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Joaçaba receberá renomado artista gaúcho

Miro Saldanha trará o melhor da cultura gaúcha em um show dinâmico e animado. O espetáculo promete encantar os apreciadores da boa música de idades diversificadas.


Joaçaba receberá no Teatro Alfredo Sigwalt no dia 23 de maio, um dos mais respeitados artistas tradicionalistas do Rio Grande do Sul. Com cinco discos gravados e sucessos como “Pilares”, o artista natural de São Gabriel reforça em suas canções, valores de amor e família, com letras que inspiram reflexão a bons costumes.

Confira a entrevista que o jornalista Pablo Casarino fez com o artista que fala sobre suas inspirações, o mecanismo usado nas composições e os temas mais recorrente nas suas canções.

Quais são suas maiores influências e o que 
te estimulou a enveredar pelo caminho da música? 

Meu gosto pela música se manifestou cedo, lá pelos oito anos de idade, inicialmente tocando música gaúcha ao acordeom. Depois, me desgostei um pouco com o comercialismo excessivo e a carência de conteúdo criada pelo perfil machista do super-herói de bombacha. Isso me levou a buscar outras fontes, na música

Com o surgimento do movimento nativista, inicialmente nas Califórnias, houve uma retomada do conteúdo poético, com boas letras e melodias melhor elaboradas. Isso fez com que eu voltasse a me interessar pela música gaúcha, trazendo no meu jeito de compor um pouco da musicalidade que vivenciei nessas outras vertentes. Mas só decidi gravar a partir de 2004, estimulado por meu primo e parceiro de dupla, portanto sou um “velho novo” no meio musical. 

Quantos CD’S foram lançados até hoje? 

Tenho cinco discos lançados, um em dupla e quatro solo. Dessas sessenta músicas gravadas, apenas uma letra não é minha.

Quais são as suas inspirações no momento de compor e como funciona esse processo? 

Isso tem despertado bastante curiosidade. As pessoas perguntam o que me teria levado a escrever sobre este ou aquele assunto e os radialistas recorrem a mim. Por isso disponibilizei uma aba no meu site http://www.mirosaldanha.mus.br com 
o título CONTEÚDO DAS LETRAS. 

Voltando à pergunta, esse processo é, na maioria das vezes, involuntário, a não ser quando me pedem para escrever sobre um determinado tema, ou eu mesmo resolvo fazê-lo. Mas gosto mais de compor livremente. 

As melodias vêm e vão da cabeça da gente, e muita coisa se perde, desaparece antes que seja gravada ou mesmo memorizada. Mas logo vem outra e mais outra. As que são mais fortes e que a gente acha mais bonitas, ficam. Assim é também com frases impactantes, às vezes trechos inteiros de letras. Mas quando eu pego o violão, normalmente o que surge primeiro é uma melodia. Se eu gostar, vou balbuciando alguma frase que me vem na hora e aí começa o processo. Depois fica girando na cabeça e isso às vezes me incomoda, porque não para enquanto eu não concluo. Às vezes me tira até o sono.

Qual o tema mais recorrente em suas canções? 

Isso varia muito, mas acho que é a vida. Às vezes uma frase rimada me surge e eu busco em que tema ela se encaixaria. Ou o tema vem de alguma coisa que vejo no dia-a-dia. Canto o campo e a cidade numa linguagem que todos entendam, porque conheço a realidade dos dois.
Procuro poetizar essa realidade, sem alienações ou fantasias demasiadas. Acho que, mesmo para um gaúcho, nem tudo é rodeio, baile e cavalo. A realidade às vezes é bonita e às vezes cruel. Também gosto de temas sociais, por isso, em cada disco, procuro incluir alguns temas que cumpram, além da função precípua do entretenimento, alguma função social.

Algo que eu possa contribuir para mudar. Para que o disco não fique pesado, alterno esses temas mais profundos com temas leves, como a infância, a natureza, os bailes, por exemplo. São todos temas comuns, o que muda é a forma de abordagem. A forma de cantar o amor, por exemplo, pode ir do sublime ao vulgar. Mas posso dizer que, de um modo geral, meu tema preferido é a vida, rica e infinita como ela é.

Qual a música que você diria 
que mais marcou seu trabalho? 

