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Área urbana de Joaçaba preserva tesouros da fauna local

Pesquisadores estão levantando a quantidade de 
espécies existentes e estudam meio de preservá-las

Equipe fotografou exemplares da fauna, como rãs, cobra
coral e lagarto. Na galeria os pesquisadores em campo.
Os fragmentos de matas nativas que resistiram à urbanização de Joaçaba preservam áreas remanescentes da Mata Atlântica e abrigam diversas espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios, aranhas, escorpiões e insetos. 
Preservar esse tesouro na área urbana da cidade é um desafio que tem motivado os professores do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Manter toda essa biodiversidade intacta é complexo porque além de conscientizar a população de que a fauna precisa ser preservada, a permanência desses animais depende da manutenção das áreas de matas, que sofrem com a pressão demográfica da cidade. 

As primeiras pesquisas para identificar as espécies que habitam os fragmentos florestais de Joaçaba foram feitas a partir de 2011 por alunos que desenvolvem o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Faculdade de Ciências Biológicas da Unoesc. As pesquisas indicaram a presença de 26 espécies de mamíferos nas matas de área urbana, sendo cinco voadoras (morcegos), enquanto que no Parque Municipal do Rio do Peixe foram catalogadas 21 espécies. 

A professora Fernanda Maurer D’Agostini, uma das coordenadoras das pesquisas, explica que a presença de maior número de mamíferos nos fragmentos de área urbana ocorre devido à presença abundante de alimentos. Mas não são só mamíferos que habitam por aqui, os pesquisadores já identificaram 16 espécies de anfíbios (rãs, sapos e pererecas), oito de répteis, sendo três espécies de lagartos e cinco de serpentes (cobras), além de diversas espécies de aves. Só na área de mata entre o Campus I e o Campus II da Unoesc foram encontradas 14 espécies de anfíbios, número considerado razoável devido a extensão da área. No Parque Municipal já foram encontradas 51 espécies de anfíbios. Como as aves são mais dispersas, é difícil precisar o número exato de espécies que vivem nas matas da cidade, mas um levantamento feito pelos alunos e professores da Unoesc apontou a existência de 123 espécies no Parque Municipal do Rio do Peixe, sendo que destas, muitas podem ocupar a área urbana também. Nos remanescentes de florestas que subsistem à urbanização é possível encontrar espécies mais exóticas, como rã touro. Entre os mamíferos silvestres são encontrados quatis, cotias, capivaras, gambás, macacos-prego, pequenos roedores, entre outros. Já entre as aves, há a presença de tucanos, jacus e sabiás laranjeiras. 

O comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental de Herval d’Oeste, Tenente Tatiano Cabral Broering, explica que os fragmentos de Mata Atlântica existentes aqui abrigam espécies ameaçadas de extinção, dentre elas o papagaio do peito roxo. O positivo é que a multa para quem caçar ou apreender um animal ameaçado de extinção é alta. “O flagrante de um animal desse em cativeiro, a multa é de R$ 5 mil. Para os outros animais que não estão na lista de extinção, como o jacu, a multa é de R$ 500,00”, ressalta o comandante.

A professora Fernanda D’Agostini diz que primeiro os pesquisadores estão tentando conhecer as espécies que habitam as matas ao redor da cidade, em seguida monitorá-las e posteriormente estudar um plano de manejo para que esses animais sejam preservados. Mas ela já tem uma alternativa: trabalhar a educação ambiental com a comunidade. A professora ressalta que é preciso evitar dar alimentos para esses animais para que eles se afastem da área urbana e assim poderão ser preservados. A pesquisadora explica que o hábito de deixar lixos acumulados atrai ratos e em consequência deles, serpentes peçonhentas, podendo assim causar algum acidente na população ou até mesmo em animais domésticos. A recomendação é que o lixo não fique exposto, mas acondicionado em tonéis que evitem que os animais silvestres tenham acesso a esses alimentos. 

Salvar esses animais não é só uma questão de preservação, mas é fator de equilíbrio na natureza e um dos beneficiados é o próprio homem. A professora explica que espécies como lagartos, morcegos e sapos são importantes para evitar a proliferação de insetos, principalmente mosquitos. Corujas e gaviões ajudam a controlar a população de ratos. Sem essas aves, a população de ratos pode aumentar muito já que procriam até 10 vezes por ano e chegam a ter 20 filhotes a cada ninhada. 

Preservação 

A preservação desse tesouro não é tão fácil. Próximos da cidade, os animais sofrem com atropelamentos nas ruas e a ação de caças ilegais.

A ação de caça na região, segundo a Polícia Militar Ambiental, é alta, mas a corporação tem atuado para inibir essa prática. “A caça é extremamente proibida, não existe nada que dê legalidade para a caça. A única espécie que a própria Polícia Ambiental libera o abate é a do javali porque é uma espécie que foi introduzida aqui, não é da fauna brasileira”, afirma o comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental de Herval d’Oeste, Tenente Tatiano Cabral Broering.

Além da caça e dos atropelamentos que interferem na preservação das espécies, os animais podem ser contaminados com os poluentes proveniente dos rios e córregos que cortam a cidade. Pesquisas feitas pela Unoesc indicam a presença de algumas bactérias em animais que bebem ou vivem nesses rios. 

Uma das vantagens que os animais contam é que a área verde na parte urbana de Joaçaba é maior se comparada a de outros municípios. Segundo a professora do curso de Ciências Biológicas da Unoesc, Katiane Paula Bagatini, isso faz com que a fauna seja abundante por aqui. Conforme a professora, um dos motivos que levaram a cidade a manter extensas áreas verdes, inclusive nas proximidades do centro, é o relevo que impede a urbanização em terreno muito íngreme. Várias áreas possuem corredores que interligam umas às outras. Todo o processo de pesquisa é recente e por enquanto ainda não é possível saber quais são as áreas em que esses animais se deslocam. 

O gerente de desenvolvimento ambiental da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA) em Joaçaba, Sady Zago, afirma que essas áreas na região urbana de Joaçaba estão protegidas por serem de proteção permanente. A legislação obriga a preservação da área de topo de morro, margens de rios e terras com declividade de 30% ou 45 graus. O gerente destaca que a região possui mais de 50% de cobertura vegetal e que os remanescentes de matas nativas na área urbana de Joaçaba estão mapeadas pelo Plano Diretor do município.


Zago ressalta que a fiscalização é da Polícia Ambiental, da prefeitura e da própria FATMA. No entanto, o papel principal do órgão é conceder licenças ambientais para empreendimentos. Em áreas de preservação, as licenças não são concedidas. 






Fonte: Nei Pereira - Raízes Diário