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Em SC, maioria das vítimas de feminicídios é branca e não terminou ensino médio, diz TCE

Tribunal traçou perfil das mortes entre 2011 e 2018. Nesse período, 353 mulheres morreram nas mãos de parceiros ou ex-companheiros.


A maioria das vítimas de feminicídio em Santa Catarina é branca, não terminou o ensino médio e tem média de idade de 33 anos. Essa é conclusão de uma pesquisa feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que traçou um perfil das mulheres mortas pelos parceiros ou ex-companheiros entre 2011 e 2018.

Nesse período, foram 353 vítimas, o que gera uma média de uma a cada oito dias. Santa Catarina é o quinto estado brasileiro com o mais casos desse tipo de assassinato. A maioria das vítimas é do Oeste catarinense.

Com a pesquisa, o TCE descobriu que:


  • 75% das vítimas não terminaram o ensino médio;
  • 85% das vítimas são brancas;
  • 27% das mortes, o que representa a maioria, ocorreram nos finais de semana entre 20h e 24h;
  • 62% das mortes são resultado de meios cruéis e não convencionais, como uso de facas, asfixia ou agressões como socos e chutes. Em contraste, a maioria das homens vítimas de homicídio no estado é morta a tiros;
  • 80% dos agressores são homens brancos com média de idade de 35 anos.

Discriminação


Em pequenas atitudes do cotidiano, alguns homens mostram como discriminam as mulheres. "Dá uma opinião ou um conselho para algum colega de algo relacionado à pesquisa dele e ele simplesmente ignora", disse a doutoranda em história pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Letícia Portella Milan.

"Não precisa ser no meio acadêmico, pode ser em todos os âmbitos, no trabalho, qualquer coisa", completou a estudante de ciências sociais da UFSC Aluá Faria Bassi.

"Eu fazer uma proposta e essa proposta não ser considerada e aí na discussão depois volta essa proposta a partir de um colega, homem, do trabalho e aí é uma grande ideia. Do acesso das mulheres a cargos de chefia, o que é muito difícil", disse a também aluna de ciências sociais da UFSC Adriana Barth Barbaresco.

"O homem e a mulher trabalham oito horas por dia, vamos supor. Chegam em casa, os afazeres domésticos parece que ficam só para a mulher e aí tem aquela dupla jornada, o que pra mim também é uma violência", declarou Milan.

"Essa violência é uma espiral, ela vai aumentando", completou a coordenadora do Laboratório de Estudos de Gênero e História da UFSC, Cristina Scheibe Wolff.

E o homem passa a controlar o dinheiro, quando o carro sai da garagem, afasta a mulher dos amigos e da família, força o sexo, xinga, ofende, humilha, até com piadas. Tem ciúmes, destrói as coisas dela, empurra, dá tapas, socos, chutes, ameaça os filhos, não aceita a vontade dela separar, manda mensagem toda hora, segue, age como se fosse dono da mulher.

Sem saber lidar

A psicóloga Ana Laura Tridapalli explicou que essas atitudes ocorrem porque alguns homens não sabem lidar com os valores machistas que a nossa sociedade reforça há séculos.

"Quando a gente não consegue expressar nosso sentimento pela fala, seja com um amigo, uma comunidade, a igreja, que hoje em dia para muita pessoas isso é importante, um psicólogo, num tratamento mais especializado, muitas vezes a gente acaba atuando. A gente acaba colocando isso ou no corpo, as pessoas adoecem, desenvolvem somatizações em todo o corpo, ou outras ainda não conseguem de forma alguma exteriorizar isso no corpo nem na fala e acabam matando", afirmou a psicóloga.

Para ela, os dados descobertos pelo TCE são válidos como ponto de partida. "Isso tudo a gente tem que estar compreendendo, entendendo, visualizando para então pensar em medidas preventivas", disse.

Fonte: G1 SC