Venice é resultado de 15 anos de estudos da Epagri em Caçador(Foto: Divulgação/Epagri)
Uma nova variedade de Maçã desenvolvida pela Epagri, a SCS426 Venice, já rendeu 80 mil euros para Santa Catarina em um acordo com a International Fruit Obtention, empresa francesa licenciada para testar e desenvolver os novos cultivares, e a Rivoira, empresa italiana sublicenciada.
Além disso a Epagri vai receber mais 1% das vendas liquidas em royalties, segundo o gerente da Estação Experimental da Epagri em Caçador, onde foi desenvolvida a pesquisa da nova variedade, Renato Vieira.
– O volume de frutas que essas empresas produzirão deverá ser alto, pois vai atender às demandas dos mercados dos países europeus. Portanto, em alguns anos, a Epagri vai receber valores bem significativos. O acordo prevê plantio de pomares comerciais em todos os países onde a sublicenciada tem negócios. Para tanto um programa de marketing e produção para esse fim será organizado com as empresas parceiras – disse Vieira.
A Epagri já recebe desde 2019 royalties da venda para 23 países da União Européia de outra maçã desenvolvida em Caçador, a Monalisa.
A Venice, que significa Veneza em inglês, teve seu nome escolhido por ser simples, fácil de ler e escrever e por ser atraente. De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador aposentado que atuou como responsável pelo Programa de Melhoramento Genético da Macieira da Epagri, Frederico Denardi, foram 15 anos de estudos, entre 2000 e 2015, até que houve a decisão de lançamento da Venice.
– Ela possui todas as características essenciais, como boa adaptação climática no Sul do Brasil, bom espectro de resistência às principais doenças da macieira, alta qualidade dos frutos em aparência, sabor e textura da polpa, necessárias para atender o setor produtivo e consumidores – disse Denardi.
Ele afirmou que a Venice permite melhor escalonamento na colheita das maçâs, pois sua produção é em março, entre as safras da variedade Gala (fevereiro) e Fuji (abril/maio).
Pesquisador aponta interesse estrangeiro em novas variedades
O atual coordenador do programa de melhoramento genético de macieiras da Epagri, Marcus Vinícius Kvisthal, deu uma entrevista por email para o NSC Total. Ele falou que a Epagri já tem mais variedades que podem render parcerias internacionais e destacou que a legislação brasileira precisa ser modernizada.
NSC: A Venice já foi desenvolvida voltada ao clima europeu ou pode ser cultivada em outras regiões?
Marcus Vinícius Kvisthal: Não. O desenvolvimento da cultivar Venice, assim como de outras cultivares que tem despertado interesse de investidores externos, sempre foi voltado para o público brasileiro, tanto para os produtores quanto para os consumidores. Mas em função de parcerias bastante antigas que o Programa de Melhoramento de Maçã da Epagri tem com empresas parcerias no exterior, investidores externos têm conhecido as cultivares desenvolvidas no Brasil e tem testado no exterior por intermédios dessas parcerias. Nesses de testes de adaptação inicialmente realizados na França, diversas cultivares da Epagri têm se destacado pela alta qualidade das frutas, e pela ampla adaptação a diversas regiões do mundo. E algumas dessas cultivares tem sido objeto de parcerias comerciais por esses investidores externos, como é o caso da Venice.
NSC: Quais as características da fruta?
Kvisthal: As frutas são de tamanho e formato bastante regular, com padrão de coloração vermelho mais escuro com tons amarronzados, o que confere um padrão de aparência diferente da maioria das cultivares existente ao redor do mundo. Outra característica muito marcante das frutas de Venice é que a polpa é macia, muito crocante e suculenta, e com sabor bastante doce, característica essa que confere um excelente padrão de sabor às frutas. A alta capacidade de armazenagem das maçãs Venice também é outra peculiaridade dessa cultivar, o que garante oferecer as frutas aos consumidores ao longo de todo o ano, sem perda de qualidade sensorial.
