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Mulheres redescobrem a carreira depois da maternidade

Para celebrar o Dia das Mães, conheça histórias de mulheres que se reinventaram para encontrar mais tempo para a família


Raquel e Antônia estão mais tempo juntas(Foto: Guilherme Hahn/ Especial)

Qualquer mudança na carreira vem carregada de dúvidas e incertezas. Mais ainda quando a guinada é na casa dos 30 anos, após a chegada dos filhos. Para as mulheres que decidem empreender, ou retomar os estudos, a maternidade pode ser um despertar. A maioria delas se reinventa para encontrar mais tempo para a família, satisfação pessoal e qualidade de vida para acompanhar de perto o crescimento dos filhos.


Um estudo realizado no ano passado no Brasil apontou que entre as empreendedoras que iniciaram negócios nos últimos anos, 53% são mães. Elas têm em média 39 anos e 80% possuem ensino superior completo. Os dados são da pesquisa online "Empreendedoras e seus Negócios 2018", desenvolvida pela Rede Mulher Empreendedora que compilou dados de duas mil participantes.

O levantamento também mostra que 86% não se planejam antes de iniciar um novo negócio, e que aprendem ao longo do caminho. Experimentar é mais fácil quando a renda familiar não depende exclusivamente de uma pessoa, e por isso a necessidade de suporte. 

Um companheiro ou companheira que segure o lado financeiro, apoio de familiares ou amigos. Para a psicóloga Camila Busarello, essa rede dá segurança para que essa mulher trace seu caminho.

— Muitas relatem que depois que foram mães, o trabalho que faziam até então não tinha mais sentido. O primeiro passo é trabalhar o autoconhecimento, perceber quem eu era e quem eu sou depois da maternidade, que habilidades desenvolvi até sem perceber, e traçar um plano de carreira a partir disso — explica a especialista em orientação profissional.

Camila também passou por mudanças na carreira para conciliar a chegadas das filhas Ana Clara e Isabela. A rotina de 12 horas diárias de trabalho e as viagens ficaram para trás, ela deixou de lado a carteira assinada e focou no escritório próprio. Mudou de Criciúma para Nova Veneza, e também começou a dar aulas, o que deixou a rotina mais flexível. Adaptação faz parte da rotina de quem vira mãe, e os novos modelos de carreira seguem a mesma tendência.

— Hoje a gente fala em carreira proteana, de Proteu, da mitologia grega, que mudava de forma conforme sua necessidade, e traz esse conceito. É a capacidade de gerir a própria carreira conforme necessidades e habilidades. A carreira não é mais linear, é cíclica, e a maternidade pode ser o despertar para um novo ciclo — comenta a psicóloga.


"Quando nasce uma mãe, nasce uma empreendedora", indica a pesquisa da Rede Mulher, que aponta a maternidade como um dos principais gatilhos para o empreendedorismo feminino. No levantamento, realizado entre julho e agosto do ano passado, 68% das mulheres ouvidas encontraram no negócio próprio a oportunidade de conciliar trabalho e família.

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A farmacêutica deixou a profissão para cuidar da filha(Foto: Guilherme Hahn/ Especial)

Busca de conhecimento para fazer diferente

A decisão de deixar o diploma no armário e rumar por outro caminho começou a fazer sentido quando Raquel Guse Sartor, 33 anos, conseguiu engravidar. Antônia foi muito esperada, e para a farmacêutica que atuou por quase dez anos no ramo, a prioridade passou a ser a filha. Ela trabalhou durante toda a gestação, acordava às 6h, ia para Criciúma e retornava para casa às 19h, em Cocal do Sul. Porém, não era nesse ritmo que ela queria ver a filha crescer.

— Queria acompanhar ela de perto. Foi meu marido quem fez o primeiro sling para usarmos com a Antônia, na máquina de costura da minha mãe, fomos fazendo para amigas até que virou um negócio — relembra.

O sling é um tecido utilizado para carregar o bebê junto ao corpo de maneira confortável, e que traz vários benefícios para quem utiliza. Além da praticidade e de ficar com as mãos livres, estimula a relação mãe e bebê, conforta e dá segurança. Desse produto foram surgindo outros, produção própria ou que Raquel pegou a representação, e agora ela trabalha com uma linha para bebês.

A família apoiou a decisão, os amigos também, mas até hoje Raquel recebe sugestões de vagas de emprego e indicações para prestar concurso público. Ela leva numa boa, pois entende que uma mudança brusca de carreira como a dela é pouco convencional, mas está feliz com a decisão. Fraldas ecológicas, aromaterapia, educação positiva: tudo foi aprendido após a chegada da filha, e vai ser reproduzido no próximo bebê, que está a caminho.

— Não me vejo mais vendendo medicamentos, me encontrei nas terapias alternativas. Tenho buscado desenvolver minha inteligência emocional, para lidar de um forma melhor e educar com respeito, e para isso é preciso tempo. Cada um faz do jeito que sabe, eu busquei conhecimento para fazer diferente — pontua.

Na internet, negócios e rede de apoio

A plataforma de vendas é a internet, onde Raquel encontra não somente clientes, mas também mulheres com histórias parecidas com a dela. Dessa interação surgiu o grupo Cria na Roda, que reúne dez mães empreendedoras e se tornou uma rede de apoio. Uma ajuda a outra, divulga o trabalho, e juntas elas promovem feiras periódicas em Criciúma, Tubarão, e Capivari de Baixo.

— Uma compra da outra, estimula, dá uma palavra de conforto quando o negócio vai mal. A gente se entende, tem empatia, e todas encontraram novos rumos profissionais com a chegada dos filhos — conta.

Os problemas, como em qualquer negócio, também fazem parte. A maior dificuldade é determinar horários para tratar de trabalho, filhos, afazeres da casa e laser. A carga horária se mistura, as tarefas também, mas a oportunidade de ver de perto o crescimento da filha vale qualquer esforço.


— O objetivo é a criação com apego, e um dos motivos para ficar em casa é ter mais tempo para passar esses ensinamentos — defende.

Fonte: NSC TOTAL