Videira dá adeus hoje a mais um de seus pioneiros. Morreu nesta tarde o dentista aposentado Ivo Szygalski, popularmente conhecido como Chigalésqui, aos 87 anos. Ele manteve em funcionamento seu consultório na cidade por mais de 50 anos e, aqui neste chão, se envolveu em entidades, clubes de serviço e na política. O velório está acontecendo no pavilhão do bairro Farroupilha, onde amanhã haverá missa de corpo presente, às 15 horas. Após, ele será cremado na cidade de Caçador. à família, nossos sentimentos.
História de Ivo Szygalski: De marceneiro a dentista
O dom de permanecer na mesma atividade durante tanto tempo é que acaba-se conhecendo as pessoas, suas famílias e sabendo um pouco do cotidiano em que se está inserido. Assim acontece com o dentista Ivo Szygalski, 77 anos, que voltou para Videira em 1953 para abrir seu consultório, depois de ter estudado e trabalhado na capital paranaense. Mesmo depois de 50 anos ele ainda está na atividade e, cada cliente que senta na sua cadeira odontológica faz com que ele remonte a um tempo que não volta mais e lembre de peculiaridades precisas sobre as pessoas que formam sua família.
Terceiro de uma família de quatro filhos, cujo patriarca Alberto foi um dos primeiros maquinistas a trabalhar na estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, nesta região, Ivo nasceu em 1927, na então Perdizes. Passou a infância vendo o progresso chegar pelos trilhos do trem, enquanto ajudava a família no cultivo de milho e na criação de gado. Ainda hoje as glebas de terra estão no seu espório e ele se orgulha de poder ter acompanhado a evolução da cidade, que prosperou de forma significativa pela força e determinação da sua gente.
Este aliás, é um dos orgulhos do dentista. "Gostaria que as pessoas de todas as partes fossem como os videirenses. Seja na sua postura ou na força para o trabalho. São pessoas vigorosas e muito honestas", enfatiza. Ele começou a estudar e concluiu o Curso Complementar no Adelina Régis e fez parte da última turma desta grade curricular. Depois foi para Ponta Grossa, fazer a escola técnica de desenho e marcenaria, buscando uma colocação no mercado de trabalho. Pela ligação da família com a Rede Ferroviária, depois de formado, em 1946, foi trabalhar na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina.
Em Curitiba, seu serviço consistia em reformar os vagões de passageiros da primeira e segunda classes. Ele conta que havia uma diferença substancial entre ambas as categorias. "Na primeira, os bancos eram estofados, com encostos melhores. Além disso, os sanitários eram diferentes, assim como outros detalhes". Já na segunda classe, simplicidade era evidente. "Não devíamos permitir estas diferenciações entre as pessoas. Mas a cultura levava para este caminho", acredita.
Ao mesmo tempo em que trabalhava até 20 horas por dia nas reformas, ele conseguiu estudar Odontologia, na Universidade Federal do Paraná(UFPR) e formou-se dentista em 1953. "Foi um tempo de muito trabalho, muita disposição para conseguir conciliar as duas atividades. Mas eu era jovem, tinha força para trabalhar e consegui alcançar o meu objetivo". Com o diploma na mão, Ivo decidiu que voltaria para Videira. A escolha levou em consideração dois pontos fundamentais: a presença da família na cidade e o mercado, que pedia mais profissionais nesta área.
Ele lembra que voltou em 1953, quando havia dois dentistas práticos e dois profissionais. "Eu sabia que a cidade comportava mais uma pessoa para trabalhar, por isso voltei", justifica. Um dos seus focos era o atendimento aos moradores do interior, que segundo ele, penavam bastante pela falta de atendimento odontológico. "Essas pessoas não tinham muito acesso e acabavam sofrendo bastante com dores de dente. Acho que ajudei muita gente a viver melhor, com o meu trabalho".
Além dele, atendiam os dentistas Abel Viana e Olívio Doré. Um dos práticos era o ex-prefeito Paulo Fioravante Penso. Neste tempo, a cidade estava desabrochando, mas carecia com a falta de infraestrutura. "Não haviam ruas calçadas e a energia elétrica era precária. Depois, com o passar do tempo essas coisas foram se ajeitando e a cidade rumou para o progresso". Ele reconhece também a importância das empresas Perdigão neste ciclo desenvolvimentista.