NSC: Ela foi pensada no consumidor europeu?
Kvisthal: Na verdade, como o Melhoramento Genético de Maçã é um trabalho de longo prazo, é muito importante que o melhorista sempre tenha em mente quais as tendências de padrão de sabor e aparência que os consumidores do mundo todo buscam, para que no planejamento dos cruzamentos essas características sejam consideradas na escolha dos genitores. Isso é uma das etapas primordiais para o sucesso de qualquer programa de Melhoramento Genético de Maçã. Mas o Programa de Melhoramento Genético de Maçã da Epagri sempre teve como um dos principais objetivos o desenvolvimento de maçãs com alto teor de açúcar (doces), pensando em atender o público brasileiro. No entanto, essa característica tem sido buscada em diversos programas de melhoramento de maçã no mundo, e é um dos motivos pelo qual outras empresas têm tido tanto interesse nas cultivares desenvolvidas pela Epagri no Brasil.
NSC: Como foi o processo de para chegar até ela?
Kvisthal: A técnica utilizada para desenvolver a Venice foi o Melhoramento Genético Clássico, que envolve a realização de cruzamentos dirigidos entre plantas de macieira e seleção de descendentes, cuja metodologia é baseada na forma convencional de reprodução das plantas. Ou seja, não são aplicadas técnicas de Modificação Genética. Nesse processo, primeiramente são escolhidos os genitores (pais) com base nas características que se deseja selecionar nos filhos. Na primavera são realizadas as polinizações manuais, flor a flor, de forma controlada sabendo-se qual é a cultivar feminina (receptora de pólen) e qual é a cultivar masculina (doadora de pólen). Geralmente em cada programa de cruzamentos são geradas cerca de 20 a 25 mil sementes híbridas. Em resumo, ao longo de todo esse processo, de cada 20 a 25 mil sementes híbridas geradas consegue-se em média 10 a 15 seleções com potencial, e que nem sempre irão resultar no lançamento de uma nova cultivar, e todo esse ciclo leva em torno de 18 a 20 anos.
NSC: Qual a necessidade de clima (temperatura, x horas de frio)?
Kvisthal: Temos classificado a Venice como de médio requerimento de frio hibernal , sendo não tão baixo quanto às cultivares bem precoces (Ex. Eva, Condessa, Anna, Dorsett Golden,etc…) e nem tão alto quanto à grande maioria das cultivares desenvolvidas no exterior (Europa, USA, Nova Zelândia, etc…). Estima-se que a Venice possua um requerimento de frio hibernal de aproximadamente 450 a 600 horas de frio (em torno de 7 graus centígrados.
Esse é um dos motivos pelos quais investidores têm demonstrado interesse em cultivares como a Venice e Monalisa, pois elas são bem adaptadas a muitas regiões mais quentes, nas quais a grande maioria das cultivares desenvolvidas no hemisfério Norte não são.
NSC: Como funciona o recebimento dos royalties? É por colheita, por mudas? Quanto recebem?
Kvisthal: Como o Brasil é signatário da convecção de 1978 da UPOV (International Union for the Protection of New Varieties of Plants), a legislação brasileira permite apenas a proteção da cultivar. Assim, no Brasil pode-se obter royalties apenas sobre a produção de mudas da cultivar protegida. No entanto, outros países são signatários da convenção de 1992 da UPOV, que faculta a dupla proteção (proteção da cultivar e do produto da cultivar protegida). Nos USA e Europa principalmente, isso tem estimulado o desenvolvimento de estratégias comerciais muito mais agressivas, baseadas no desenvolvimento de marcas de maçãs, que priorizam a padronização das frutas comercializadas com uma determinada marca, e visam fidelizar os consumidores pelo padrão de preferência de cada um. E nessas situações são previstos roialties ao obtentor da cultivar tanto em relação à produção de mudas (geralmente 5% do valor da muda) quanto pela produção da cultivar protegida (geralmente 1% sobre cada Kg vendido com o nome da marca). Esse é o sistema que a Venice deverá ser desenvolvido pela empresa Italiana Rivoira, que é parceira da Epagri por intermédio da empresa francesa IFO, com a qual temos contrato de parceria por mais de 20 anos.
