Foto: Fernando Bizerra/EFE
“A covid-19 virou o mundo de cabeça para baixo”. É de uma forma pouco tradicional que começa o informe de mais de 30 entidades internacionais que, juntas, tentam desenhar a atual situação e fazer um raio-X de um paciente: o mundo.
Alguns números econômicos surpreendentes publicados nesta quarta-feira, dia 13, incluem uma queda anual de 9% na produção global e na produção manufatureira. Para o segundo trimestre, a queda do comércio deve ser de 27%, algo inédito em gerações. Também se estima que haverá a maior queda nos preços globais de commodities, de 20,4%, o que deve gerar um impacto negativo para o Brasil.
No lado social, a constatação é de uma “chocante perda de empregos, uma queda de quase 10,5% no total de horas de trabalho, o equivalente a 305 milhões de trabalhadores em tempo integral”.
Cerca de 1,6 bilhão de estudantes foram afetados pelo fechamento de escolas e a crise vai empurrar até 60 milhões de pessoas para a pobreza extrema, um cenário jamais visto em apenas um ano e revertendo uma década de avanços sociais.
A crise é maior que o colapso dos bancos em 2008, que o impacto do terrorismo em 2001 ou que a quebra dos mercados asiáticos em 1998.
“Tudo foi impactado”, diz o informe produzido pela ONU (Organização das Nações Unidas), FAO (ONU para Agricultura e Alimentação), OMS (Organização Mundial da Saúde), OMC (Organização Mundial do Comércio), Banco Mundial e vários outros organismos. “Cada aspecto de nossas vidas tem sido afetado”, relata o informe.
Para eles, as decisões tomadas agora e nos próximos meses serão algumas das mais importantes tomadas em gerações. “Elas afetarão as pessoas em todo o mundo nos próximos anos”, alertam.
O que as entidades descobriram ao reunir os dados é que, de fato, a crise é sem precedentes. “As estatísticas apresentadas neste relatório são inéditas. Estamos testemunhando pontos de dados e inflexões de tendências que teriam sido inimagináveis há apenas alguns meses”, admitem.
E as entidades alertam: os dados que seguem abaixo são apenas a “ponta de um iceberg” de uma verdadeira revolução com consequências ainda desconhecidas.
Produção
Pelo mundo, o fechamento de fronteiras, o impacto da doença e mortes, além da quarentena transformaram economias. A China, no primeiro trimestre, registrou uma contração de 6,8%, o pior resultado desde 1992, quando os dados começaram a ser publicados. No Reino Unido, a projeção é de uma queda de 14% no PIB em 2020, algo inédito desde 1706. Há 300 anos, a contração recorde havia sido de 15%.
Nos EUA, o consumo privado registrou a maior queda desde 1980, enquanto a previsão do PIB para o segundo trimestre é de que uma contração inédita de 39%, a maior desde 1947 quando os dados começaram a ser calculados.
Turismo
Depois de aumentar quase ininterruptamente e mais do que duplicar desde 2000, o turismo em 2020 deve diminuir entre 60% e 80% em relação a 2019. Os dados disponíveis mostram que as viagens no mês de março caíram 60% em relação ao mesmo mês em 2019. O impacto será particularmente crítico em territórios que dependem fortemente do turismo internacional e a previsão apenas para 1,1 bilhão de desembarques a menos em 2020, em comparação a 2019. No auge da crise econômica de 2008, a queda foi de 36 milhões de viagens.
Emprego
Os dados do desemprego também são inéditos. No início de abril, 81% da força de trabalho global vivia em países com confinamentos obrigatórios. O resultado é que as horas trabalhadas em todo o mundo podem cair no trimestre atual em cerca de 10,5%. Isto equivale a 305 milhões de trabalhadores em tempo integral. Para a OIT (Organização Internacional do Trabalho), essa é já a pior crise global desde a Segunda Guerra Mundial. A queda em horas trabalhadas já superou a da crise financeira de 2008-2009 e sequer ainda se conhece todos os impactos da crise.
Pobreza
A covid-19 ainda causará “o primeiro aumento da pobreza global desde 1998”. “Com as novas previsões, a pobreza global, a parcela da população mundial que vive com menos de US$ 1,90 por dia, deverá aumentar de 8,2% em 2019 para 8,6% em 2020, ou de 632 milhões para 665 milhões de pessoas”, indica o informe. Antes da pandemia, a projeção era de uma queda para 7,8%.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta que as economias avançadas se contrairão em cerca de 6% em 2020. No entanto, com mais pessoas vivendo perto da linha de pobreza internacional, os países em desenvolvimento, de baixa e média renda, sofrerão as maiores consequências em termos de pobreza extrema.
Vinte e três milhões das pessoas empurradas para a pobreza estão previstas na África Sub-Sahariana e 16 milhões no Sul da Ásia. Na América Latina, 2,7 milhões de pessoas passarão a viver na pobreza extrema.
Se considerar o número de pessoas que vivem com menos de 5,50 dólares por dia, mais de 100 milhões de pessoas também serão empurradas para a pobreza no mundo.
Droga e violência
Dados preliminares sobre as tendências de violência sugerem que as medidas de confinamento dificilmente impactaram a violência em países com altos níveis de homicídios. As tendências de homicídios em dois países da América Central, por exemplo, se mantiveram estáveis nas quatro semanas após a implantação das medidas de quarentena.
Em contrapartida, em países com baixo índice de homicídios, a intensidade das medidas de bloqueio parece ter reduzido drasticamente a violência, assaltos e crimes. Um dos países que registrou essa queda foi a Itália. O que registrou um forte aumento, porém, foi a taxa de violência doméstica.
O impacto da covid-19 no tráfico de drogas também foi identificado, obrigando o transporte de heroína a buscar novos caminhos para cruzar fronteiras. As grandes apreensões relativamente recentes de cocaína em portos europeus demonstram o contínuo tráfico internacional de cocaína, que passou a usar as rotas marítimas diante do fechamento de fronteiras e aeroportos.
Com informações do UOL