aí, enquanto isso, estamos estruturando uma linha telefônica, com toda segurança, para atender esses pacientes”, acrescenta. O canal, que receberá o número 196, é similar ao 190, da Polícia Militar, e 193, dos Bombeiros. Essa linha, portanto, deverá funcionar até agosto de 2021.
Os números do Brasil
Estimativas feitas em 2019 pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apontaram que 5,8% dos brasileiros, cerca de 12 milhões de pessoas, sofrem de depressão. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos.
A organização estima, também, que entre 20% e 25% da população teve, tem ou terá depressão, sendo essa a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil.
Pinheiro diz que a saúde mental passa por uma “conjuntura triste, de profunda negligência com os doentes”. “As pessoas tratam como doidos. E essa palavra eu aplico a outras pessoas da sociedade – aquelas que cometem atos de corrupção, de nepotismo, esses sim são doidos. Os que têm doença mental podem ser tratados, e estamos providenciando os serviços adequados para atendê-los”, diz.
A coordenadora acrescenta que a situação se agravou durante a pandemia do novo coronavírus. Ela conta que o Ministério da Saúde viu explodir os números de brasileiros que sofrem de ansiedade e depressão, por exemplo, no período de quarentena.
Dados iniciais, contidos na primeira fase da pesquisa do Ministério da Saúde, apontam que a ansiedade é o transtorno mental mais presente entre os brasileiros na pandemia. De acordo com a análise, foi verificada a elevada proporção de ansiedade (86,5%), uma baixa moderada presença de transtorno de estresse pós-traumático (45,5%) e uma baixa proporção de depressão (16%) em sua forma mais grave.
A amostra da primeira fase é resultado da análise de 17.491 indivíduos com idade média de 38,3 anos, variando entre 18 e 92 anos. A maioria dos participantes é do sexo feminino (71,9%), brancos (61,3%), casados (44,3%), residentes em bairros populares (46,8%), e com renda mensal variando entre R$ 1.049,00 e R$2,096,00 (24,3%).
O percentual de brasileiros que declararam ter recebido diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental subiu 34,2% em seis dados, mostram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados neste mês. A PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) 2019 aponta que 10,2%, cerca de 16,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos sofrem da doença. (R7)