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Terremoto: Geólogo confirma abalo sísmico em Brusque

Depois dos tremores presenciados pelos moradores do bairro Tomás Coelho, estudo mostra que houve falhas geológicas


"Vinha um tremor de baixo com um barulho forte, estranho. Parecia que a casa estava caindo", relembra a motorista de ônibus, Maristela Cordeiro Spader, 44 anos. Assim como ela, diversos moradores das ruas TC-011 e Angelo Lussoli, no bairro Tomás Coelho, em Brusque, sentiram o tremor de terra que ocorreu na segunda-feira, 23 de dezembro.

O geólogo Juarês José Aumond esteve no bairro no dia 28 de dezembro e realizou um estudo para detectar as causas. De acordo com ele, a área afetada corresponde a inúmeros cruzamentos de falhas geológicas de direções diferentes. "Ao que tudo indica o terremoto da linha Tomás Coelho resultou da liberação da energia acumulada nessas linhas de falhas", explica.

Ele ressalta que existem três categorias de terremoto e, pela localização e características, o que ocorreu em Brusque está associado à causa tectônica. "Como na cidade possui rochas muito antigas, o terremoto se deu após o contato entre duas delas", esclarece.

Devido aos tremores que ocorreram no bairro, algumas casas sofreram com rachaduras, com na casa de Maristela e também da costureira Rosana da Silva, 34. "Aqui percebemos que surgiu rachaduras no muro e também na garagem", conta Rosana. Ela e o marido construíram a casa há quatro anos e agora tem medo de novos tremores. "Foi muito forte o barulho. Coloquei a mão na janela e tremia tudo", relata a costureira.

A comerciante Erli Elizete Bauer Valle, 40, acordou-se com o barulho e achou que a casa estava desabando. Ao abrir o mercado, que fica embaixo da casa, horas mais tarde, percebeu que dois pares de chinelos estavam fora do lugar. "Foi muito rápido o tremor, mas aconteceram vários seguidos", conta.

A motorista de ônibus compara o terremoto com a passagem de caminhões pesados na estrada. "A sensação era essa, talvez um pouco mais forte. Já os barulhos eram como se alguém estivesse batendo a cabeça na parede", analisa.

Registros em escala

Na escala Mercalli-Sieberg, que varia entre um a 12, o geólogo confirma que o terremoto em Brusque atingiu um nível entre três e quatro. "Os abalos nessa escala são perceptíveis mesmo em residências de apenas um pavimento. Eles assemelham-se à trepidação produzida pela passagem de um veículo pesado", comenta.

A intensidade do terremoto é classificada de acordo com a percebida pelos sentidos e de acordo com o valor da aceleração do movimento vibratório das ondas produzidas pelo abalo sísmico. "Baseado nas informações coletadas junto aos moradores, é de supor que aceleração do movimento vibratório deve ter ficado entre dez e 15 mm/s², na medida em que, até paredes de madeira vibraram e rangeram", acrescenta o geólogo.

Cidade já teve terremotos passados

O geólogo Aumond revela que há notícias que antes da metade do século XIX, Brusque registrou um terremoto semelhante. "Esse, por sua vez, atingiu a parte central da cidade. Isso evidência que mesmo rochas muito antigas, ainda podem apresentar certa instabilidade e ajustes", diz.

Porém, Aumond garante que não é motivo para preocupação. "A propagação das ondas sísmicas, nesses casos, dificilmente provoca grandes estragos". Ele salienta que as pessoas que presenciaram o acontecimento, podem voltar a sentir esses abalos. "Mas pode ser que isso só volte a se repetir daqui a centenas de anos. É algo instável, porém não existem motivos para gerar medo entre as pessoas ou até mesmo abandonarem suas casas", afirma.

Segundo o geólogo, como no estado não houve mais nenhum registro de terremotos nos últimos anos, esse fato pode marcar a história da cidade. "Podemos sugerir que Brusque, além de ser conhecida turisticamente como o Berço da Fiação e da Fenarreco, pode também ser conhecida como a cidade catarinense dos terremotos", acredita.

Rochas

As rochas em que ocorreu o contato que resultou no terremoto foram: Suite Intrusiva Valsungana e Complexo Metamórfico Brusque. De acordo com o geólogo Juarês José Aumond, a primeira possui cerca de 600 milhões de anos de idade. "Quando alterada, nas condições de clima atual, é responsável pela formação das saibreiras, exploradas na região para macadame das estradas de Brusque", explica. O outro grupo de rochas, com mais de um bilhão de anos, constitui-se num cinturão de rochas que se distribui desde Itajaí até Vidal Ramos.

Categorias de terremotos

1 - Causados por explosões ou colapsos vulcânicos, hoje inexistentes no Brasil;

2 - Os ocasionados por desmoronamentos ou acomodação de camadas de rochas internas superficiais, que são de pequena intensidade e localizados;

3 - E, os de causas tectônicas, que provocam os grandes terremotos e estão em sua maioria associado às grandes cordilheiras como os Andes e os Alpes, ou a grandes falhas geológicas como as existentes na África.





Fonte: Miriany Farias/Jornal Município Mais