A realidade
Dipson e Blunel estão na região há 3 anos, mas em realidades diferentes. Blunel veio para o país com emprego garantido, conseguia enviar dinheiro para a família e se manter, mas hoje, desempregado, passa por dificuldades e enfrenta ainda a falta de oportunidades. “Tem vagas de emprego nas empresas, mas agora dizem que não mais para haitianos. Está difícil a situação”. Fala no português que aprendeu convivendo com os brasileiros. Dipson é o que se expressa melhor, ele ainda está empregado, mas tem a responsabilidade por mais quatro haitianos que moram com ele. “Pago o aluguel, de R$ 400,00, mando dinheiro para minha família e ainda ajuda na alimentação de todos. Tem dias que comemos e outros não”. Revela.
Junior, que está há menos tempo no Brasil, não fala a nossa língua e tem dificuldades para se comunicar nas questões mais básicas.
Todos revelam que no país de origem deixaram suas famílias e lutam para enviar o sustento para lá. Isso, foi o que não conseguiu um dos amigos. ” Ele estava há 6 meses sem emprego, com os filhos passando necessidades lá, com fome. Ai não conseguiu mais”. Comenta Dipson, enquanto faz o gesto no pescoço que fez o amigo tirar a própria vida no último final de semana em Joaçaba.
Além da fome, nos últimos dias eles tem sofrido com o frio, um clima completamente diferente do que tem em seu país de origem. ” Se não fosse pelo trabalho a gente permanecia no Haiti, lá não tem esse frio, é sempre quente. Aqui passamos frio”. Revela Dipson. Esse frio é ainda mais forte pra eles por que a maioria dorme em colchões nos chãos das casas e tem poucos cobertores e roupas.
Mesmo diante de tantas dificuldades os haitianos dizem não ter vontade de voltar para o país, pois ainda acreditam que o Brasil reúne melhores condições para que possam trabalhar e ajudar os familiares. “O Brasil é muito bom com os haitianos, ajudam muito a gente. Não queremos voltar por enquanto, vamos continuar buscando trabalho. É só isso que queremos, trabalhar”. Comenta Blundel.
Problema social preocupante
De acordo com o Centro de Referência em Assistência Social de Joaçaba (CRAS), a situação é preocupante. “Muitos trabalham, porém, como vieram com o intuito de ajudar a família que ficou no Haiti, mandam quase tudo o que ganham para lá e por isso ficam o mínimo para viver. Tem também os que estão desempregados, porque não se adaptaram ou porque foram demitidos. Ou seja, a grande maioria vive em situações precárias muitas vezes sem ter nem o que comer”. Explicou Sandrine Pizoni, gerente do CRAS.
Atualmente o CRAS está atendendo 53 desses imigrantes, com cestas básicas e outras doações vindas de campanhas e 70 deles, moradores tanto de Joaçaba como Herval d’ Oeste, também recebem doações do Centro Espírita Obreiros da Luz, mas, isso não está sendo suficiente.
“A demanda é cada vez maior. Além dos de Joaçaba, tem os que moram em Herval d’ Oeste e vem pedir ajuda aqui, sendo que devem receber atendimento no seu município. Não negamos a ajuda, mas isso dificulta, uma vez que cabe a cada cidade com seu setor social prestar apoio. Sem falar, que temos um número limitado de cestas básicas e também dependemos da colaboração das pessoas para nos repassarem doações”. Afirmou Sandrine.
Com o objetivo de melhorar a situação, uma reunião com CRAS de Joaçaba, assistente social de Herval d’ Oeste e os haitianos, está marcada para o próximo dia 25. O objetivo será organizar as formas de ajuda por município e tentar achar soluções em conjunto.
Campanha para arrecadação de alimentos
Se a alta demanda atrapalha o setor de assistência social, que nem sempre consegue dar toda a ajuda necessária, o preconceito para com o povo haitiano também é um empecilho.
“Tem pessoas que acham que porque eles vieram de outro país, não precisam ou ainda não merecem ajuda. Já presenciamos cenas de discriminação, com pessoas reclamando do fato dos haitianos também receberem doações, como se eles estivessem tirando a vez de quem mora aqui. Mas, eles também tem direito”. Afirmou Sandrine.
E é tentando mudar esse pensamento que o CRAS continua pedindo para que quem puder colabore doando roupas e cobertores e principalmente alimentos para serem entregues aos imigrantes haitianos. Mais informações de como ajudar podem ser solicitadas no telefone do CRAS: 3522-4548
Fonte: Portal Éder Luiz.