Na última segunda-feira, 9, policiais civis da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Caçador, deram cumprimento ao mandado de prisão preventiva de Luiz Rogério Carneiro Alves da Rosa, 18 anos, suspeito de executar a tiros Roberto Carlos Machado, 40 anos, e sua sobrinha Gislaine Maria Vogel, 18 anos.
Ambos foram mortos no interior do veículo Fiat/Palio pertencente a Roberto, na saída de uma festa de formatura ocorrida no Clube das Bochas, centro da cidade, na madrugada do dia 23 para 24 de novembro. O veículo estava estacionado na rua Marechal Floriano Peixoto, paralela à rua São Francisco de Assis, onde situado o salão de eventos.
A Polícia manteve a prisão em sigilo até a conclusão de algumas perícias e investigações, que se findaram nesta quarta-feira, 11.
As investigações foram iniciadas na madrugada dos fatos, com a apuração da suspeita de Luiz Rogério ainda no domingo, através de denúncias anônimas encaminhadas à Polícia Civil e à Polícia Militar, que repassou os relatos à DIC. Ainda, foi identificado que no ano de 2017 o suspeito havia atentado contra a vida de Roberto, que na oportunidade trabalhava como segurança privado em uma casa de festas.
Também no domingo, foi obtida a informação de que Roberto Machado vendia pequenas quantidades de cocaína em Caçador. Ele era natural do Paraná e esteve preso de junho de 2014 a novembro de 2016 por tráfico de drogas, primeiro em Caçador e depois em Curitibanos. Atualmente, estava em liberdade condicional, porém durante o cumprimento da pena em Curitibanos, faccionou-se a uma organização criminosa.
A partir de então, os investigadores da DIC traçaram duas linhas, sendo a primeira o envolvimento da esposa de Roberto, Suzana Barrili Pegoraro, 37 anos, a qual, ao encontrar o marido e sua sobrinha mortos, levou o veículo e os corpos para o Hospital Maicè, acabando por adulterar a cena do crime.
A segunda linha de investigação apontava como possível motivação o tráfico de drogas exercido por Roberto e a rivalidade entre membros de sua facção com outra atuante em Santa Catarina.
Foram identificadas e ouvidas 16 testemunhas, presentes na festa de formatura, imediações e do conhecimento das vítimas.
Foram realizadas perícias nos aparelhos celulares das vítimas e de familiares que estiveram no evento.
Nesse momento, descartou-se o envolvimento de Suzana, companheira de Roberto. Pelos depoimentos e análise de imagens de câmeras de segurança espalhadas pela cidade, restou apurado que ela entrou em estado de choque ao encontrar seu companheiro e Gislaine mortos. Embora mulher, tendo força física e labutando na agricultura, somado ao estado de choque, retirou seu marido do banco do motorista e o colocou no banco traseiro sem maiores dificuldades. Assumiu a direção do veículo e dirigiu-se ao Hospital Maicè, com o alerta ligado, buzinando a todo tempo e gritando por socorro.
Para o delegado e investigadores, os depoimentos e imagens nesse sentido demonstram que a adulteração da cena do crime não foi intencional. Em razão do estado de choque, Suzana tentou desesperadamente levar as vítimas ao hospital, tanto que na Emergência retirou sozinha e apressadamente os corpos, apegada à possibilidade que ainda estivessem vivos.
A perícia do veículo, bem como simulações realizadas por policiais da DIC, demonstraram que os disparos foram realizados todos do interior do veículo, com o atirador sentado no banco traseiro.
Ao total, foram seis disparos de revólver calibre .38, sendo dois contra Roberto e quatro contra Gislaine.
Os dois disparos em Roberto atingiram o seu pescoço (entrada no lado direito), sendo que um projétil se alojou no cérebro e o outro foi localizado no retrovisor esquerdo do veículo.
Gislaine foi atingida por quatro disparos, sendo três em sua face (os quais a transfixaram) e um em sua axila (alojando-se na medula – que a levou à morte), todos da esquerda para a direita.
A partir desse quadro, concluiu-se que o atirador adentrou no veículo e, do centro do banco traseiro, efetuou os disparos contra as vítimas, à queima-roupa.
Após novo exame no veículo, policiais da DIC e peritos do IGP localizaram impressões digitais de Luiz Rogério no automóvel.
Na quarta-feira, 27 de novembro, três dias após o crime, a Polícia Civil representou pela expedição de mandados de prisão e de buscas, os quais foram deferidos em 3 de dezembro.
Apurada a localização do suspeito, ele foi preso no bairro Nossa Senhora Salete, na residência de um familiar, onde estava hospedado. Na ocasião, foi flagrado com papelotes de cocaína e torrões de maconha. Como já vinha sendo investigado também pelo delito de tráfico de drogas, foi ainda preso em flagrante por manter em depósito os entorpecentes, embalados e destinados à venda.
Novas diligências foram empreendidas desde segunda-feira, 9. Embora a arma de fogo por ele utilizada não tenha sido localizada, foi apurada, por outros meios de prova, a dinâmica da noite dos fatos, de forma detalhada.
