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Gruta Nossa Senhora de Lourdes: o futuro da obra histórica de Ponte Serrada

Projeto de loteamento em terreno acima da gruta prevê prolongamento de rua onde obra foi construída ainda na década de 1950


Gruta Nossa Senhora de Lourdes foi construída durante a década de 1950 
(Foto: Jhonatan Coppini/Oeste Mais)

Um assunto que vem pautando conversas entre a comunidade católica de Ponte Serrada nos últimos meses é o futuro da Gruta Nossa Senhora de Lourdes. Construída na década de 1950, a obra na Rua São José, ao final da Rua Marechal Floriano Peixoto, é testemunha da história do município — emancipado em julho de 1958.

A hipótese de ser retirada do local acendeu nos últimos tempos um debate popular, ganhando as redes sociais com mais ênfase recente. Até uma petição on-line vem reunindo assinaturas de pessoas contrárias a uma possível remoção da gruta do local. Mais de 400 pessoas já tinham assinado o documento até a tarde desta sexta-feira, dia 16.

A chance de mexer com a obra surgiu em razão de um projeto de loteamento particular na área acima da gruta. Segundo os responsáveis, o empreendimento só seria viável se houvesse a prolongamento da Rua Marechal Floriano Peixoto.

O assunto já foi tema de algumas reuniões. Há poucas semanas, um encontro entre os donos do terreno, representantes do Caep (Conselho de Assuntos Econômicos e Paroquiais), o prefeito de Ponte Serrada, Alceu Alberto Wrubel, e o padre Paulo Sales buscou alternativas para a situação.

Sidney Pino Gomes, à frente das negociações em nome da família dona do imóvel, explica que ainda em 2010, a área de torno de 22 mil metros quadrados foi desmembrada, restando cerca de 11 mil metros quadrados para realizar o loteamento. “Para que a gente possa acessar essa área, teria que ter o prolongamento da rua [Marechal Floriano Peixoto], que dá exatamente onde está a gruta”, explica.

Igreja teria comprado terreno da gruta no final da década de 50

De propriedade particular, em 1958, o terreno da gruta teria sido comprado de José Marsango pela Igreja Católica. É o que indica a página de um livro histórico arquivado pela Paróquia Santo Antônio de Pádua. “Esse se prontificou de ceder uma área de mais ou menos 30 por 30 metros pelo preço de cr. 10.000. A compra foi feita, e paga a importância, porém até o momento não foi lavrada a respectiva escritura. Em 1959 íamos rezar a [primeira] missa no novo lugar, porém a chuva o impediu”, diz inclusive um trecho do texto (veja na íntegra logo abaixo).


Fato é que não foi gerado documento oficial sobre o negócio. Sidney diz que todo o terreno da gruta ainda está em nome da família. “Mas a gente respeita porque mesmo que não haja documento, é uma questão moral, de compromisso. O que a gente está tentando é chegar num acordo para que possa levar a gruta a outro local e possa ter esse acesso”, completa.


Livro histórico da paróquia traz relato de como o terreno teria sido repassado à igreja 
(Foto: Jhonatan Coppini/Oeste Mais)

Ainda na reunião feita nas últimas semanas, foi levantada a hipótese de doação, por parte dos proprietários do imóvel do loteamento, de outro terreno para a construção de uma nova gruta. “Como a gruta é Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos enfermos, a gente tem uma área ao lado do Hospital Municipal e ofereceu essa possibilidade. Já que ela é padroeira dos enfermos, a gente doaria essa área para a igreja construir outra gruta, com mais facilidade de acesso até para que as pessoas possam frequentar mais”, diz Sidney.

‘Inaceitável se pensar em destruir’

O pároco responsável pela paróquia afasta de forma veemente a possibilidade. “É um patrimônio histórico. Eu vejo que é impensável, inaceitável se pensar em destruir algo que tem praticamente a mesma idade do município. A gruta é contemporânea ao município. Para mim é absurdo pensar em destruir um patrimônio histórico dessa natureza, não tem sentido. No mundo inteiro se trabalha para conservar a história e o patrimônio, Ponte Serrada não poder ir na contramão do mundo”, expressa o padre.

Paulo ainda afirma que a intenção é inclusive promover melhorias no local, além dos investimentos já feitos, como parte do corrimão e colocação de iluminação. “Pretendemos limpar, organizar melhor, ver um acesso para pessoas com dificuldade de locomoção, porque os degraus são antigos, não foram feitos dentro das exigências técnicas de hoje. Então a gente vai adequar, mas manter”, assegura.


Padre Paulo diz que não é cogitada a hipótese de tirar a gruta do local
 (Foto: Jhonatan Coppini/Oeste Mais)

Tombamento histórico

Ainda em outubro de 2018, a Câmara de Vereadores de Ponte Serrada aprovou uma indicação para que o município determine o tombamento histórico da obra religiosa. O ato administrativo compete exclusivamente ao Executivo e visa preservar um bem de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e de valor afetivo à população, impedindo que seja destruído ou descaracterizado. Na próxima segunda-feira, dia 19, inclusive está prevista uma reunião antes da sessão da Câmara de Vereadores para debater o assunto.

Paulo não vê a necessidade e inclusive discorda da medida. “Nós não somos favoráveis ao tombamento. As pessoas não sabem o que é um tombamento. É passar a propriedade para o órgão público. Uma vez feito isso, a área fica sob a responsabilidade do poder público. Como é uma área nossa, eu não vejo por que fazer o tombamento. Já trabalhei em igrejas tombadas pelo patrimônio histórico e a gente fica de mãos atadas, não se pode fazer absolutamente nada sem permissão deles [poder público]. Então não vejo sentido de fazer o tombamento”, manifesta o padre.

“Se é nosso, basta apenas dizer que não temos interesse nenhum em desfazermos de uma área que para nós é sagrada. Não se trata somente de uma gruta, é um lugar aonde as pessoas vão para rezar, ter o seu momento com Deus, além de ser um lugar bonito e ficar muito próximo de outra área religiosamente significativa, que é o Santuário de Nossa Senhora Aparecida”, completa.

Possibilidades


Há alternativas que já foram levantadas e seguem em debate para viabilizar o negócio sem mexer com a gruta, como a abertura de uma rua de acesso ao loteamento em uma parte aos fundos do terreno. Também existe a chance de o próprio município solicitar à Casan o imóvel ao lado da gruta, que há décadas foi cedido à empresa pela Prefeitura, para que a rua seja aberta no local. Uma terceira opção seria a própria via que dá acesso ao morro das três cruzes, pertencente à paróquia. Mas todas as hipóteses seguem apenas como ideias.

Por Jhonatan Coppini

Fonte: Oeste Mais