A família de Raíssa Nascimento, 21 anos, vive um sonho desde que a filha foi aprovada no curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O resultado do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi divulgado na última terça-feira (28). A nota de corte em Medicina demonstrou o quão concorrido é o curso.
“Eu tive muita ajuda da família, das minhas primas, dos meus professores, muito apoio. Principalmente quando se trata de uma pessoa negra, pobre e da periferia, se você não tiver ajuda de terceiros, você não vai pra frente. Foi difícil, foi. Mas a gente vai tentando e no final consegue”, disse Raíssa, que estudou a vida toda em escolas públicas.
Com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sisu seleciona os estudantes com as melhores médias para as vagas disponíveis em universidades públicas.
A diarista Rosângela do Nascimento, mãe de Raíssa, conta que a dificuldade aparecia também quando a filha precisava ir ao cursinho pré-vestibular.
“Às vezes, eu ficava aqui, contando nos dedos o dinheiro da passagem para o cursinho. Se era ela que ia ou o irmão”, lembra.
Foram dois anos estudando para o vestibular. A jovem confidencia que nem ela mesmo acreditava que poderia ser aprovada em Medicina na UFRN, extremamente disputado, com poucas vagas para muitos candidatos.
Concentrar-se para estudar era um desafio, pois sua casa está em reforma (alguns cômodos sequer tem telhado) e o barulho é frequente. Para ter um pouco de silêncio, ela se instalou em uma espécie de beco da residência, onde as roupas do varal são estendidas.
Para tornar o lugar mais confortável, Raíssa fez uma cobertura improvisada sobre a mesa de estudos e se cercou de plantas. Tudo para fugir do barulho e da confusão da reforma. No seu cantinho especial, fica várias horas do dia estudando.
“Eu acordava de 7h e parava só para almoçar. Depois, ia para o cursinho, para as aulas, dava uma revisada e ia dormir. Era isso. Ficava o dia todo estudando”, relata.
“A Raíssa, eu acho que é a pessoa mais determinada que eu já conheci na vida. Acordava cedo, chegava cedo, ia em todas as aulas e era a mesma cara, o mesmo sorriso, o mesmo jeito, nunca mudava”, disse João Pedro, professor de Raíssa.
“Tudo que ela tinha dificuldade, ela sanava a dúvida, procurava os professores, fazia os exercícios. É um exemplo de determinação que dificilmente a gente encontra de novo.”
Desde criança a jovem sonha em ser médica. “Sempre foi um sonho dela. Ela pequenininha colecionava alguns DVDs de séries de médico. Eu comentava com a mãe dela, que achava que ela ia ser médica”, diz Moisés Afonso, pai de Raíssa.
Agora, enfim, o sonho se concretizou. “Conseguimos. E ela vai fazer essa faculdade seja lá quantos anos forem”, reforça Rosângela.
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