Após encontrar seu antigo desafeto na festa de formatura, Luiz Rogério conversou com ele, esboçando suposta reconciliação em razão dos fatos ocorridos em 2017. Nesse momento, Roberto relevou ao suspeito que integrava facção criminosa, sem saber que o outro era faccionado à organização rival.
Nesse momento, Luiz Rogério, que havia deixado sua arma de fogo no veículo de um amigo, não presente na festa, solicitou que este viesse com o automóvel até o local, porque iria resolver um problema e precisaria do revólver.
Após a chegada do amigo, que não tinha ciência que a arma seria utilizada para o crime, Luiz Rogério apanhou o revólver e se dirigiu ao local em que o veículo da vítima estava estacionado.
Nesse momento, o suspeito foi avistado por testemunhas, aguardando o momento para a emboscada.
Com base nos depoimentos de pessoas próximas, Roberto e Gislaine estavam no interior do automóvel porque Gislaine se sentiu mal devido à ingestão de bebidas alcoólicas no baile de formatura. A Polícia aguarda o envio do laudo toxicológico pelo IGP de Florianópolis, nos próximos dias, para descobrir se haviam feito uso de drogas, porém restou totalmente descartado envolvimento amoroso entre tio e sobrinha.
Nos limites da lei, foi realizada verdadeira devassa na vida privada das vítimas, com acesso a seus aparelhos celulares, familiares, amigos íntimos, bem como perícia nos cadáveres, descartando-se, com absoluta certeza, que estavam no veículo para a realização de qualquer ato nesse sentido.
Foi apurado que, após apanhar o revólver, o suspeito retornou cerca de dez minutos depois (após o cometimento do crime), solicitando ao amigo que o levasse embora.
Confrontando os depoimentos das testemunhas e uma filmagem de celular realizada por acaso nas proximidades (à qual a DIC teve acesso), na qual as vítimas aparecem, a Polícia concluiu que o homicídio ocorreu por volta das 3h30min, após a gravação do vídeo, momento em que o suspeito espreitava o automóvel, já na rua Marechal Floriano Peixoto.
Luiz Rogério não retornou à residência em que estava hospedado, permanecendo por aproximadamente quatro dias em local ignorado por seus familiares. A Polícia acredita que se manteve oculto por alguns dias por medo de ser preso.
Apurou-se, no mais, que o suspeito pressionou testemunhas, bem como usou e usava nomes e perfis de redes sociais falsos, visando a dificultar a ação policial.
Luiz Rogério foi o principal autor e mentor da morte do adolescente Mateus Carlim Alves, de 16 anos, no ano de 2018, quando era menor. Junto com os demais adolescentes autores do homicídio, foi apreendido pela DIC e internado. Foi condenado pelo Juízo da Infância e Juventude de Caçador, com a aplicação da medida socioeducativa de internação por até três anos. Por estar resgatando e medida em Florianópolis, um juiz daquela cidade considerou que ele estava apto a ser posto em liberdade assistida antes do limite de três anos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Retornando a Caçador em outubro deste ano, em 24 de novembro veio a praticar o duplo homicídio, desta vez já atingida a maioridade.
O suspeito foi indiciado por dois crimes de homicídio qualificado, um crime de tráfico de drogas e um crime de integrar organização criminosa. Ele deve responder a todos os processos preso.
Se condenado às penas mínimas, deve ter uma pena de 33 anos de reclusão em regime fechado. Por serem crimes hediondos, a progressão para o semiaberto ocorreria em aproximadamente 13 anos. Para progredir do semiaberto ao aberto, seriam necessários mais 5 anos de cumprimento de pena, ou seja, ficaria efetivamente preso por 18 anos.
Caso condenado às penas máximas, a reprimenda pode chegar a 75 anos, com a primeira progressão (para o semiaberto) em 30 anos.
A DIC descarta a participação no crime do amigo mencionado nesta nota. Apesar de guardar a arma de Luiz Rogério no seu veículo, não tinha ciência que seria usada nos homicídios de Roberto e Gislaine. Referida pessoa não integra organização criminosa.
A Polícia ainda descarta a existência de um mandante para o crime, que nem mesmo era planejado. Pelo teor das mensagens recuperadas e depoimentos colhidos, evidenciou-se que o suspeito, alcoolizado e após uso considerável de cocaína, decidiu ceifar a vida de Roberto durante a festa, após descobrir que integrava facção criminosa rival.
Quanto à motivação do homicídio de Gislaine, que não tinha qualquer ligação com o tráfico ou organização criminosa, deu-se porque ingressou no veículo na companhia de Roberto. Ela foi brutal e covardemente assassinada simplesmente por estar na companhia do tio.
Enaltecemos a dedicação e o alto nível técnico dos policiais civis da DIC, os quais, como de costume, trabalharam em horários de folga, muitas vezes com recursos particulares, para solucionar tão grave crime que chocou nossa sociedade.
Agradecemos a paciência dos profissionais de imprensa, que certamente compreendem os motivos pelos quais maiores detalhes não puderam ser divulgados anteriormente.
Fonte: Notícia Hoje