NSC: Quanto ela vai render para a Epagri no primeiro ano?
Kvisthal: O acordo prevê um pagamento inicial à Epagri de 80 mil euros ainda neste ano (2019) e depois de estabelecida a marca à maçã, a Epagri deverá receber anualmente até 1% do valor líquido total das vendas da fruta no mercado europeu. O valor relativo a essa porcentagem ainda não há como prever, pois dependerá do sucesso da marca no mercado mundial e, consequentemente, do volume de fruta que a marca irá comercializar anualmente.
NSC: Podes citar outros resultados de pesquisa em maçãs na unidade e qual o impacto na produção catarinense?
Kvisthal:O Programa de Melhoramento Genético de Maçã da Epagri já lançou 20 cultivares até o momento, e deverá lançar mais uma cultivar ano que vem ( Gala Gui: clone de Gala de ampla cobertura de cor vermelha e resistente à Mancha Foliar de Glomerella, uma das doenças mais agressivas que temos no Brasil). Entre as de maior potencial tem-se a Condessa e Daiane lançadas no passado, e mais recentemente merecem destaque a Monalisa, Luiza, Venice, Elenise e Kinkas. Das cultivares clones (mutações espontâneas que aparecem naturalmente na natureza e são selecionadas por apresentarem alguma característica importante) destacam-se a Fuji Suprema, Fuji Precoce e Lisgala. Ano que vem será a lançada a cultivar Gala Gui (mencionada anteriormente).
Além do destaque da cultivar Venice, objeto de interesse por esse grupo italiano, também estão em teste a cv. Luiza e uma seleção codificada como M.10/09, as quais também tem grande possibilidade de entrarem nessa estratégia comercial que está sendo desenvolvida pelo grupo Rivoira. Se a avaliação for positiva, o grupo fará acordos similares a esse firmados pela cv. Venice, devendo haver retornos financeiros de mesmo ordem aos praticados para a Venice.
Similarmente um outro grupo internacional (infelizmente por motivos de confidencialidade prevista em contratos de cooperação, não é possivel revelar qual grupo se trata) também está testando a cultivar Monalisa, cujo interesse é similar ao do grupo Rivoira sobre a Luiza, Venice e M.10/09. Assim, nos próximos anos a Epagri deverá ter retorno se esse grupo de investidores irá apostar em mais essa cultivar desenvolvida pela Epagri. Se a resposta for positiva, a aposta é que seja desenvolvido um Clube da Monalisa, devendo a Epagri também receber royalties sobre a produção de mudas e de frutas comercializadas com a marca que será criada.
No Brasil, por enquanto há grande dificuldade de consolidação das cultivares desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético da Maçã da Epagri, não porque não são cultivares de alta qualidade (até porque há grande interesse de investidores externos nessas cultivares, além de que a aceitação pelos consumidores no testes realizados em supermercados é quase unânime), mas por causa de uma barreira comercial que existe no país, na qual toda cultivar que é diferente de Gala ou Fuji não é aceita pela cadeia de comercialização da fruta no país. Como esse segmento está numa zona de conforto de comercialização de apenas 2 cultivares, e o setor produtivo é relativamente jovem e desorganizado, todo o setor da maçã no país é escravizado por um segmento da cadeia que impede a abertura de mercado de novas cultivares no país. Como isso o produtor perde muito, porque cada vez está mais difícil produzir as cultivares Gala e Fuji no país, e o consumidor perde porque as frutas que são ofertadas nos pontos de venda ao vareja estão cada vez piores. Felizmente alguns produtores brasileiros estão se organizando para tentar desenvolver estratégias similares àquelas que outros países têm investido (Ex. Clubes de Variedades), mas a legislação brasileira ainda é muito “atrasada” para estimular esse tipo de iniciativa.
