A prefeitura de Itajaí comprou um carregamento com um milhão de doses do medicamento ivermectina, um antiparasitário que segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é usado para tratar lombrigas e piolhos, para prevenir o novo coronavírus. A medicação não tem comprovação científica de que proteja contra a Covid-19.
A prefeitura não divulgou o quanto investiu na compra das doses, que serão distribuídas em postos de saúde e em uma estrutura montada no Centreventos. Cada morador receberá a dose de acordo com o peso, em três etapas. Um segundo carregamento, com dois milhões de comprimidos, chegará à cidade nas próximas semanas. Quem tomar a ivermectina assinará um termo de consentimento.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia emitiu nota em que afirma que “não existem evidências científicas de que quaisquer das medicações disponíveis no Brasil, tais como ivermectina, cloroquina ou hidroxicloroquina, isoladas ou associadamente, sejam capazes de evitar a instalação da doença em indivíduos não infectados. Isso também é verdade para vitaminas, como, por exemplo, a C e D, e suplementos alimentares contendo zinco ou outros nutrientes”.
A Sociedade Brasileira de Infectologia alertou, em nota, que os testes com ivermectina são insuficientes para estabelecer o uso do medicamento para curar ou prevenir covid-19. “Vivemos uma séria crise de saúde pública. Não podemos colocar em risco a saúde da população brasileira com orientações sem evidência científica. A avaliação do uso de qualquer medicamento fora de sua indicação aprovada (off-label) deve ser uma decisão individual do médico, analisando caso a caso e compartilhando os possíveis benefícios e riscos com o paciente, porém é vedado a publicidade sobre tal conduta”.
Esta não é a primeira vez que Itajaí distribui medicamentos para “melhora da imunidade”. O município já disponibilizou doses de cânfora, uma medicação homeopática, informando que seria útil para evitar o agravamento da covid-19. O uso de homeopatia é defendido pelo prefeito Volnei Morastoni, que é médico.
Contato com Lucy Kerr
Para estabelecer a profilaxia com ivermectina, o prefeito teria feito contato com a médica ultrassonografista Lucy Kerr, de São Paulo, que é notória defensora da ivermectina. Ela falou sobre o prefeito em uma “live” nas redes sociais com a jornalista Leda Nagle. Disse que sugeriu a Morastoni a distribuição massiva de doses com base na experiência de uma cidade na Bolívia, que segundo ela conseguiu estancar a pandemia.
A coluna questionou a assessoria de imprensa da prefeitura de Itajaí na última terça-feira (30) sobre a relação do prefeito com a médica e a distribuição de doses, mas, seis dias depois, ainda não obteve resposta.
Além da prevenção, a prefeitura também adotará protocolo com uso de ivermectina e outros medicamentos para tratamento de pessoas contaminadas, a exemplo do que fez Balneário Camboriú. Por lá, a inclusão de medicamentos sem comprovação de eficácia levou três médicos a se afastarem do comitê que faz a gestão da pandemia – inclusive a então presidente, Rosalie Knoll.
Com informações do Diário Catarinense