Sem dúvida, foi a música Pilares. Foi gravada em 2007, no meu primeiro disco solo, e até hoje é, de longe, minha música mais conhecida. É uma música simples, com um tema igualmente simples, mas normalmente tenho de cantá-la duas vezes em cada show. 

Muita gente conhece a música e não me conhece. Fico contente com isso, porque acho que, em qualquer ramo da arte, a obra é mais importante que o artista. Bonitos ou feios, galãs ou não, nós somos finitos, ao passo que a obra pode se eternizar. 

O escultor Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, era uma aberração sob o ponto de vista físico, mas nos deixou um legado cultural de valor inestimável, que atravessou o tempo dele e vai atravessar o nosso. A obra musical é ainda mais difícil de se manter, porque não está disponível à visão, nem ao tato, nem ao paladar e nem ao olfato. Resta-lhe apenas a audição como porta para chegar à alma.

E qual é o tema da música Pilares? 

A realidade vivenciada pela sociedade atual, vista e descrita na linguagem simples do homem do campo. É uma espécie de oração dita por um pai, humilde e rude, dessas pessoas cuja formação religiosa não vai além de um Pai Nosso e de uma Ave Maria ensinados pela mãe, lá na infância. 

Ao mudar para a cidade para dar estudo aos filhos, ele se depara com a dura realidade das drogas, da prostituição, do roubo e da deterioração dos valores que aprendeu e ensinou. Aflito, ele entra pela primeira vez em uma igreja, em busca de amparo. O resto a letra diz. 

Qual o tipo de público que está 
mais presente nos seus shows? 

Meu público é muito especial, feito de pessoas especiais, capazes de ouvir com a alma. A maioria é constituída de pais, mães e até avós de família, educadores, religiosos, comunicadores, palestrantes, enfim, gente que não concorda com os perigosos rumos que a sociedade vem tomando e que se identifica com alguns dos meus temas. Mas também há pessoas que simplesmente buscam a boa música. E aos poucos gente mais jovem, também.

Qual a maior dificuldade em se 
fazer música regional hoje no país? 

Se tratarmos da música regional inserida no contexto nacional, como a pergunta pede, a dificuldade não está em fazê-la, mas sim em fazer com que seja sucesso. Infelizmente nosso país não valoriza a cultura, como é sabido, e o que nasce regional morre regional. 

O Estado brasileiro não divulga, não investe, não financia e não cria espaços culturais adequados. Nem todos podem se orgulhar de ter um teatro Alfredo Sigwalt. A consequência desse descaso é uma “incultura”, uma espécie de cultura ao inverso, caracterizada pelo hábito de conviver com a música associada a finalidades comerciais, e não divulgada como arte. A única exceção é a música erudita. Nos demais casos, a música sempre aparece como coadjuvante, nunca como protagonista. 

A prática comum entre os organizadores de eventos é, na maioria das vezes, organizar um evento gastronômico qualquer, onde as pessoas vão para comer e conversar, e a música é apenas um fundo, mais percebido pela falta do que pela existência. Ou um baile, onde as pessoas pagam para dançar, conversar, namorar e consumir, mas onde a música só está porque é um complemento necessário. Além de todos esses fatores, no caso específico da música do Rio Grande do Sul há uma confusão de sentimentos cívicos de cunho histórico, que geram uma forte tendência a não nacionalizar o que é feito lá.

Existe algum ritual que é feito antes de entrar no palco? 

Não. Normalmente se cria uma atmosfera de tranquilidade, porque a gente sabe o que tem para oferecer e o público sabe o que esperar. 

O senhor poderia deixar um 
recado para seus fãs de Joaçaba? 

Não especificamente um recado, mas um agradecimento pelo prestígio ao que faço com humildade mas com alma. Não se vai a lugar algum sem o apreço do público, por isso agradeço sinceramente às pessoas cuja sensibilidade é diferenciada, capazes de captar o sentimento que coloco naquilo que escrevo e canto. 

Fica uma pergunta: Que seria dos que cantam com o coração, se não fosse os que com ele ouvem? Fica também um convite para que compareçam ao teatro Alfredo Sigwalt no dia 23 de maio próximo e nos prestigiem com a sua presença, seu aplauso e seu incentivo. Desde já agradeço.


Assista o vídeo da música Pilares:

Fonte: ederluiz.com