Uma equipe de cientistas europeus, chineses e norte-americanos descobriu a linhagem que deu origem ao Sars-CoV-2, causador da pandemia de Covid-19. Analisando a história evolutiva do novo coronavírus, os novos pesquisadores concluíram que a linhagem do microrganismo evoluiu por décadas em morcegos e provavelmente inclui traços de outros vírus que infectam humanos.
"Os coronavírus têm material genético altamente recombinante, o que significa que diferentes regiões do genoma do vírus podem ser derivadas de várias fontes", disse Maciej Boni, professor associado de biologia da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e coautor do estudo, publicado nesta terça-feira (28) na Nature Microbiology, em declaração. "Isso tornou difícil reconstruir as origens do Sars-CoV-2, pois é preciso identificar todas as regiões [do genoma viral] que foram recombinadas e rastrear suas histórias."
Analisando o genoma a fundo, os cientistas puderam reconstruir as relações evolutivas entre o Sars-CoV-2 e seus "parentes" conhecidos por afetarem morcegos e pangolins. Os pesquisadores descobriram que a linhagem do microrganismo já era obsevada entre 40 e 70 anos atrás em morcegos.
Embora o novo coronavírus seja parecido com o RaTG13, detectado em morcegos na China em 2013, ele diverge de um exemplar viral encontrrado em 1969. Além disso, a equipe descobriu que uma das características mais antigas que o Sars-CoV-2 compartilha com seus parentes é o domínio de ligação ao receptor (RBD, na sigla em inglês), que está localizado na proteína spike (de pico) e permite que o vírus reconheça e se ligue às células humanas.
De acordo com os cientistas, isso significa que outros vírus capazes de infectar humanos estão circulando em morcegos na China e sugere que associar mudanças evolutivas do microrganismo a pangolins é um erro.
"Embora seja possível que os pangolins possam ter agido como um hospedeiro intermediário facilitando a transmissão do Sars-CoV-2 aos seres humanos, não existem evidências que sugiram que a infecção destes animais seja um requisito para que os vírus do morcego 'pule' para os seres humanos", explicou David L. Robertson, coautor do estudo e professor de virologia computacional do Centro de Pesquisa Viral da Universidade de Glasgow, na Escócia. "Em vez disso, nossa pesquisa sugere que o Sars-CoV-2 provavelmente evoluiu a capacidade de se replicar no trato respiratório superior de humanos e pangolins."
Os cientistas acreditam que para prevenir futuras pandemias é necessário estudar mais a fundo os microrganismos que atingem outros animais, principalmente os morcegos. "Atrasamos para responder ao surto inicial de Sars-CoV-2, mas esta não será nossa última pandemia de coronavírus", disse Maciej Boni. "Um sistema de vigilância muito mais abrangente e em tempo real precisa ser implementado para capturar vírus como esse quando o número de casos ainda estiver na casa dos dois dígitos."
Fonte: G1