(Informações NSC)
Uma nova variedade de Maçã desenvolvida pela Epagri, a SCS426 Venice, já rendeu 80 mil euros para Santa Catarina em um acordo com a International Fruit Obtention, empresa francesa licenciada para testar e desenvolver os novos cultivares, e a Rivoira, empresa italiana sublicenciada.
Além disso a Epagri vai receber mais 1% das vendas liquidas em royalties, segundo o gerente da Estação Experimental da Epagri em Caçador, onde foi desenvolvida a pesquisa da nova variedade, Renato Vieira.
– O volume de frutas que essas empresas produzirão deverá ser alto, pois vai atender às demandas dos mercados dos países europeus. Portanto, em alguns anos, a Epagri vai receber valores bem significativos. O acordo prevê plantio de pomares comerciais em todos os países onde a sublicenciada tem negócios. Para tanto um programa de marketing e produção para esse fim será organizado com as empresas parceiras – disse Vieira.
Gráfico mostra como foi desenvolvida a Venice
(Foto: Ben Ami Scopinho)
A Epagri já recebe desde 2019 royalties da venda para 23 países da União Européia de outra maçã desenvolvida em Caçador, a Monalisa.
A Venice, que significa Veneza em inglês, teve seu nome escolhido por ser simples, fácil de ler e escrever e por ser atraente. De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador aposentado que atuou como responsável pelo Programa de Melhoramento Genético da Macieira da Epagri, Frederico Denardi, foram 15 anos de estudos, entre 2000 e 2015, até que houve a decisão de lançamento da Venice.
– Ela possui todas as características essenciais, como boa adaptação climática no Sul do Brasil, bom espectro de resistência às principais doenças da macieira, alta qualidade dos frutos em aparência, sabor e textura da polpa, necessárias para atender o setor produtivo e consumidores – disse Denardi.
Ele afirmou que a Venice permite melhor escalonamento na colheita das maçâs, pois sua produção é em março, entre as safras da variedade Gala (fevereiro) e Fuji (abril/maio).
Pesquisador aponta interesse estrangeiro em novas variedades
O atual coordenador do programa de melhoramento genético de macieiras da Epagri, Marcus Vinícius Kvisthal, deu uma entrevista por email para o NSC Total. Ele falou que a Epagri já tem mais variedades que podem render parcerias internacionais e destacou que a legislação brasileira precisa ser modernizada.
NSC: A Venice já foi desenvolvida voltada ao clima europeu ou pode ser cultivada em outras regiões?
Marcus Vinícius Kvisthal: Não. O desenvolvimento da cultivar Venice, assim como de outras cultivares que tem despertado interesse de investidores externos, sempre foi voltado para o público brasileiro, tanto para os produtores quanto para os consumidores. Mas em função de parcerias bastante antigas que o Programa de Melhoramento de Maçã da Epagri tem com empresas parcerias no exterior, investidores externos têm conhecido as cultivares desenvolvidas no Brasil e tem testado no exterior por intermédios dessas parcerias. Nesses de testes de adaptação inicialmente realizados na França, diversas cultivares da Epagri têm se destacado pela alta qualidade das frutas, e pela ampla adaptação a diversas regiões do mundo. E algumas dessas cultivares tem sido objeto de parcerias comerciais por esses investidores externos, como é o caso da Venice.
NSC: Quais as características da fruta?
Kvisthal: As frutas são de tamanho e formato bastante regular, com padrão de coloração vermelho mais escuro com tons amarronzados, o que confere um padrão de aparência diferente da maioria das cultivares existente ao redor do mundo. Outra característica muito marcante das frutas de Venice é que a polpa é macia, muito crocante e suculenta, e com sabor bastante doce, característica essa que confere um excelente padrão de sabor às frutas. A alta capacidade de armazenagem das maçãs Venice também é outra peculiaridade dessa cultivar, o que garante oferecer as frutas aos consumidores ao longo de todo o ano, sem perda de qualidade sensorial.
NSC: Ela foi pensada no consumidor europeu?
