Treinamento para tratamento de Covid-19.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Esta é a semana mais crítica do Paraná desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus. A explosão no número de casos e o alto índice de mortes acendeu o alerta de autoridades sanitárias. A taxa de ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pela Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) chegou a 58% nesta quarta-feira (16), contra 48% registrados no início de junho e 35% um mês antes, em 16 de maio. Em Curitiba, a lotação atingiu 84%.
Por outro lado, os leitos Covid em enfermarias continuam subutilizados. Um mês atrás, a taxa de ocupação no Paraná estava em 22%; subiu para 30% no início de junho, e chegou a 36% agora. Na Macrorregional Leste, que engloba Curitiba, a taxa de ocupação em enfermaria é de 46%, ao passo que a ocupação de UTIs atingiu 74%. Esse é um padrão nacional. Segundo o painel gestão de leitos do Ministério da Saúde, a ocupação de leitos Covid em enfermarias nesta quarta-feira (17) era de 58%, contra 105% nas UTIs – isto é, há fila por atendimento complexo.
Mesmo sem lotação de UTIs até agora, as mortes vêm se acumulando em Curitiba e no Paraná, indicado a gravidade da doença, mas também a dificuldade de recuperação pelo atendimento tardio. Nesta quarta-feira, ao divulgar o boletim diário de casos, a secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak, destacou a estrutura hospitalar de Curitiba, que mesmo assim não está conseguindo impedir as mortes por Covid-19. “Não faltou UTI, não faltaram as melhores assistências, não faltou a melhor medicina, os melhores intensivistas, a melhor enfermaria, o melhor ventilador, e foram à óbito. Não é brincadeira”, afirmou. Em outras ocasiões ela já havia falado sobre a demora por parte dos pacientes a procurar um serviço médico.
“A gente observou alguns casos confirmados e até internados que esperam muito tempo para procurar um serviço de saúde. Tivemos uma situação, que foi um óbito depois, que só no 10º dia após quadro de febre alta, tosse, que foi procurar atendimento. Este é um momento em que as pessoas precisam ficar atentas, qualquer situação procure seu serviço de referência, plano de saúde, ou nos procure”, afirmou a secretária em 3 de junho.
Atendimento precoce pode ser a saída?
Mas há quem defenda uma postura mais ativa do poder público e até da sociedade civil organizada para monitorar esses casos. O secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro Fernando Ferry, que assumiu o posto em 19 de maio, afirmou na ocasião que iria se valer da experiência do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), onde ele foi diretor por cinco anos. “A mortalidade Gafree e Guinle é praticamente zero. Quando a gente trata esse paciente de uma forma precoce, o resultado é muito melhor”, afirmou. Dias depois, após atrair críticas de infectologistas que temiam falta de investimento em leitos de UTI, o secretário reiterou que essa era uma recomendação, e não um protocolo obrigatório.
Mais de um mês antes disso, o Instituto Estáter, braço social da consultoria de mesmo nome, com sede em São Paulo, começou a investigar os cenários que contribuem para a letalidade da Covid-19, e já vinha defendendo um novo protocolo. “Uma das razões que podem justificar a lotação das UTIs é a internação tardia. Os indícios são de que muitos dos que forem internados com queda pequena na saturação de oxigênio poderão se recuperar sem passar pela UTI, utilizando-se apenas de cateter e outras formas de apoio de oxigênio”, disse o sócio-fundador da Estáter, Pércio Freire Rodrigues de Souza.
Em 9 de junho, a Gazeta do Povo publicou reportagem sobre a iniciativa da Estáter de disseminar o uso de oxímetros como forma de acompanhar as pessoas do grupo de risco contaminadas pelo coronavírus. A instituição SAS Brasil, que faz o trabalho de campo de monitoramento das condições de saúde com voluntários, acumula resultados promissores: de um grupo de 4 mil pessoas acompanhadas em comunidades carentes de São Paulo e Rio de Janeiro, 40 foram encaminhadas ao hospital. “Mas não houve nenhum óbito, porque estamos encaminhando no momento certo”, afirmou.
