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Feminicídios dobram nos dois primeiros meses em Santa Catarina

Feminicídos já são duas vezes mais frequentes neste início de ano em Santa Catarina se comparados com o mesmo período do ano passado. A média é de pelo menos um caso por semana. Dez mulheres foram assassinadas entre janeiro e o último dia 25 de fevereiro, contra cinco mortes registradas no mesmo intervalo de 2018.

Episódios de violência ocorridos nos últimos dias por pouco não deixaram o quadro atual ainda mais crítico. Em Blumenau, no domingo, um homem apontou um revólver para a companheira e apertou o gatilho por quatro vezes, mas a mulher foi salva porque a arma falhou.

Na madrugada de segunda-feira, em Navegantes, outra mulher chegou a ser atingida por três tiros. Ela sobreviveu. O suspeito de fazer os disparos acabou morto instantes depois, em confronto com a polícia.

Autoridades reconhecem que os índices de feminicídios — definição usada para os assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero — de 2019 são motivo de preocupação. Caso o ritmo seja mantido, o Estado poderia terminar o ano com até 60 mulheres assassinadas — ano passado encerrou com 42 feminicídios.

Em entrevista ao DC, a delegada coordenadora das DPs especializadas, Patrícia Zimmerman, alerta que a maioria das vítimas recentes não formalizou queixa contra os companheiros por agressões anteriores. Quando há notificação, diz a delegada, aumentam as chances de as autoridades agirem antes de as circunstâncias serem trágicas.






Entrevista
Delegada Patrícia Zimmerman, coordenadora das DPs especializadas em SC

É uma estatística que nos preocupa

Como a polícia analisa as estatísticas de feminicídios nesse início de ano?

— É uma estatística que nos preocupa. É um índice real de violência contra a mulher. Em todos os outros crimes, existe a possibilidade de sub-notificação. No feminicídio, não. Existe a possibilidade de reverter, de fecharmos o ano com um número abaixo do ano anterior, porque a gente vem numa decrescente. Mas qualquer nível de aumento, como ocorre em janeiro e fevereiro, a gente fica em alerta. É uma situação que nos preocupa, que observamos com bastante cautela.

A autoria dos crimes parte de pessoas muito próximas das vítimas. O que mais há em comum nesses feminicídios?

— O que há em comum é aquela relação relação íntima, de afeto anterior. Ou seja, era uma relação de amor, de afeto, que vira um crime de ódio, um crime contra a vida. Em todos os casos anteriores, nós não tínhamos boletim de ocorrência próximo à data do fato, anterior ao feminicídio. A vítima muitas vezes perdoa o seu agressor. É uma situação bastante alarmante. Por isso que a gente pede às mulheres que procurem a delegacia, façam o registro de ocorrência, não desistam de buscar o que é seu de direito, busquem o respeito à sua integridade física, psicológica, não aceitem falsas promessas.

O que está por trás dessa baixa procura das vítimas de agressão?

— Eu vejo isso até como uma questão cultural. Algumas mulheres realmente têm medo, mas outras acreditam que o agressor vai melhorar, que vai interromper o ciclo da violência. É muito comum nessa situação a mulher, em um primeiro momento, se culpar pela violência que ela sofre, se responsabilizar pela violência, e tentar mudar essa questão. Nós temos visto resultados muito positivos com grupo de autores de violência doméstica familiar, que estão sendo atendidos pelos projetos que a Polícia Civil presta por elas. Porque nesse espaço de fala nós trabalhamos a questão emocional dos agressores, e aí a gente começa a ver uma mudança de comportamento.

Qual é a condição da Polícia Civil de receber as mulheres vítimas de violência e de dar andamento à investigação dos crimes?


— As delegacias contam com delegado, agentes, psicólogo, escrivães. Claro que, se nós pudermos ter um efetivo cada vez melhor, isto vai facilitar porque o pessoal tem trabalhado abaixo do quantitativo que nós gostaríamos. Mas as delegacias têm recebido treinamento, capacitação. Agora estamos formatando os novos treinamentos para 2019, para chamar os policiais com atenção ao olhar de gênero na investigação. O programa "Polícia Civil Por Elas" nós estamos expandindo para o Estado inteiro. A ideia é que cada uma das Delegacias da Mulher tenha tanto formações com rodas de conversas, grupo de atenção às mulheres vítimas de violência. Ações de empoderamento, como foi o Projeto "Espelho Meu" em São José, com grupos de homens autores de violência doméstica familiar, e o "PC por Elas nas Escolas", que é um projeto novo que queremos trabalhar essa questão com as crianças.

Fonte: Diário Catarinense