Kvisthal: Na verdade, como o Melhoramento Genético de Maçã é um trabalho de longo prazo, é muito importante que o melhorista sempre tenha em mente quais as tendências de padrão de sabor e aparência que os consumidores do mundo todo buscam, para que no planejamento dos cruzamentos essas características sejam consideradas na escolha dos genitores. Isso é uma das etapas primordiais para o sucesso de qualquer programa de Melhoramento Genético de Maçã. Mas o Programa de Melhoramento Genético de Maçã da Epagri sempre teve como um dos principais objetivos o desenvolvimento de maçãs com alto teor de açúcar (doces), pensando em atender o público brasileiro. No entanto, essa característica tem sido buscada em diversos programas de melhoramento de maçã no mundo, e é um dos motivos pelo qual outras empresas têm tido tanto interesse nas cultivares desenvolvidas pela Epagri no Brasil.
NSC: Como foi o processo de para chegar até ela?
Kvisthal: A técnica utilizada para desenvolver a Venice foi o Melhoramento Genético Clássico, que envolve a realização de cruzamentos dirigidos entre plantas de macieira e seleção de descendentes, cuja metodologia é baseada na forma convencional de reprodução das plantas. Ou seja, não são aplicadas técnicas de Modificação Genética. Nesse processo, primeiramente são escolhidos os genitores (pais) com base nas características que se deseja selecionar nos filhos. Na primavera são realizadas as polinizações manuais, flor a flor, de forma controlada sabendo-se qual é a cultivar feminina (receptora de pólen) e qual é a cultivar masculina (doadora de pólen). Geralmente em cada programa de cruzamentos são geradas cerca de 20 a 25 mil sementes híbridas. Em resumo, ao longo de todo esse processo, de cada 20 a 25 mil sementes híbridas geradas consegue-se em média 10 a 15 seleções com potencial, e que nem sempre irão resultar no lançamento de uma nova cultivar, e todo esse ciclo leva em torno de 18 a 20 anos.
NSC: Qual a necessidade de clima (temperatura, x horas de frio)?
Kvisthal: Temos classificado a Venice como de médio requerimento de frio hibernal , sendo não tão baixo quanto às cultivares bem precoces (Ex. Eva, Condessa, Anna, Dorsett Golden,etc…) e nem tão alto quanto à grande maioria das cultivares desenvolvidas no exterior (Europa, USA, Nova Zelândia, etc…). Estima-se que a Venice possua um requerimento de frio hibernal de aproximadamente 450 a 600 horas de frio (em torno de 7 graus centígrados.
Esse é um dos motivos pelos quais investidores têm demonstrado interesse em cultivares como a Venice e Monalisa, pois elas são bem adaptadas a muitas regiões mais quentes, nas quais a grande maioria das cultivares desenvolvidas no hemisfério Norte não são.
NSC: Como funciona o recebimento dos royalties? É por colheita, por mudas? Quanto recebem?
Kvisthal: Como o Brasil é signatário da convecção de 1978 da UPOV (International Union for the Protection of New Varieties of Plants), a legislação brasileira permite apenas a proteção da cultivar. Assim, no Brasil pode-se obter royalties apenas sobre a produção de mudas da cultivar protegida. No entanto, outros países são signatários da convenção de 1992 da UPOV, que faculta a dupla proteção (proteção da cultivar e do produto da cultivar protegida). Nos USA e Europa principalmente, isso tem estimulado o desenvolvimento de estratégias comerciais muito mais agressivas, baseadas no desenvolvimento de marcas de maçãs, que priorizam a padronização das frutas comercializadas com uma determinada marca, e visam fidelizar os consumidores pelo padrão de preferência de cada um. E nessas situações são previstos roialties ao obtentor da cultivar tanto em relação à produção de mudas (geralmente 5% do valor da muda) quanto pela produção da cultivar protegida (geralmente 1% sobre cada Kg vendido com o nome da marca). Esse é o sistema que a Venice deverá ser desenvolvido pela empresa Italiana Rivoira, que é parceira da Epagri por intermédio da empresa francesa IFO, com a qual temos contrato de parceria por mais de 20 anos.