Papel dos agentes comunitários
Além de voluntários, há profissionais específicos para esse monitoramento: os agentes comunitários de saúde (ACS). Curitiba, porém, atualmente conta com a menor cobertura de agentes comunitários de saúde dos últimos dez anos, e tem o pior índice dentre as maiores cidades do Sul do Brasil. Mesmo com pouca gente, não é feito um trabalho específico porque não há um protocolo definido pelo Ministério da Saúde.
Isso gerou uma série de ponderações feita pela demógrafa Marcia Castro, uma das chefes de departamento na Escola de Saúde Pública de Harvard (Estados Unidos). Ela já participou remotamente de dois seminários realizados pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar ações de vigilância contra a Covid-19 e possíveis consequências para o Brasil.
“A busca ativa e o rastreamento de contatos pelos agentes comunitários seriam críticos neste momento em que muitas cidades praticam algum tipo de distanciamento social, a fim de minimizar a contaminação entre grupos de risco e maximizar a detecção de indivíduos que possam ter sido expostos ao risco e possam ser transmissores. Isso contribuiria para reduzir a demanda dos serviços hospitalares, que já está acima da capacidade em várias cidades do Brasil”, afirmou Marcia Castro, dia 14 de maio.
Gravidade é considerada
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou, via assessoria de imprensa, que assim que uma pessoa procura uma unidade de saúde com sintomas, ela deve fazer o isolamento, para evitar a contaminação de mais pessoas. O Paraná tem aumentando a testagem e o tempo médio de espera por um resultado é de até 48 horas. Segundo a Sesa, a internação em enfermaria ou UTI depende do quadro clínico do paciente. “Não se pode colocar um paciente em estado grave em uma enfermaria quando ele necessita de UTI com respirador, como um caso mais crítico”.
A respeito de possíveis mudanças de conduta ou de protocolo, a Sesa informou que “diariamente todas as medidas são discutidas pelos membros do Centro de Operações em Emergências na Sesa, de acordo com os números e aumento da doença no Estado, seguindo protocolos, que consideram a gravidade da situação”.
A Secretaria Municipal de Saúde foi procurada pela reportagem para comentar a questão do internamento em enfermarias, mas não respondeu os contatos até a publicação da reportagem.
Gazeta do Povo
Esta é a semana mais crítica do Paraná desde o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus. A explosão no número de casos e o alto índice de mortes acendeu o alerta de autoridades sanitárias. A taxa de ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pela Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) chegou a 58% nesta quarta-feira (16), contra 48% registrados no início de junho e 35% um mês antes, em 16 de maio. Em Curitiba, a lotação atingiu 84%.
Por outro lado, os leitos Covid em enfermarias continuam subutilizados. Um mês atrás, a taxa de ocupação no Paraná estava em 22%; subiu para 30% no início de junho, e chegou a 36% agora. Na Macrorregional Leste, que engloba Curitiba, a taxa de ocupação em enfermaria é de 46%, ao passo que a ocupação de UTIs atingiu 74%. Esse é um padrão nacional. Segundo o painel gestão de leitos do Ministério da Saúde, a ocupação de leitos Covid em enfermarias nesta quarta-feira (17) era de 58%, contra 105% nas UTIs – isto é, há fila por atendimento complexo.
Mesmo sem lotação de UTIs até agora, as mortes vêm se acumulando em Curitiba e no Paraná, indicado a gravidade da doença, mas também a dificuldade de recuperação pelo atendimento tardio. Nesta quarta-feira, ao divulgar o boletim diário de casos, a secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak, destacou a estrutura hospitalar de Curitiba, que mesmo assim não está conseguindo impedir as mortes por Covid-19. “Não faltou UTI, não faltaram as melhores assistências, não faltou a melhor medicina, os melhores intensivistas, a melhor enfermaria, o melhor ventilador, e foram à óbito. Não é brincadeira”, afirmou. Em outras ocasiões ela já havia falado sobre a demora por parte dos pacientes a procurar um serviço médico.
“A gente observou alguns casos confirmados e até internados que esperam muito tempo para procurar um serviço de saúde. Tivemos uma situação, que foi um óbito depois, que só no 10º dia após quadro de febre alta, tosse, que foi procurar atendimento. Este é um momento em que as pessoas precisam ficar atentas, qualquer situação procure seu serviço de referência, plano de saúde, ou nos procure”, afirmou a secretária em 3 de junho.
