O Reino Unido tem interesse em iniciar negociações para um acordo de livre comécio com o Mercosul logo após a concretização do Brexit, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, que se reuniu hoje em Davos com seu colega britânico das Finanças, Sajid Javid. “Nós queremos e eles querem”, resumiu Guedes, ao fazer um balanço de suas atividades do dia no Fórum Econômico Mundial.
O bloco sul-americano fechou um tratado comercial com a União Europeia no ano passado, que ainda precisa de ratificação parlamentar. O Reino Unido ficaria de fora da redução mútua de tarifas de importação com o Brexit e precisaria negociar do zero novos acordos.
Segundo Guedes, o Brasil está determinado a levar adiante um processo de abertura comercial. “Nós pressupomos que a Argentina vai nos acompanhar. Se ela não acompanhar…”, brincou, sem completar a frase.
Para o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, que acompanhou Guedes na maioria das reuniões, um acordo de livre comércio Mercosul-Reino Unido tende a ter uma negociação menos complicada porque é hoje o país menos protecionista da Europa.
Troyjo acrescentou que o Brasil já pode avançar com os britânicos, isolada e independentemente dos demais sócios no bloco sul-americano, sobre temas não tarifários.
David também garantiu apoio “enfático” de Londres à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo Guedes. Ambos falaram ainda sobre a possibilidade de um acordo bilateral para evitar a dupla cobrança de impostos, o que diminui a carga tributária de empresas de um país instaladas em outro.
O ministro esteve hoje com o comissário de Comércio da UE, Phil Hogan, que transmitiu o compromisso de engajamento de Bruxelas com a assinatura do acordo de livre comércio com o Mercosul. “Está indo tudo bem com o acordo, existe uma maioria [de países] favorável, há um outro ou outro problema, mas vamos superar”, teria afirmado Hogan, segundo relato do próprio Guedes.
Em Davos, governo encontra investidores para oferecer R$ 320 bilhões em projetos
A delegação brasileira no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, terá um encontro nesta quarta-feira, 22, com 20 grandes investidores para apresentar a carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, o encontro será uma ponte para tentar atrair capital estrangeiro para financiar projetos de médio e longo prazos no País.
O governo vai apresentar todos os 115 projetos já estruturados ou ainda em fase de estudo que compõem a carteira para 2020 e 2021, que equivalem a R$ 320 bilhões, sendo R$ 264,1 bilhões em investimentos e outros R$ 55,5 bilhões em privatizações. Isso inclui o leilão de 5G, cuja consulta pública será aberta em fevereiro. Estados Unidos e China estão envolvidos numa disputa por causa da nova tecnologia. De acordo com o governo, o edital e o leilão estão previstos para o segundo semestre deste ano. As estimativas iniciais de valor da outorga (taxa paga para explorar a concessão pública) mais os investimentos ficam em torno de R$ 20 bilhões.
O governo também vai apresentar a carteira com 11 ferrovias (como a Ferrogrão, que tem 933 quilômetros entre Sinop/MT e Miritituba/PA), 22 aeroportos divididos em três blocos, 19 rodovias, além da privatização de empresas como Eletrobrás, Nuclep, Casa da Moeda e estudos para a desestatização de Telebrás e Correios.
A apresentação ainda inclui projetos estaduais de concessão nas áreas de saneamento, como é o caso da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), do Rio de Janeiro.
A secretária do PPI, Martha Seillier, disse ao jornal O Estado de São Paulo/Broadcast que o objetivo é apresentar oportunidades de investimentos para esses investidores e desfazer qualquer “mal-estar” em relação ao Brasil sobre questões ambientais ou outras polêmicas envolvendo o governo.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro demitiu o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, após ele divulgar um vídeo parafraseando Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista. Às vésperas da viagem a Davos, o episódio trouxe preocupação para a área econômica e temor de que a fala “manchasse” a participação brasileira no evento.
Ambiente
As questões ambientais também ficaram sob o holofote nos últimos meses após queimadas na Amazônia e avanço no desmatamento. Nessa edição do fórum, meio ambiente, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável são temas centrais e entraram no radar dos investidores e tomadores de decisão.
“Esses eventos em alto nível, (em que) normalmente você está com o CEO da companhia, são uma oportunidade para tirar dúvidas, desfazer algumas situações, alguns questionamentos em relação ao Brasil, qualquer tipo de mal-estar”, disse Martha, que viajou a Davos para se juntar à delegação brasileira.
O café da manhã está sendo organizado pelo Itamaraty e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). Por uma limitação de espaço, 20 investidores serão selecionados entre os que demonstraram interesse na conversa com o governo brasileiro. A lista dos participantes não foi divulgada.
Na apresentação, à qual a reportagem teve acesso, há um capítulo específico sobre licenciamento ambiental, apresentado como o principal instrumento de controle para implementação de atividades que usem recursos ambientais ou apresentem risco de degradação ao meio ambiente. “É objetivo central da política compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”, diz o texto.
Para a secretária, a presença de Guedes será crucial para dar também segurança aos investidores de que o Brasil está fazendo o “dever de casa” na área fiscal e segue endereçando outras reformas, como a tributária e a administrativa.
Fonte: Valor Econômico/ Agência Estado