"A empresa teve um papel fundamental, assim como os acionistas que colocaram nela suas economia", enfatiza, lembrando de um tempo em que a cidade foi convocada a ajudar na sua expansão. "O Saul Brandalise foi um homem importante para este município. Não fosse a sua visão empreendedora, certamente estaríamos em outra situação, hoje", reconhece. O seu primeiro consultório ficava na então rua do Comércio e serviu de alavanca para que ele, cerca de cinco anos depois da sua chegada por aqui, construísse um prédio para abriga-lo.
"Muita gente já sentou na minha cadeira. E a gente acaba conhecendo elas, por causa do convívio. Me sinto privilegiado por isso", justifica ele, que ainda trabalha no ofício e tem clientela fiel. Apesar da modernidade que envolve o setor odontológico, Ivo lembra de um tempo em que o atendimento tinha que ser feito com os recursos disponíveis. "As cadeiras eram comuns, os procedimentos mais rústicos, mas serviam para acalmar a dor e tratar daqueles que precisavam".
Envolvimento Político
Szygalski não tem a pronúncia "Chigalesqui", apesar de a grande maioria das pessoas se referirem a ele desta forma. É uma variação imprópria, mas que facilita na leitura do sobrenome. "Me acostumei com as pessoas me chamando assim. Hoje elas estranham quando sabem do correto". Assim como o sobrenome é conhecido, a participação de Ivo na vida política da cidade também se torna evidente.
Democrata fervoroso, começou a militar no PTB, anos antes do Golpe de 64, que acabou provocando a sua saída do partido. "Nós queríamos a democracia não o autoritarismo", justifica. Foi um dos primeiros integrantes do MDB catarinense e participou da fundação do partido, que mais tarde se tornaria PMDB, em Videira. Candidato a prefeito em 1972, na sua única incursão pela política, não conseguiu se eleger, perdendo para Írio Zardo. "Fui para ajudar meus companheiros, nós sabíamos que seria uma eleição difícil", explica. Naquele tempo, segundo ele, não havia tanta rivalidade partidária e as pessoas, apesar de estarem em pontos extremos, eram companheiras.
O acompanhamento da política sempre foi uma constante em sua vida. Ele orgulha-se de ter sido conselheiro, em muitas situações. "A gente sempre era consultado e isso também é uma forma de reconhecimento". Reconhecimento que ele percebe também no tratamento que recebe das pessoas.
"Como conheço muita gente, sempre tem uma ligação com os videirenses. Essa é a retribuição pela minha vida que foi dedicada ao trabalho. Me orgulho de poder estar inserido nesta comunidade, com pessoas tão trabalhadoras, honestas e cuja estampa se identifica de forma bastante fácil", finaliza.
Foto: Edelcio Lopes
Fonte/Autor: Edelcio Lopes
História de Ivo Szygalski: De marceneiro a dentista
O dom de permanecer na mesma atividade durante tanto tempo é que acaba-se conhecendo as pessoas, suas famílias e sabendo um pouco do cotidiano em que se está inserido. Assim acontece com o dentista Ivo Szygalski, 77 anos, que voltou para Videira em 1953 para abrir seu consultório, depois de ter estudado e trabalhado na capital paranaense. Mesmo depois de 50 anos ele ainda está na atividade e, cada cliente que senta na sua cadeira odontológica faz com que ele remonte a um tempo que não volta mais e lembre de peculiaridades precisas sobre as pessoas que formam sua família.
Terceiro de uma família de quatro filhos, cujo patriarca Alberto foi um dos primeiros maquinistas a trabalhar na estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, nesta região, Ivo nasceu em 1927, na então Perdizes. Passou a infância vendo o progresso chegar pelos trilhos do trem, enquanto ajudava a família no cultivo de milho e na criação de gado. Ainda hoje as glebas de terra estão no seu espório e ele se orgulha de poder ter acompanhado a evolução da cidade, que prosperou de forma significativa pela força e determinação da sua gente.
Este aliás, é um dos orgulhos do dentista. "Gostaria que as pessoas de todas as partes fossem como os videirenses. Seja na sua postura ou na força para o trabalho. São pessoas vigorosas e muito honestas", enfatiza. Ele começou a estudar e concluiu o Curso Complementar no Adelina Régis e fez parte da última turma desta grade curricular. Depois foi para Ponta Grossa, fazer a escola técnica de desenho e marcenaria, buscando uma colocação no mercado de trabalho. Pela ligação da família com a Rede Ferroviária, depois de formado, em 1946, foi trabalhar na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina.
Em Curitiba, seu serviço consistia em reformar os vagões de passageiros da primeira e segunda classes. Ele conta que havia uma diferença substancial entre ambas as categorias. "Na primeira, os bancos eram estofados, com encostos melhores. Além disso, os sanitários eram diferentes, assim como outros detalhes". Já na segunda classe, simplicidade era evidente. "Não devíamos permitir estas diferenciações entre as pessoas. Mas a cultura levava para este caminho", acredita.