Atendimento precoce pode ser a saída?
Mas há quem defenda uma postura mais ativa do poder público e até da sociedade civil organizada para monitorar esses casos. O secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro Fernando Ferry, que assumiu o posto em 19 de maio, afirmou na ocasião que iria se valer da experiência do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), onde ele foi diretor por cinco anos. “A mortalidade Gafree e Guinle é praticamente zero. Quando a gente trata esse paciente de uma forma precoce, o resultado é muito melhor”, afirmou. Dias depois, após atrair críticas de infectologistas que temiam falta de investimento em leitos de UTI, o secretário reiterou que essa era uma recomendação, e não um protocolo obrigatório.
Mais de um mês antes disso, o Instituto Estáter, braço social da consultoria de mesmo nome, com sede em São Paulo, começou a investigar os cenários que contribuem para a letalidade da Covid-19, e já vinha defendendo um novo protocolo. “Uma das razões que podem justificar a lotação das UTIs é a internação tardia. Os indícios são de que muitos dos que forem internados com queda pequena na saturação de oxigênio poderão se recuperar sem passar pela UTI, utilizando-se apenas de cateter e outras formas de apoio de oxigênio”, disse o sócio-fundador da Estáter, Pércio Freire Rodrigues de Souza.
Em 9 de junho, a Gazeta do Povo publicou reportagem sobre a iniciativa da Estáter de disseminar o uso de oxímetros como forma de acompanhar as pessoas do grupo de risco contaminadas pelo coronavírus. A instituição SAS Brasil, que faz o trabalho de campo de monitoramento das condições de saúde com voluntários, acumula resultados promissores: de um grupo de 4 mil pessoas acompanhadas em comunidades carentes de São Paulo e Rio de Janeiro, 40 foram encaminhadas ao hospital. “Mas não houve nenhum óbito, porque estamos encaminhando no momento certo”, afirmou.
Papel dos agentes comunitários
Além de voluntários, há profissionais específicos para esse monitoramento: os agentes comunitários de saúde (ACS). Curitiba, porém, atualmente conta com a menor cobertura de agentes comunitários de saúde dos últimos dez anos, e tem o pior índice dentre as maiores cidades do Sul do Brasil. Mesmo com pouca gente, não é feito um trabalho específico porque não há um protocolo definido pelo Ministério da Saúde.
Isso gerou uma série de ponderações feita pela demógrafa Marcia Castro, uma das chefes de departamento na Escola de Saúde Pública de Harvard (Estados Unidos). Ela já participou remotamente de dois seminários realizados pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados destinada a acompanhar ações de vigilância contra a Covid-19 e possíveis consequências para o Brasil.
“A busca ativa e o rastreamento de contatos pelos agentes comunitários seriam críticos neste momento em que muitas cidades praticam algum tipo de distanciamento social, a fim de minimizar a contaminação entre grupos de risco e maximizar a detecção de indivíduos que possam ter sido expostos ao risco e possam ser transmissores. Isso contribuiria para reduzir a demanda dos serviços hospitalares, que já está acima da capacidade em várias cidades do Brasil”, afirmou Marcia Castro, dia 14 de maio.
Gravidade é considerada
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou, via assessoria de imprensa, que assim que uma pessoa procura uma unidade de saúde com sintomas, ela deve fazer o isolamento, para evitar a contaminação de mais pessoas. O Paraná tem aumentando a testagem e o tempo médio de espera por um resultado é de até 48 horas. Segundo a Sesa, a internação em enfermaria ou UTI depende do quadro clínico do paciente. “Não se pode colocar um paciente em estado grave em uma enfermaria quando ele necessita de UTI com respirador, como um caso mais crítico”.
A respeito de possíveis mudanças de conduta ou de protocolo, a Sesa informou que “diariamente todas as medidas são discutidas pelos membros do Centro de Operações em Emergências na Sesa, de acordo com os números e aumento da doença no Estado, seguindo protocolos, que consideram a gravidade da situação”.
A Secretaria Municipal de Saúde foi procurada pela reportagem para comentar a questão do internamento em enfermarias, mas não respondeu os contatos até a publicação da reportagem.
Gazeta do Povo