NSC: Quanto ela vai render para a Epagri no primeiro ano?
Kvisthal: O acordo prevê um pagamento inicial à Epagri de 80 mil euros ainda neste ano (2019) e depois de estabelecida a marca à maçã, a Epagri deverá receber anualmente até 1% do valor líquido total das vendas da fruta no mercado europeu. O valor relativo a essa porcentagem ainda não há como prever, pois dependerá do sucesso da marca no mercado mundial e, consequentemente, do volume de fruta que a marca irá comercializar anualmente.
NSC: Podes citar outros resultados de pesquisa em maçãs na unidade e qual o impacto na produção catarinense?
Kvisthal:O Programa de Melhoramento Genético de Maçã da Epagri já lançou 20 cultivares até o momento, e deverá lançar mais uma cultivar ano que vem ( Gala Gui: clone de Gala de ampla cobertura de cor vermelha e resistente à Mancha Foliar de Glomerella, uma das doenças mais agressivas que temos no Brasil). Entre as de maior potencial tem-se a Condessa e Daiane lançadas no passado, e mais recentemente merecem destaque a Monalisa, Luiza, Venice, Elenise e Kinkas. Das cultivares clones (mutações espontâneas que aparecem naturalmente na natureza e são selecionadas por apresentarem alguma característica importante) destacam-se a Fuji Suprema, Fuji Precoce e Lisgala. Ano que vem será a lançada a cultivar Gala Gui (mencionada anteriormente).
Além do destaque da cultivar Venice, objeto de interesse por esse grupo italiano, também estão em teste a cv. Luiza e uma seleção codificada como M.10/09, as quais também tem grande possibilidade de entrarem nessa estratégia comercial que está sendo desenvolvida pelo grupo Rivoira. Se a avaliação for positiva, o grupo fará acordos similares a esse firmados pela cv. Venice, devendo haver retornos financeiros de mesmo ordem aos praticados para a Venice.
Similarmente um outro grupo internacional (infelizmente por motivos de confidencialidade prevista em contratos de cooperação, não é possivel revelar qual grupo se trata) também está testando a cultivar Monalisa, cujo interesse é similar ao do grupo Rivoira sobre a Luiza, Venice e M.10/09. Assim, nos próximos anos a Epagri deverá ter retorno se esse grupo de investidores irá apostar em mais essa cultivar desenvolvida pela Epagri. Se a resposta for positiva, a aposta é que seja desenvolvido um Clube da Monalisa, devendo a Epagri também receber royalties sobre a produção de mudas e de frutas comercializadas com a marca que será criada.
No Brasil, por enquanto há grande dificuldade de consolidação das cultivares desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético da Maçã da Epagri, não porque não são cultivares de alta qualidade (até porque há grande interesse de investidores externos nessas cultivares, além de que a aceitação pelos consumidores no testes realizados em supermercados é quase unânime), mas por causa de uma barreira comercial que existe no país, na qual toda cultivar que é diferente de Gala ou Fuji não é aceita pela cadeia de comercialização da fruta no país. Como esse segmento está numa zona de conforto de comercialização de apenas 2 cultivares, e o setor produtivo é relativamente jovem e desorganizado, todo o setor da maçã no país é escravizado por um segmento da cadeia que impede a abertura de mercado de novas cultivares no país. Como isso o produtor perde muito, porque cada vez está mais difícil produzir as cultivares Gala e Fuji no país, e o consumidor perde porque as frutas que são ofertadas nos pontos de venda ao vareja estão cada vez piores. Felizmente alguns produtores brasileiros estão se organizando para tentar desenvolver estratégias similares àquelas que outros países têm investido (Ex. Clubes de Variedades), mas a legislação brasileira ainda é muito “atrasada” para estimular esse tipo de iniciativa.
(Informações NSC)