Ao mesmo tempo em que trabalhava até 20 horas por dia nas reformas, ele conseguiu estudar Odontologia, na Universidade Federal do Paraná(UFPR) e formou-se dentista em 1953. "Foi um tempo de muito trabalho, muita disposição para conseguir conciliar as duas atividades. Mas eu era jovem, tinha força para trabalhar e consegui alcançar o meu objetivo". Com o diploma na mão, Ivo decidiu que voltaria para Videira. A escolha levou em consideração dois pontos fundamentais: a presença da família na cidade e o mercado, que pedia mais profissionais nesta área.
Ele lembra que voltou em 1953, quando havia dois dentistas práticos e dois profissionais. "Eu sabia que a cidade comportava mais uma pessoa para trabalhar, por isso voltei", justifica. Um dos seus focos era o atendimento aos moradores do interior, que segundo ele, penavam bastante pela falta de atendimento odontológico. "Essas pessoas não tinham muito acesso e acabavam sofrendo bastante com dores de dente. Acho que ajudei muita gente a viver melhor, com o meu trabalho".
Além dele, atendiam os dentistas Abel Viana e Olívio Doré. Um dos práticos era o ex-prefeito Paulo Fioravante Penso. Neste tempo, a cidade estava desabrochando, mas carecia com a falta de infraestrutura. "Não haviam ruas calçadas e a energia elétrica era precária. Depois, com o passar do tempo essas coisas foram se ajeitando e a cidade rumou para o progresso". Ele reconhece também a importância das empresas Perdigão neste ciclo desenvolvimentista.
"A empresa teve um papel fundamental, assim como os acionistas que colocaram nela suas economia", enfatiza, lembrando de um tempo em que a cidade foi convocada a ajudar na sua expansão. "O Saul Brandalise foi um homem importante para este município. Não fosse a sua visão empreendedora, certamente estaríamos em outra situação, hoje", reconhece. O seu primeiro consultório ficava na então rua do Comércio e serviu de alavanca para que ele, cerca de cinco anos depois da sua chegada por aqui, construísse um prédio para abriga-lo.
"Muita gente já sentou na minha cadeira. E a gente acaba conhecendo elas, por causa do convívio. Me sinto privilegiado por isso", justifica ele, que ainda trabalha no ofício e tem clientela fiel. Apesar da modernidade que envolve o setor odontológico, Ivo lembra de um tempo em que o atendimento tinha que ser feito com os recursos disponíveis. "As cadeiras eram comuns, os procedimentos mais rústicos, mas serviam para acalmar a dor e tratar daqueles que precisavam".
Envolvimento Político
Szygalski não tem a pronúncia "Chigalesqui", apesar de a grande maioria das pessoas se referirem a ele desta forma. É uma variação imprópria, mas que facilita na leitura do sobrenome. "Me acostumei com as pessoas me chamando assim. Hoje elas estranham quando sabem do correto". Assim como o sobrenome é conhecido, a participação de Ivo na vida política da cidade também se torna evidente.
Democrata fervoroso, começou a militar no PTB, anos antes do Golpe de 64, que acabou provocando a sua saída do partido. "Nós queríamos a democracia não o autoritarismo", justifica. Foi um dos primeiros integrantes do MDB catarinense e participou da fundação do partido, que mais tarde se tornaria PMDB, em Videira. Candidato a prefeito em 1972, na sua única incursão pela política, não conseguiu se eleger, perdendo para Írio Zardo. "Fui para ajudar meus companheiros, nós sabíamos que seria uma eleição difícil", explica. Naquele tempo, segundo ele, não havia tanta rivalidade partidária e as pessoas, apesar de estarem em pontos extremos, eram companheiras.
O acompanhamento da política sempre foi uma constante em sua vida. Ele orgulha-se de ter sido conselheiro, em muitas situações. "A gente sempre era consultado e isso também é uma forma de reconhecimento". Reconhecimento que ele percebe também no tratamento que recebe das pessoas.
"Como conheço muita gente, sempre tem uma ligação com os videirenses. Essa é a retribuição pela minha vida que foi dedicada ao trabalho. Me orgulho de poder estar inserido nesta comunidade, com pessoas tão trabalhadoras, honestas e cuja estampa se identifica de forma bastante fácil", finaliza.
Foto: Edelcio Lopes
Fonte/Autor: Edelcio Lopes